Pesquisa Ibope e normalização monetária global.
O destaque desta manhã está por conta de mais uma rodada
de abertura de taxa de juros no mundo desenvolvido, liderado pelos EUA. Além do
cenário que já tenho descrito neste fórum: pleno empego, hiato do produto
fechado e acumulo de pressões inflacionárias, agora, observamos um número cada
vez maior de banqueiros centrais alertarem para este quadro e para a necessidade
de continuidade do processo de normalização monetária, levando os juros para
taxas superiores ao que o mercado precifica e a taxas terminais mais elevadas
do que se imaginava anteriormente.
O Morgan Stanley resumiu bem este cenário em seu relatório
diário de moedas hoje:
Hawkish
central banks… Hawkish
rhetoric from central bankers continues to put upward pressure on yields. The
ECB is the latest of a string of central banks which have taken more hawkish
steps in recent months. Fed Governor Brainard’s speech raised
eyebrows when, in contrast to her previously dovish remarks, she suggested the
FOMC may need to raise rates above the long-run neutral rate of around 3%. The minutes from the Riksbank’s most recent meeting suggested
a high bar for not hiking rates, bolstering continued SEK outperformance. Yesterday’s comments from ECB President Draghi suggesting
a bullish view on core inflation pushed Bund yields to their highest level
since May. EURUSD continued its uptrend, breaking 1.18 for the first time since
the summer.
...including
the ECB… It
is worth noting that President Draghi's comments were not materially different
from his tone at the latest ECB meeting. However, what is
important for us is that it affirms that the bar for the ECB to turn more
dovish is relatively high. A common refrain from EUR-bearish investors has been
that Eurozone growth has slowed since last year, and this is true. However,
from the ECB’s perspective, what matters is that growth is sufficiently strong
to continue to erode slack and support inflationary pressures.
Os demais ativos de risco apresentam relativa
tranquilidade a este ambiente. Acredito que este ambiente mais tranquilo esteja
sendo ajudado por um pano de fundo em que várias classes de ativos já haviam
apresentado piora significativa nos últimos meses. Contudo, vejo esta tranquilidade
como pontual e cíclica, e não permanente e estrutural. Caso o cenário de normalização
monetária nas economias desenvolvidas continue, como é minha expectativa,
espero novos “spikes” de volatilidade e “risk-off”, que irão comprovar que o
momento atual é apenas um “relief rally” e, estruturalmente, estamos diante de
uma tendência mais negativa. Minha visão estrutural será alterada na
eventualidade de uma mudança brusca neste pano de fundo de normalização
monetária global.
No Brasil, a pesquisa Ibope mostrou estabilização
de Bolsonaro na simulação de primeiro turno, em torno de 28%. Haddad segue em
forte trajetória ascendente, atingindo 22%. Nas simulações de segundo turno,
Bolsonaro mostra certa resistência e apresentou leve queda. Haddad segue em
ascensão e já superaria Bolsonaro, fora da margem de erro, em um eventual segundo
turno entre os dois.
Não acho que os mercados locais deveriam reagir positivamente
a este ambiente. Acredito que os ativos do Brasil estão com pouco prêmio de
risco a um eventual novo governo de esquerda em meio a um ambiente
internacional desafiador. Como já escrevi neste fórum, não irei profetizar o apocalipse
econômico em novo governo do PT. Espero, de certa forma, algum pragmatismo
econômico. Todavia, acredito que as reformas necessárias para o Brasil são enormes
e urgentes e apenas um governo com o diagnóstico correto da situação,
disposição e capacidade de implementar as reformas será capaz de colocar o
Brasil de volta na trajetória de crescimento e saúde financeira.
O que temos em mãos hoje do projeto econômico de
Haddad, a luz da opinião de especialistas e do mercado, não seria suficiente
para trazer essa prosperidade de volta de maneira estrutural.
O Ibope mostrou que a rejeição a Bolsonaro começa a
afetar seu desempenho no primeiro turno mas, principalmente, nas simulações de
segundo turno. Enquanto isso, a transferência de votos de Lula continua dando
enorme suporte a Haddad. Os especialistas em pesquisa gostam de chamar a
atenção para as tendências. Neste momento, Bolsonaro parece ter batido em seu
teto (isso pode mudar) e Haddad está em acentuada tendência de alta. Os números
falam por si e dispensam comentários adicionais da corrida eleitoral olhando a
fotografia de hoje.
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