Apple, Flash Crash e Lua de Mel no Brasil

A grande notícia da noite ficou por conta do "warning” divulgado pela Apple de que sua receita ficará abaixo do esperado. Segundo a empresa, uma forte desaceleração nos países emergentes e, em especial, na China, totalmente fora dos padrões esperados, causou a necessidade desta revisão de "guidance". As ações da empresa chegaram a cair perto de 10% no after-market, levando consigo os índices de bolsas dos EUA.

A notícia é mais um grande obstáculo para o bom desempenho dos ativos de risco e das bolsas norte americanas, em especial. Além disso, confirma a visão que tenho passado neste fórum de que a economia da China ainda mostra sinais de fragilidade, sem sinais concretos e duradouros de estabilização do crescimento.

Com estas informações, acho difícil vislumbrar que o rally tático que eu vinha esperando, pelo menos nas bolsas dos EUA, ocorra de maneira rápida, acentuada, ou duradoura. O cenário deverá seguir desafiador para esta classe de ativo. Agora, espero volatilidade porém sem grades ganhos óbvios direcionais.

Logo após este anuncio da Apple vimos um "flash crash”do USDJPY, a moeda do Japão. O JPY chegou a apreciar perto de 5%, sem explicações concretas, na iliquidez do “overnight”. A moeda japonesa costuma ser vista como um porto seguro em momentos de incerteza. O movimento de ontem foi exacerbado pela iliquidez, mas na direção de um mercado ainda bastante fragilizado.

No Brasil, os jornais estão dando destaque para as sinalizações que estão sendo dadas pelo novo governo e seus novos ministros, todos na linha de desinchar o Estado, promover privatizações e uma melhoria na administração pública. O foco nas reformas e nas privatizações devem manter a "lua de mel” ainda por algum tempo.

Interessante ressaltar que o PSL, partido de Bolsonaro, parece ter fechado apoio a Rodrigo Maia para a eleição na Câmara, o que seria um grande e importante passo para o avanço da agenda de reformas econômicas.

Acredito que estaremos susceptíveis a volatilidade externa, mas existe espaço para que os ativos locas continuem mostrando desempenho relativo mais positivo enquanto for factível acreditar nas reformas econômicas e no bom andamento do novo governo.

Minha sugestão é manter alocação nos ativos locais. Reforço que prefiro o mercado de renda variável, crédito privado e de juros reais longos ao mercado de juros nominais mais curtos e câmbio. Acredito que na renda variável deveríamos concentrar os esforços em ações mais ligadas a economia doméstica do que ao setor externo ou até mesmo as estatais nos atuais níveis. Gestores de “Valor” deveriam navegar em este cenário. Ainda existe espaço e "momento” para o bom desempenho das estatais, mas os preços começam a parecer menos atrativos em comparação a alguns setores domésticos.

Sigo comm viés estrutural mais desafiador no cenário externo. Com hedge, tenho olhado o JPY e CHF, o Ouro e spreads na periferia da Europa (posição tomada).

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