Brasil, Europa e China

A sexta-feira, a despeito da agenda econômica esvaziada, foi agitada:

Brasil – A mídia e o mercado dão como certo o nome de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Nelson Barbosa deve assumir o Planejamento e Tombini permanecer no BCB. Acredito que o mercado hoje já precifica cerca de 80% deste cenário. A confirmação destes nomes pode ajudar a dar sustentação aos mercados locais no curto-prazo e, até mesmo, estimular mais uma rodada de apreciação dos ativos brasileiros.   Acredito que o nome de Levy é positivo, traz idoneidade e independência a política econômica. O mercado deve dar algum benefício da dúvida a está equipe no primeiro momento. Contudo, sou extremamente cético que este triunvirato terá carta branca para agir. Acredito que ajustes virão, mas serão sempre o mínimo necessário para estabilizar a situação econômica do país. A alta de 3% no preço da Gasolina (onde foi feita “conta de chegada” para a evitar que a inflação rompa o teto da meta) e a inflação rodando consistentemente no teto da meta, são exemplos claros de como o governo Dilma gosta de atuar, ou seja, sempre no limite de seus mandatos. Em um ambiente de fragilidade dos fundamentos locais, menor crescimento estrutural da China e normalização monetária nos EUA, a situação do país pode se apresentar mais desafiadora do que o governo imagina.

Europa – Mario Draghi proferiu hoje um dos seus discursos mais dovish e surpreendentes dos últimos tempos. Quando eu acho que não há mais espaço para surpresas positivas vindas do ECB, Draghi tem a imensa capacidade de dar um passo a frente. Diante de uma inflação cadente e um crescimento pífio, o ECB parece disposto e preparado para agir, no curto-prazo, com medidas adicionais de estímulo ao crescimento e a inflação. A sua postura deveria manter o EUR sobre pressão, as bolsas europeias bem sustentadas e os bonds europeus com suas taxas ainda bastante deprimidas.


China – O país anunciou um corte assimétrico em suas taxas de juros, além de mais um passo importante na liberalização do mercado local de juros (Banks can offer deposit rates at 20% above the benchmark rate, up from 10% currently). A medida é sem dúvida positiva, pois mostra um governo mais proativo e agressivo na condução de sua política monetária, fiscal e creditícia. Contudo, precisamos colocar a medida em perspectiva. O governo chinês vem colocando em pratica medidas pontuais e localizadas de suporte ao crescimento já a alguns meses mas, por hora, ainda não foi bem sucedido na estabilização do crescimento local. Além disso, mesmo após uma enxurrada de injeção de liquidez no mercado, ainda não viu um recuo expressivo das taxas de juros, e muito menos uma aceleração das concessões de crédito. A medida de hoje é uma clara reação aos fracos números de atividade de outubro, assim como ao aperto de liquidez verificada nos últimos dias. Assim, podemos concluir que a medida é, pura e simplesmente, uma reação a uma situação que se mostra mais desafiadora do que o esperado a algumas semanas atrás. O PBoC fez questão de frisar que o corte de juros de hoje não representa uma mudança de postura na condução de sua política monetária. Em suma, acredito que o acumulo de medidas que vem sendo colocadas em pratica possam sim ajudar a estabilizar o crescimento do país e, até mesmo, dar suporte pontual aos ativos que dependem da demanda chinesa. Contudo, ainda vejo um cenário extremamente desafiador para o país. O menor crescimento estrutural da China veio para ficar. As medidas serão necessárias para evitar novas rodadas de desaceleração da economia, mas não veremos uma aceleração rápida e acentuada do crescimento no horizonte relevante de tempo. Riscos pontuais no mercado imobiliário e de crédito ainda podem ressurgir nos próximos meses.

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