Ilan: BCB é dependente dos dados.

A despeito dos sinais mais cautelosos provenientes dos mercados externos no final de semana (vide abaixo), os ativos de risco estão abrindo a semana em tom relativamente positivo, na ausência de novidades relevantes nas últimas horas.

Neste contexto, eu basicamente mantenho minhas expectativas já amplamente discutidas neste fórum. Espero um período de consolidação e realização de lucros para os ativos de risco no curto-prazo, mas sem alterar de maneira significativa a visão construtiva de longo-prazo para algumas classes de ativos (como o mercado local de juros, por exemplo). As eleições nos EUA devem manter os ativos de risco com dinâmica mais volátil e sem tendências relevantes.

Em termos de posições, minhas recomendações sofreram poucas alterações, exceto pela adição de algumas proteções no mercado de renda variável. Já havia reduzido as recomendações de BRL para um nível baix0, a fim de esperar um melhor momento para adicionar posições táticas (compradas) novamente. Mantenho uma posição relevante no mercado local de juros, na parte intermediária das curvas nominais e reais. Mantenho o hedge externo vendido em S&P e tomado na Treasury de 10yrs.

No Brasil, duas notícias do Valor merecem destaque. Primeiro, Raymundo Costa afirma que o governo irá acelerar a Reforma da Previdência. O governo pretende enviar ao Congresso suas propostas ainda em novembro, acelerando um calendário em que muitos esperavam o inicio do debate somente em 2017.

Segundo, Ilan – presidente do BCB – concedeu entrevista ao Valor, onde reafirma os pontos já amplamente colocados nos documentos oficiais. Reforço que minha visão e de que haja espaço para uma queda superior a 25bps na próxima reunião do Copom, assim como para um ciclo de queda adicional de juros superior a 250-300bps, mas tudo dependerá dos dados econômicos. Caso o Copom fosse hoje, o BCB iria optar pela cautela, com uma queda de 25bps, mas como falta bastante tempo para a próxima reunião, acredito que o mercado  trabalhar com uma queda entre 25 e 50bps até o próximo Copom. O tamanho do ciclo total de juros pode vir a variar, mas mantenho meu viés mais otimista com relação ao mercado de juros.

Abaixo, destaquei alguns trechos da entrevista:

Valor:O comunicado do Copom se refere a uma pausa na queda da inflação de serviços. Essa é uma inflação mais resistente. Por que?
Ilan: Porque os custos subiram e, depois, tem a inércia, a indexação normal da economia. Serviço é típico.
Valor:Fazer a reforma da Previdência sem atacar a indexação de alguns benefícios ao salário mínimo tornaria a reforma manca?
Ilan: Faz parte das discussões do governo porque ela tem um componente fiscal e tem um componente inercial.
Valor:O Copom mencionou, na ata, dois fatores que vão influenciar na velocidade e na intensidade da queda da taxa Selic...
Ilan: Eram três, mas um caiu porque a inflação corrente se reduziu com a ajuda da desinflação dos alimentos, e ficaram dois.
Valor:Ficaram as reformas, com a aprovação do ajuste pelo Congresso, e a inflação de serviços. Esta não tem a ver com a mudança de metodologia do IBGE?
Ilan:Não. São coisas separadas. No serviço tem coisas que são voláteis. Por exemplo, durante as Olimpíadas os preços dos hotéis e demais serviços no Rio dispararam. Se você olhar só a inflação de serviços, sem expurgar nada, o índice cheio, vai ver que ela subiu e no mês seguinte caiu. Se você tira os itens mais voláteis, consegue ver a tendência que teve queda mas, nos últimos meses, deu uma pausa. Queremos ver se ela retoma a tendência de queda. Acredito que sim. Tudo moderado, mas que seja declinante. Metade das pessoas acha que está caindo, outra metade acha que está subindo. E eu vou julgar, com diferentes indicadores, qual acredito que é.
Valor:Serviço é a parte da inflação que mais se ressente da indexação, não?
Ilan: Certamente. Por isso que estamos focando nisso. É o que vai nos permitir ter confiança nas nossas projeções. Quando se olha as projeções - não são só as nossas, mas também a dos analistas -, elas indicam uma desinflação relevante. Caiu de quase 11% pra 7%, de 7% para 4,5%. Nós estamos falando aí de expectativa de 5%. É uma desinflação relevante.
Valor:É relevante, mas o espaço para reduzir os juros ainda não é tão relevante, ou é?
Ilan: É, tenho que ter confiança, antes de tudo, na desinflação. E esses fatores me ajudam a ter confiança de que ela está vindo. Temos que olhar a floresta. A floresta é: está vindo uma desinflação. Depois, a gente tem que ver o espaço exatamente.
Valor:Em que situação o senhor consideraria que a batalha foi vencida?
Ilan:Quando tivermos confiança nas projeções de inflação na meta e, depois, confiança nos dois fatores citados na ata.
Valor:O que seria uma situação confortável em relação à aprovação das reformas no Congresso? Já tem a PEC 241 aprovada em dois turnos na Câmara.
Ilan: Vamos pensar no passado e no futuro. Acho que [as reformas] têm avançado acima das expectativas até agora. Indo pra frente, temos que avaliar como é a continuidade desse processo. Isso ajuda na desinflação e vamos levar em consideração.
Valor:No cenário de referência, mantendo o juro constante e tomando o câmbio de R$ 3,20, chega-se a uma inflação de 3,9% em 2018. Isso significa que em algum momento do ano que vem, mesmo reduzindo juros, já se poderá vislumbrar a inflação na meta?
Ilan: Temos as metas de 4,5% para 2017 e 2018, que são desafiadoras e críveis. Achamos que não há, no momento, nenhum óbice para atingi-las nos dois anos. Nós também falamos que, à medida que o tempo passa, o horizonte do que você controla vai se deslocando de forma contínua.
Valor:Hoje, o horizonte já é 2017 e 2018, não?
Ilan: É. O impacto para 2016 acabou. À medida que o tempo passa, períodos mais distantes vão ganhando mais peso do que períodos mais próximos. E é importante passar a ideia de que a gente vai fazendo isso de uma forma contínua.
Valor:Voltando para a inflação, nessa guerra a vitória ainda está distante?
Ilan: Eu diria da seguinte forma: isso é um processo e é um processo que teve seus avanços. Estamos satisfeitos com os avanços, mas é um processo que continua e não vai terminar, não terminou hoje.
Valor:O senhor disse que, se as condições objetivas melhorarem, o Copom pode acelerar a queda da taxa de juro.
Ilan: Perfeito.
Valor:Essas condições objetivas são: inflação na meta...

Ilan: As projeções estarem adequadas e os fatores [inflação de serviços e os processos das reformas e do ajuste] me darem conforto com essas projeções.

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