US: Firing on all cylinders.


No meio deste feriado prolongado no Brasil, tentarei ser sucinto em pontos relevantes para os mercados, mas sem deixar de tocar no cerne do que acho importante para o cenário prospectivo:
Brasil/Eleições – O bárbaro evento que acometeu o candidato Jair Bolsonaro será certamente um evento político relevante. Bolsonaro ganhará um espaço na mídia que não tinha antes. A campanha de “desconstrução” de sua imagem que vinha sendo efetuada por alguns de seus oponentes, e começava a fazer efeito através do aumento de sua rejeição, terá que ser, pelo menos momentaneamente, freada.
Temos dois eventos recentes que podem ser comparados a este. A trágica morte de Eduardo Campos e a prisão do ex-presidente Lula. Em ambos os casos ouve grande cobertura da mídia e clamor popular em torno do herdeiro natural da vítima (no caso de Lula o próprio). Em ambos os casos vimos aumento de apoio a estes. Assim, é natural supor que Bolsonaro ganhe algum apoio adicional deste evento, se consolidando como principal concorrente a ir ao segundo turno das eleições.
A pesquisa semanal de intenções de voto divulgada pela XP Investimentos mostrou poucas diferenças em relações as pesquisas mais recentes.
Continuo acreditando que as eleições serão bastante disputadas com um cenário de enorme incerteza. Acredito que o movimento do mercado na tarde de ontem, após o trágico evento envolvendo Bolsonaro, tenha sido exagerado pela iliquidez e pelo quadro técnico do mercado. A despeito de tudo que escrevi acima, acredito que a corrida eleitoral continuará muito disputada e com baixo poder de previsão.
Sigo com a visão de que o melhor a se fazer neste momento é manter baixa exposição a Brasil, com flexibilidade, sem viés, para ter poder de se posicionar com um cenário mais claro.
EUA/Emprego – Os dados oficiais de emprego de agosto nos EUA mostraram uma criação robusta de vagas de trabalho, uma taxa de desemprego baixa e uma forte alta nos rendimentos.
Os números de hoje apenas confirmam o cenário de uma economia no pleno emprego, com hiato do produto fechado e sinais inequívocos de acumulo de pressões inflacionárias.
O número de hoje não deve alterar, por ora, o plano de voo de normalização monetária por parte do Fed, com altas de 25bps a cada 3 meses e uma redução constante e automática de seu balanço. Contudo, o mercado precifica muito menos do que isso e uma taxa de juros terminal muito baixa, na minha opinião. O risco, a meu ver, está totalmente assimétrico para um processo de alta de juros mais acentuado ou mais acelerado, e não o contrário, como o mercado vislumbra hoje.
Acho natural observarmos, em breve, alguma acomodação no nível de atividade e emprego, não uma desaceleração forte, ao mesmo tempo em que a inflação se acumula e o Fed mantém seu processo de normalização e retirada de liquidez. Continuo vendo este pano de fundo como extremamente desafiador para os ativos de risco em geral. Já vimos um processo de reprecificação de algumas classes de ativos, como os ativos emergentes e algumas commodities metálicas, e não podemos descartar movimentos semelhantes em outras classes (bolsa americana?). Obviamente, este processo não será linear e momentos de recuperação, como em julho, serão seguidos de momentos de maior pressão negativas, como em fevereiro e agosto. Continuo vendo este processo como estrutural e não cíclico, que deverá durar meses, quiçá anos, e não apenas dias ou semanas.
Seguimos tomados em taxa na parte intermediária da curva de juros nos EUA, com hedges comprados em vol de índices de bolsas do país. Adicionamos posição comprada em JPY via puts longas para compor o portfólio.
EUA/China – No início da tarde Trump indicou que está disposto a colocar tarifas em mais US$267bi de importações chinesas, após a implementação de US$200bi programadas para breve.
O mercado continua dando pouco atenção, até o momento, para este risco. Acredito que seja um risco grande e crescente, que pode trazer mais inflação a economia, de maneira mais rápida e acentuada do que menor crescimento. Ainda acredito que a situação deverá piorar, neste quesito, antes de uma solução definitiva.


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