"EM Relief Rally", Eleições e Copom.
Os ativos de risco estão passando por um momento de
consolidação, com os ativos emergentes e as commodities, classes de ativos que
mais sofreram nos últimos meses, experimentando o que eu tenho chamado de “relief rally”. A posição técnica, o
nível de preços e valuations e a
aparente ausência de riscos no cenário de curto-prazo são argumentos para este
tipo de movimento. Já havia escrito, após a divulgação do Core CPI nos EUA, que
algo deste gênero pudesse ocorrer (https://mercadosglobais.blogspot.com/2018/09/inflacao-mais-baixa-nos-eua-nao-muda-o.html?q=core+cpi).
Por ora, contudo, não vejo o principal vetor de
pressão estrutural desses mercados sendo dissipados, leia-se, a continuidade do
processo de normalização monetária nas economias desenvolvidas, em especial e
liderada pelos EUA. Assim, vejo estes movimentos como cíclicos, pontuais e não
estruturais. Eles podem durar dias, talvez semanas, mas dificilmente alguns
meses, na ausência de uma mudança significativa, de fato, neste pano de fundo
de normalização monetária das economias desenvolvidas.
Já vimos isso acontecer em julho, para ser revertido
de forma rápida e acentuada em agosto. Setembro se assemelha com julho. Os
dados recentes continuam apontando na direção da necessidade de manutenção do
processo e normalização monetária, com sinais até da necessidade de aceleração,
ou de juros terminais mais elevados do que aqueles precificados no mercado, em
algumas dessas economias.
O Brasil se insere neste contexto, com o agravante
de passar por uma eleição polarizada. Os ativos locais ameaçaram uma
recuperação a reboque do cenário externo, mas acabaram devolvendo grande parte
do movimento ao longo da tarde.
A pesquisa Ibope mostrou consolidação de Bolsonaro
na liderança das pesquisas, com forte avanço de Haddad. Importante ressaltar o
empate técnico dos dois no segundo turno, com crescimento marginal concentrado
em Haddad.
A luz da visão do mercado em relação a ambos (https://mercadosglobais.blogspot.com/2018/09/brasil-uma-analise-do-mercado-local.html)
os candidatos, a pesquisa pode ser lida como negativa para a visão dos mercados
locais. Haddad já mostra sinais de que migra seu discurso econômico mais ao
centro, enquanto Bolsonaro insiste no discurso de polarização e radicalização.
Acredito que o vencedor das eleições precisará buscar este eleitor mais ao
centro.
Como venho escrevendo neste espaço, já trabalhava
com um cenário de Bolsonaro e Haddad no segundo turno. Isso está se
confirmando. O segundo turno será uma nova eleição. Neste momento, olhando o
discurso de ambos os candidatos, acredito que Haddad está sabendo “jogar melhor
este jogo” do que Bolsonaro. De qualquer maneira, sigo acreditando que o
vencedor das eleições só será decido “nos 48 minuto do segundo tempo” e até lá
teremos que conviver com bastante incerteza.
O Banco Central do Brasil (BCB) anunciou a manutenção
da Taxa Selic em 6,50%, como era amplamente esperado (exceto por cerca de 10bps
de prêmio de risco na curva de juros para esta reunião e 10% de probabilidade de
alta nas opções digitais). O comunicado após a decisão, contudo, caminhou para
uma sinalização mais clara da possibilidade concreta e crescente do início de
um ciclo gradual de alta de juros já na próxima reunião. O comunicado, assim,
pode e deve ser lido como mais hawkish.
A curva curta de juros terá que digerir duas forças
antagônicas a partir de amanhã. De um lado, uma precificação que já aponta para
cerca de 80 a 90bps de alta nas próximas duas reuniões do Copom e um comunicado
que sinaliza para um processo, ainda incerto, que seria “gradual”, de altas de
juros, ou seja, estas altas precificadas poderiam ser excessivas.
De outro lado, contudo, é a sinalização mais
concreta de desconforto do BCB com o cenário atual. O mercado de juros, assim,
poderia ficar mais reativo a pioras no cenário de inflação corrente e na taxa
de câmbio. Além disso, historicamente, não apenas no Brasil, como em outros
países emergentes, os ciclos de alta (e de queda) de juros costumam ser mais
prolongados e acentuados do que o imaginado no início do processo, como agora.
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