EUA: Pressões de inflação cada vez mais evidentes/Brasil: Incerteza eleitoral continua.


A quarta-feira foi de forte alívio para os mercados emergentes e de commodities, ativos que vinham sendo os mais pressionados nas últimas semanas. O movimento de acomodação nessas classes de ativo já vinha sendo ensaiado há alguns dias, mas hoje ganhou força com a notícia de que os EUA convidaram a China para novas conversas em torno das questões comerciais entre ambos os países.

Não acredito que houve mudança substancial de cenário, muito pelo contrário, como veremos abaixo, o que me leva a crer que o movimento de hoje é apenas uma acomodação, um alívio, ou o que chamo de “relief rally” após uma rodada de cerca de 1 mês de pressão ininterrupta.

No tocante a “guerra comercial”, ainda acredito que a situação terá de piorar antes de melhorar, não vendo, neste momento, motivos para os EUA recuarem de suas demandas.
Nos EUA o discurso de Lael Brainard do Fed e o Beige Book foram bastante relevantes para reforçar o cenário que vem sendo o principal vetor de direcionamento dos mercados financeiros globais.

Em linhas gerais, Brainard falou que os juros de equilíbrio de curto-prazo são relevantes para política monetária. Estes juros estão subindo de forma cíclica e devem continuar subindo nos próximos anos. Além disso, o Fed deverá subir as taxas de juros acima do neutro neste processo de normalização monetária. Na minha visão, um discurso contundente e bastante hawkish, visto que o mercado espera uma taxa de juros terminais hoje abaixo de 3%. Continuo acreditando que veremos juros mais altos por mais tempo do que o que está precificado hoje, mas entendo que este será um processo longo e tortuoso, como já vem sendo nos últimos anos.

O Beige Book confirma o que tenho descrito neste fórum diariamente, ou seja, uma economia com crescimento robusto, no pleno emprego, com hiato do produto fechado e pressão inflacionárias que se acumulam. Os riscos inerentes a “guerra comercial” existem mas, por ora, são apenas riscos com baixo efeito de fato nos dados, o que pode mudar com o tempo.

No Brasil, os ativos locais ameaçaram uma melhora mais expressiva após a pesquisa Ibope mostrar um cenário menos favorável aos partidos de esquerda no segundo turno das eleições, mas acabaram devolvendo grande parte da melhora no final da tarde.

Continuo vendo o cenário extremamente incerto e indefinido, o que deverá manter os ativos locais com alta volatilidade. Continuo trabalhando com um cenário de segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, mas sabendo que o nível de convicção deste cenário, e a probabilidade de acerto, serem extremamente baixas.

Alckmin, cuja parte do mercado ainda via esperanças de algum impulso com a campanha de rádio e TV, está tendo que lidar com os avanços do MPE e MPF sobre candidatos de seu partido no Paraná e no Mato Grosso, colocando-o em situação ainda mais delicada frente aos questionamentos que já são feitos a ele (sobre corrupção) em debates e entrevistas. Não estou fazendo juízo de valor, apenas apontando uma situação, no mínimo embaraçosa, que o candidato do PSDB terá que administrar na reta final de sua campanha. Além disso, segundo a mídia, perdeu o apoio do PP gaúcho, de sua candidata a vice-presidente. Assim, a luz da visão do mercado, um dos candidatos mais bem posicionados para efetuar as reformas necessárias na economia, mostra fragilidade e imensa dificuldades em ver sua candidatura decolar.  



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