Goldilocks
O destaque do dia ficou por conta dos dados de emprego de março
nos EUA. O número confirmou um quadro
de solidez do mercado de trabalho, com uma criação robusta de vagas de
trabalho, um aumento saudável do AHE e um positivo aumento da taxa de
participação, o que acabou levando um aumento (por motivos positivos) da taxa
de desemprego. Além disso, o ISM Manufacturing subiu de 49,5 para 51,8 pontos
em março, acima das expectativas de 51,0 pontos. A despeito de um arrefecimento
no indicador de emprego, observamos uma forte alta de indicadores de crescimento,
como New Orders.
Os números divulgados hoje, que seguiram sinais de estabilização
no crescimento da China, deveriam elevar as expectativas de continuidade do
processo de normalização monetária nos EUA. Contudo, após as sinalizações
recentes por parte de Yellen, os números acabam por evoluir para um cenário que
pode ser descrito como “Goldilocks”.
Em outras palavras, com perspectivas de crescimento “ok”, um mercado de
trabalho robusto, melhores condições da economia global, e um Fed sem pressa
para normalizar sua política monetária, temos um ambiente propício aos ativos
de risco, em especial para as bolsas e ativos emergentes, por exemplo. Acredito
que este equilíbrio seja instável, pois mais cedo ou mais tarde, ou veremos uma
preocupante desaceleração global, ou um novo movimento de alta de juros nos
EUA. Em suma, temos um cenário mais construtivo para o mercado no curto-prazo,
mas os riscos que abalaram os investidores no início do ano ainda foram
totalmente debelados, o que enseja atenção especial.
É neste contexto que os ativos do Brasil acabaram tendo um dia positivo. Além dos fatores externos
citados acima, a nova fase da Operação Lava-Jato volta a trazer constrangimento
do PT, com importantes figuras ligadas ao centro do poder do partido sendo
investigadas, e o misterioso assassinato de Celso Daniel sendo trazido à tona
novamente, o que poderia ligar sua morte ao Mensalão e ao Petrolão. O caminho
até o impeachment ainda será longo e tortuoso. A estratégia go governo em
negociar apoio no varejo parlamentar parece estar rendendo frutos, mas o
cenário segue evoluindo e a situação do PT como partido continua em xeque.
A PIM apresentou queda de 2,5% MoM em fevereiro. Os sinais de
crescimento continuam perturbadores. Segundo nossa área econômica: A PIM contraiu 2,5%m/m dessaz, enquanto caiu
9,8%a/a; A produção de bens duráveis foi destaque negativo e continua sugerindo
produção industrial em forte contração (lembrando que é um segmento leading); Ligeira
recuperação da nossa proxy de investimentos em fevereiro, mas a média jan-fev
está abaixo do último trimestre de 2015; Índice de difusão (% de segmentos em
alta mensal dessaz) ficou em 39% em fevereiro; A visão é que o setor industrial
siga em forte contração anual: (i) o nível de confiança da indústria segue
deprimido (embora com ligeira recuperação nos últimos meses), (ii) nível de
estoques segue elevado, ainda que em processo de ajuste, (iii) nível de vendas
no varejo segue fraco e contraindo na margem, (iv) ambiente político segue
inibindo investimentos, (v) custo de capital subiu substancialmente nos últimos
meses (por exemplo, forte abertura dos spreads de crédito).
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