Relatório Semanal de Asset Allocation:


Cenário Econômico:

No Brasil, o destaque da semana ficou por conta da decisão de política monetária por parte do Banco Central do Brasil (BCB).
O BCB anunciou a manutenção da Taxa Selic em 6,50%, como era amplamente esperado. Havia apenas cerca de 10bps de prêmio de risco na curva de juros para esta reunião e 10% de probabilidade de alta nas opções digitais, valores praticamente residuais. O comunicado após a decisão, contudo, caminhou para uma sinalização mais clara da possibilidade concreta e crescente do início de um ciclo gradual de alta de juros já na próxima reunião.

A curva curta de juros terá que digerir duas forças antagônicas a partir de agora. De um lado, uma precificação que já aponta para cerca de 80 a 90bps de alta nas próximas duas reuniões do Copom e um comunicado que sinaliza para um processo, ainda incerto, que seria “gradual” de altas de juros, ou seja, estas altas precificadas poderiam ser excessivas.

De outro lado, a sinalização mais concreta de desconforto do BCB com o cenário atual. Assim sendo, o mercado de juros poderia ficar mais reativo a pioras no cenário de inflação corrente e na taxa de câmbio. Além disso, historicamente, não apenas no Brasil, como em outros países emergentes, os ciclos de alta (e de queda) de juros costumam ser mais prolongados e acentuados do que o imaginado no início do processo, como agora.

O IPCA-15 de setembro ficou abaixo das expectativas do mercado, com alta de 0,09% no mês e 4,28% nos últimos 12 meses. A despeito da surpresa positiva neste mês, vemos uma piora expressiva no cenário prospectivo para a inflação de curto-prazo.

No tocante ao cenário político, as últimas pesquisas de intenções de voto mostram a consolidação de Jair Bolsonaro na liderança dos cenários, com cerca de 30%. Fernando Haddad mostra crescimento expressivo e já se consolida na segunda posição, com números entre 15% e 20%. Nos cenários de segundo turno vemos a grosso modo empate técnico entre estes dois candidatos, mas com um crescimento expressivo do candidato do PT em relação às pesquisas anteriores, finalmente capturando uma margem mais expressiva dos votos que seriam naturalmente de Lula.

No cenário externo, continuamos observando alguns temas relevantes. Em especial, o processo de normalização monetária em várias economias desenvolvidas, lideradas pelo movimento nos EUA; a contínua deterioração nas relações comerciais entre os EUA e a China; e sinais conflitantes no tocante ao crescimento mundial.

Neste ambiente, seguimos com uma visão mais cautelosa em relação às alocações de risco até que tenhamos uma visão mais clara, ou menos nebulosa, em relação aos vetores internos e externos.

Alocação/Estratégia:

Juros - Preferimos estar neutros nas curvas nominais e reais de juros, pois vemos o risco/retorno como não atrativo. Vemos pouco prêmio de risco no mercado de juros diante de um ambiente global mais desafiador, eleições internas incertas, um câmbio próximo aos níveis mais desvalorizados da história em termos nominais e uma inflação que parece ter feito o seu piso.
Câmbio - Continuamos sem recomendações estruturais para o mercado de câmbio. O menor carrego da moeda, o cenário externo mais desafiador e o cenário eleitoral ainda indefinido deverão manter o câmbio com elevada volatilidade e em patamares mais depreciados do que o imaginado anteriormente.
Renda Variável/Bolsa - Assim como no mercado de juros, preferimos estar com posições neutras (ou em torno da média) no mercado de renda variável. Estamos optando por fundos com menor “beta” ao mercado e que priorizem ações de valor e/ou com boa previsibilidade de resultados, como alguns fundos de dividendos.
Fundos Estruturados - Continuamos com recomendações acima da média para fundos multimercados. Gostamos de gestores que historicamente conseguem gerar alpha em mercados externos, e/ou que mostrem menor dependência a temas específicos, como a queda de juros no Brasil.
Fundos de Investimento no Exterior - Finalmente, acreditamos que existe espaço para fundos de investimento no exterior com viés neutro ao “beta” do mercado, como fundos long-short neutros, fundos macro, CTA e etc, nos quais a escolha do gestor seja um gerador maior de retorno do que a direção do mercado em si.

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