Agenda esvaziada

Em mais uma noite de agenda esvaziada, os ativos de risco ainda operam sem grandes movimentações esta manhã. As bolsas dos países desenvolvidos apresentam leve queda, com o USD um pouco mais fraco ao redor do mundo. Os mercados na Rússia estão operando mais estáveis nesta quarta-feira.

Brasil – Os jornais de hoje estão dando atenção especial ao pedido de demissão de Marta Suplicy do ministério da cultura. A forma como a demissão foi anunciada mostra os enormes desafios que Dilma irá encontrar neste segundo mandato, mesmo no entorno de sua base aliada. Ainda não há qualquer sinalização mais concreta em torno do nome para o ministério da fazenda.

Continuo vendo o USD no mundo como o maior beneficiário do atual cenário econômico global. Contudo, a posição técnica ruim desta classe de ativo pode levar a correções/acomodações pontuais, como estamos observando desde a divulgação dos dados de emprego nos EUA na sexta-feira passada. Estou começando a olhar alguns "seguros baratos" para a eventualidade de uma nova rodada de queda nos ativos de risco ao redor do mundo. As vols das bolsas americanas apresentaram forte queda nos últimos dias, com o nível de preço nos picos históricos. A despeito de um cenário estável, o risco/retorno de posições nesta linha me parece favorável (compra de vol, compra de puts). Finalmente, no Brasil, ainda vejo uma trajetória de deterioração dos ativos locais, que só será freada caso o nome para o ministério da fazenda atenda a requisitos de independência, seriedade e compromisso com as reformas necessárias na política econômica do país.

A terça-feira foi marcada pela iliquidez do feriado nos EUA. Sem uma agenda econômica relevante, os ativos de risco ficaram a mercê de fluxos pontuais e acabaram sofrendo um movimento de correção das tendências recentes. Neste ambiente, observamos um enfraquecimento do USD no mundo e uma alta nos preços das commodities. Os mercados de bonds e renda variável no mundo desenvolvido não apresentaram movimentações relevantes.

A despeito de eu não estar vendo nenhuma mudança de fundamentos que justifique uma alteração das tendências recentes, entendo que a posição técnica em algumas classes de ativos sofreu deterioração evidente nas últimas semanas, o que pode acabar gerando períodos pontuais de correção/acomodação. Contudo, na ausência de mudanças relevantes no cenário, estes movimentos tendem a ser rápidos e pouco acentuados.

Gostaria de chamar a atenção para os últimos acontecimentos na Rússia, que já começam a gerar efeitos colaterais na Ucrânia. O governo russo resolveu alterar sua postura no tocante ao câmbio, em uma tentativa, até agora frustrada, de conter um ataque especulativo na moeda local. O governo russo anunciou a intenção de tornar o Rublo (RUB) livre de intervenções programadas (free float). Assim, a moeda poderia buscar um patamar de equilíbrio mais rapidamente, e evitar rodadas mais agressivas de depreciação. O governo, contudo, ainda se coloca preparado para atuar no mercado cambial, sem data ou nível programado, caso julgue que rodadas adicionais de depreciação do RUB se mostrem excessivas. Além disso, o aperto monetário, via alta de juros e recolhimento de liquidez, surgem como instrumentos de combate a depreciação cambial. Na ausência de previsibilidade de sua atuação, o governo acredita que irá trazer maior incerteza ao mercado e evitar movimentos excessivos na moeda. Por hora, sua nova postura tem gerado uma volatilidade elevada e ainda não foi capaz de conter a espiral negativa na moeda.

Até o momento, o problema tem se mantido localizado, mas já gera uma pressão sobre a moeda da Ucrânia. Caso o governo perca o controle da situação, não podemos descartar o contágio para outros ativos de risco ao redor do mundo. A Rússia é uma economia relevante mundialmente e os investidores globais têm posições não desprezíveis no país. Precisamos manter uma atenção especial à situação no país.

Brasil – Na ausência de avanços concretos no cenário econômico, assim como na nomeação do ministro da fazenda, os ativos locais seguem uma dinâmica negativa. Além disso, o governo já encaminhou ao Senado uma proposta de revisão para as contas fiscais deste ano, em um claro reconhecimento de insucesso na condução das contas públicas do país. Os ativos locais já apresentam prêmios relevantes, o que pode acabar tornando o price-action ainda mais volátil. Contudo, mantenho minha visão de que o governo continua fazendo o mínimo possível para enfrentar os desafios da economia, muitas vezes fazendo “conta de chegada” ao invés de encarar os problemas de frente (como foi o caso do reajuste da gasolina). Caso o anúncio do ministro da fazenda não atenda as exigências de um nome sério, respeitado e independente, acredito que podemos continuar nesta espiral econômica negativa, que acabará sendo rapidamente precificada pelos mercados locais. 

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