Update
Depois de uma semana afastado do
dia-a-dia dos mercados, acho o momento oportuno para fazer uma breve análise do
cenário, e de alguns temas que dominaram esses dias.
De maneira geral, o cenário
central continua a ser de um baixo crescimento global, com flutuações em torno
desta tendência. A inflação no mundo desenvolvido permanece baixa e contida, a
despeito de alguns sinais incipientes de gradual aceleração. Neste ambiente, os
bancos centrais das principais economias do mundo deverão manter suas políticas
de estímulo, com alguns ajustes pontuais e localizados. A medida que o tempo
passa, é razoável supor que a política monetária, cada vez menos potente, dê
lugar a uma postura fiscal mais agressiva. Vale lembrar, contudo, que a
implementação de medidas fiscais tendem a ser mais lentas do que a
implementação de políticas monetárias, devido a dificuldade de se encontrar
consenso político para essas medidas.
No Brasil, a retomada da economia
mostra-se mais lenta do que o imaginado em relação aos indicadores de
crescimento. A inflação continua em uma tendência de arrefecimento, mas em
níveis ainda preocupantemente elevados. O quadro político voltou a dominar o
cenário, com a Operação Lava-Jato avançando sobre peças fundamentais nas
investigações.
Neste ambiente, vemos os ativos
de risco mantendo os ranges recentes,
com a Treasury 10 anos em torno de 1,60%-1,75% e o S&P500 entre 2.125 e 2.175
pontos, por exemplo. O dólar mostrou certa força de maneira geral, mas ainda
parece cedo para afirmar que estamos diante de uma nova tendência de alta da
moeda norte americana. O CNY, na China, voltou a atrair as atenções, com uma
nova rodada de depreciação gradual. O Petróleo está se mantendo acima de US$50,
com as commodities metálicas em níveis mais confortáveis.
Brasil
Copom: Ao contrário do que eu imaginava,
o BCB decidiu por reduzir a taxa Selic em 25bps, e não em 50bps. Prevaleceu uma
postura mais cautelosa, mantendo o foco nos modelos de previsão de inflação,
que ainda não apontam para o IPCA na meta de 4,5% no horizonte que o BCB julga
ser o mais importante. Na minha visão, as condicionantes colocadas pelo Copom
para a aceleração do ciclo de queda de juros, como a inflação de serviços e o
avanço do ajuste fiscal, deverão ser contempladas até a próxima reunião do
Comitê. Assim, espero uma queda de 50bps no próximo Copom, com um risco não
desprezível do atual ritmo de 25bps ser mantido.
Inflação: O IPCA-15 de outubro ficou
abaixo das expectativas do mercado, com um quadro qualitativo que mostrou queda
dos núcleos e dos índices de difusão. A inflação de serviços, que foi
verbalmente apontada pelo Copom como primordial para o ciclo de queda da taxa
Selic, contudo, ainda se mostrou elevada, e sem sinais consistentes de um
arrefecimento mais acentuado, trazendo um risco para o tamanho do ciclo de
queda da taxa Selic esperada pelo mercado.
Crescimento: Os indicadores recentes ficaram
abaixo das expectativas do mercado, trazendo um risco baixista para o
crescimento do 3Q. A recuperação da economia promete ser lenta e gradual.
Cenário
político: A prisão de Eduardo Cunha causou
um grande reboliço na mídia, com muitos acreditando em uma delação premiada, e
uma consequente dificuldade para o atual governo Temer. Além disso, a Operação
Lava-Jato avança em outras frentes, com novos delatores, e novas provas contra
antigos personagens das investigações. Acredito que a Lava-Jato seja o grande
risco para o cenário local. Contudo, com um tempo curto de governo, acredito
que será difícil remover Temer do poder. Contudo. Não podemos descartar ruídos
pontuais, como a perda momentânea de apoio, ou o possível afastamento de algum
outro Ministro do atual governo.
BRL: A moeda voltou a operar
consistentemente abaixo de 3,20, com a perspectiva de fortes fluxos
provenientes da Repatriação. Eu mantenho minha visão de que a moeda deverá
buscar um novo patamar nas próximas semanas, saindo de 3,15-3,30 para, talvez,
3,00-3,15. Contudo, ressalto que não vejo grandes ganhos de capital a partir
destes níveis. A moeda deve ser vista como um play de carrego. O delta de
melhora dos fundamentos econômicos justifica essas posições de carrego, mesmo
não sendo um tema que me anime de forma exuberante.
Juros: Ainda vejo espaço para a
manutenção de uma tendência mais estrutural de queda das taxas de juros do
país. Nos atuais níveis, gosto das NTNBs mais longas. Após o Copom, gosto da
assimetria dos juros prefixados abaixo de 3 anos.
EUA
Fed: Tudo indica que, salvo uma catástrofe,
o Fed deverá elevar a taxa de juros em 25bps na reunião do FOMC de dezembro. O
mercado já precifica cerca de 65% de probabilidade deste cenário.
Atividade/Inflação: Sem muitas novidades. O cenário
continua a ser de um crescimento baixo, em torno de 1,5%-2,0%, com um mercado
de trabalho em recuperação, mas uma inflação que se move de forma gradual para
níveis mais próximos da meta estabelecida pelo Fed.
Gosto de posições tomadas nas
taxas de juros mais longas do país, em conjunto com posições vendidas em
S&P. Vejo as posições como complementares, e hedges interessantes para um
cenário em que a política monetária no mundo desenvolvido parece cada vez menos
potente, em um ambiente de inflação gradualmente mais elevada, porém com
crescimento moderado. O nível de preço do mercado de ações dos EUA parece
oferecer upside limitado.
China
Os dados de crescimento de
setembro mostraram um crescimento estável. Contudo, esta estabilização do
crescimento foi conquistada à custa de mais uma rodada (talvez insustentável no
futuro) de expansão de crédito, com efeitos colaterais visíveis, como a
ebulição do mercado imobiliário. O modelo de crescimento chinês parece
esgotado, mas devido às características do país, os policy makers são capazes
de “empurrar com a barriga” os problemas da economia, ou uma inevitável
desaceleração estrutural de longo-prazo.
O principal efeito colateral
deste cenário tem sido uma depreciação do CNY, desta vez mais gradual e
controlada do que aquela verificada no final do ano passo e início deste ano.
Contudo, os fluxos de setembro já mostraram uma nova rodada de acentuada saída
de recursos do país. Por ora, os mercados financeiros globais estão digerindo a
questão de forma tranquila, exceto por uma tendência de depreciação das moedas
asiáticas. Resta saber até quando está tranquilidade irá reinar.
Ainda vejo espaço para a
manutenção de uma tendência de depreciação das moedas asiáticas. Eventualmente,
teremos períodos de maior preocupação em relação ao país e seus pares, mas o
cenário central me parece ser de ajustes graduais da economia, em direção a um
menor crescimento estrutural e a uma moeda mais depreciada.
Europa
O Banco Central Europeu optou por
não adotar nenhuma nova medida de expansão monetária em sua reunião deste mês,
mas indicou que os rumores em torno de um possível “tapering” eram apenas,
rumores. Medida adicionais podem ser adotadas, ou sinalizadas, até o final do
ano.
A região ainda lida com um
crescimento e uma inflação baixa. Com alguns problemas estruturais e políticos,
mas sem apresentar nenhum sinal de stress mais amplo. A situação dos bancos
locais, em alguns países específicos, ainda requer cautela.
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