Fed Put, Interregno Benigno e Dólar Fraco.


O destaque do dia ficou por conta da decisão do Fed, que manteve as taxas de juros estáveis e sinalizou para uma pausa no processo de normalização monetária. O FOMC ainda sinalizou para um possível ajuste no seu processo de redução do balanço, em linha com um artigo do WSJ na semana passada.

Quero fazer aqui, uma vez mais, a diferenciação entre o curto-prazo e o longo-prazo.

No curto-prazo, a postura do Fed deverá manter o interregno benigno que tanto tenho insistido neste fórum, favorecendo ativos emergentes, um dólar fraco e ativos de risco em geral. Continuo vendo espaço para esses movimentos, que podem ser catapultados pelas sinalizações de hoje.

Contudo, vale ressaltar que parte desta sinalização já havia sido feito de maneira não oficial nas últimas semanas. Além disso, chamo a atenção para o primeiro parágrafo do comunicado do FOMC:

Information received since the Federal Open Market Committee met in December indicates that the labor market has continued to strengthen and that economic activity has been rising at a solid rate. Job gains have been strong, on average, in recent months, and the unemployment rate has remained low. Household spending has continued to grow strongly, while growth of business fixed investment has moderated from its rapid pace earlier last year. On a 12-month basis, both overall inflation and inflation for items other than food and energy remain near 2 percent. Although market-based measures of inflation compensation have moved lower in recent months, survey-based measures of longer-term inflation expectations are little changed.

Se eu lesse este parágrafo em separado do resto do comunicado, me parece a descrição de um cenário ainda consistente com um processo gradual de alta de juros e redução do balanço. Hoje mesmo, o ADP Employment apresentou alta de mais de 200 mil postos de trabalho no mês de janeiro, confirmando um mercado de trabalho robusto, um hiato do produto fechado e custos mais altos do trabalho.

Trago este debate pois me parece inconsistente uma mudança brusca de postura por parte do Fed, apesar de entender que há um respeito por parte do Fed com o movimento de mercado em dezembro. Assim, no longo-prazo, ou vejo uma desaceleração mais acentuada da economia, que leve o Fed a esta mudança de postura mais brusca, ou a manutenção de um ambiente mais apertado do mercado de trabalho, que demande ao banco central a manutenção de um processo de normalização monetária.

No curto-prazo, estamos em um ambiente aparentemente de “Goldilocks”, em que o crescimento ainda é saudável e a política monetária será mantida estática (ou pelo menos teremos essa sensação), sem pressões claras nos números de inflação. Como acredito que estamos em estágio avançado do ciclo econômico, não vejo este ambiente sustentável por muitos meses. Talvez algumas semanas, ou alguns poucos meses (2 ou 3 meses), mas não sustentável por 4 meses ou mais.

Obviamente que o Brasil se apropria deste momento mais positivos dos ativos internacionais.

Fizemos uma pequena alteração em nossas recomendações/alocações. Vemos espaço para um movimento mais rápido de apreciação do câmbio no curto-prazo, em detrimento a bolsa e aos juros longos. Ainda gostamos da bolsa e dos juros longos, mas o câmbio parece ter ficado um pouco para traz vis-à-vis o movimento já observado nessas outras classes de ativos. Como as opções estão com volatilidade implícita não muito elevadas, nos parece um bom risco/retorno uma posição tática via opções no câmbio.

Voltando a minha recomendação de hedges, a mudança de instrumento da bolsa para o câmbio, via opções, já garante mais conforto de uma perda limitada e de uma alavancagem favorável. De qualquer maneira, mantemos alocações/recomendações relevantes em renda variável, com algum hedge via put-spreads de Ibovespa.

No cenário internacional, acreditamos em um dólar mais fraco no mundo contra G7. Mantemos a cabeça de montar hedges e/ou reduzir posições com o S&P, por exemplo, próximo a 2,650/2,700 pontos (pegando o S&P como parâmetro de risco).


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