Risk-Off!
A quarta-feira está
sendo de realização de lucros dos ativos de risco ao redor do mundo, com uma
correlação, de certa forma, elevada entre as classes de ativos. Estamos vendo
movimentos globais de dólar forte contra as moedas EM, abertura de taxas de
juros em EM e DM, queda das bolsas e das commodities.
Eu não vi nenhum evento
específico que, sozinho, explique os movimentos de hoje. Contudo, suspeito que
um conjunto de eventos tenha levado a deterioração do humor global a risco. São
eles:
- Dados mais fortes de
crescimento nos EUA, que acabaram
ajudando o mercado a elevar a probabilidade de alta de juros até o final do ano
para níveis superiores a 70%;
- Isso acabou mantendo
uma tendência de alta das taxas longas
de juros nos EUA;
- A balança comercial
de setembro, menos deficitária do que o esperado, elevou o tracking para o PIB do 3Q. A despeito da surpresa positiva, as
importações foram fracas, causando um certo receio em torno da sustentabilidade
de um consumo robusto. O Markit PMI Services subiu de 52,3 para 54,8 pontos em
outubro.
- Mais uma rodada de
queda no preço do petróleo, após
dados decepcionantes de estoques, além de ruídos em torno da sustentabilidade
do acordo para um corte de produção por membros da OPEP;
- O mercado aparenta
estar com um quadro técnico mais
carregado (menos positivo), com muitos investidores em busca de yields/carry em um mundo sem grandes
temas de investimentos. O técnico do mercado pode ter ajudado a magnitude de
alguns movimentos;
- A proximidade das eleições nos EUA. Mesmo com as
pesquisas apontando Hillary como franca favorita, a probabilidade de uma
arrancada final de Trump não pode ser totalmente afastada.
No Brasil, os ativos locais basicamente seguiram o movimento externo.
A única “agravante” ficou por conta de um cenário político levemente mais
tumultuado no curto-prazo, fruto dos últimos eventos da Operação lava-Jato.
Além disso, o mercado parece ainda estar digerindo a postura, vista por muitos,
como mais hawkish por parte do BCB.
Acredito que podemos
passar por um período de consolidação dos ativos de risco, com movimentos
pontuais de realizações de lucros. Este tipo de movimento costuma ser natural,
e até mesmo saudável, mesmo em cenários econômicos que aparentam estar
estáveis.
Eu mantenho minha visão
de que o cenário externo é de um crescimento global baixo, porém estável, com
flutuações em torno da tendência. A inflação no mundo desenvolvido deve subir
gradualmente, mas de níveis ainda confortavelmente baixos. Os bancos centrais
das principais economias do mundo devem manter postura de estímulo a suas
economias, com pequenos ajustes, pontuais e localizados, em seus instrumentos e
suas magnitudes. Continuo a ver o mundo emergente com fundamentos mais sólidos
do que no passado recente, mas não totalmente imunes a períodos de mais stress dos
ativos de risco.
Juros Brasil - Nos atuais níveis de preço, me parece condição necessária a
precificação de um ciclo mais agressivo de corte de juros por parte do BCB para
o bom desempenho de toda a curva nominal. Na minha visão, podemos passar por um
período de consolidação, até que as condições impostas pelo BCB sejam atingidas
para, então, uma nova rodada de fechamento de taxas de juros ocorrer.
Nos últimos dias, encurtamos as posições na parte longíssima da
curva de NTNB, para a parte intermediária da curva. Nos atuais níveis, estamos
montando uma posição na parte intermediária da curva nominal de juros.
BRL - Acredito que haja espaço para mais
alguns poucos dias de performance positiva da moeda. A medida que os fluxos da
Repatriação aconteçam, é natural esperar que os fluxos subsequentes sejam mais
espaçados, e o processo de apreciação se torne menos intenso. Não descarto
movimentos pontuais de consolidação da moeda no patamar de 3,00-3,15. Passada a
Repatriação, vejo ganhos muito mais modestos de capital na moeda local. Não sou
um grande fã de plays de carrego. Assim, os ganhos devem ser mais concentrados
em posições mais táticas.
Externo - Continuo gostando de posições vendidas em S&P500 e tomadas na Treasury de 10 anos como um hedge para o cenário externo.
Ainda vejo espaço para a
manutenção de uma tendência de depreciação das moedas asiáticas. Eventualmente,
teremos períodos de maior preocupação em relação a China e seus pares, mas o
cenário central me parece ser de ajustes graduais da economia, em direção a um
menor crescimento estrutural, e a uma moeda mais depreciada.
China / Commodities – O movimento recente das commodities me faz
lembrar das diversas bolhas pontuais que já se formaram nos mercados chineses. Já
tivemos a bolha de housing, a bolha
de ações, a bolha do mercado de crédito e a bolha em mercados locais de algumas
commodities. Agora, o governo parece trabalhar para frear o segundo movimento
de apreciação do mercado imobiliário, e começa a dar sinais que irá administrar
o mercado de crédito de forma mais cautelosa e conservadora, após mais um
processo de alavancagem da economia.
Os eventos recentes, na China, apenas reforçam a minha visão de
que a economia sofrerá um grande processo de “stop-and-go”. Períodos de estabilização do crescimento, suportados
por medidas governamentais, serão seguidos por períodos de enfraquecimento da
economia, também puxados por medidas de ajustes por parte dos policy makers.
Após a estabilização recente da economia, o governo já adota
medidas mais duras para os setores imobiliário e de crédito. Será que, assim,
os chineses estão novamente migrando para o “casino” das commodities? Será
esses movimentos recentes, especialmente em algumas commodities metálicas,
sustentável?
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