Brasil, ECB, EUA e China

A quinta-feira acabou sendo um dia bastante negativo para os ativos de risco. A queda das bolsas norte americanas alimentou um movimento de fortalecimento do dólar no mundo. Os resultados da Google e da Microsoft no final da tarde acabaram ajudando a acentuar estes movimentos, já que ambos ficaram abaixo das expectativas do mercado. A agenda econômica será esvaziada hoje, com destaque apenas para o Markit US Manufacturing PMI nos EUA. Na Área do Euro, o Markit Composite PMI caiu apenas moderadamento de 53,1 para 53,0 pontos, basicamente em linha com as expectativas.
 
Continuo vendo o cenário de curto-prazo como estável, mas tenho dúvidas em relação a sustentação dos movimentos (positivos) recentes no longo-prazo, frente aos desafios que ainda existem na economia mundial. Estou com baixíssima exposição a risco no momento, já que vejo pouco apelo nos atuais níveis de preço. O recente arrefecimento do patamar dos ativos de risco pode ser um sinal de fadiga dos movimentos observados nas últimas semanas, o que requer atenção redobrada.
 
No Brasil, os jornais de hoje trazem um news flow mais negativo para as perspectiva de mudança política no país, já que o avanço da Operação Lava-Jato, e as novas delações premiadas em curso, podem acabar sugando importantes agentes deste processo para o meio das investigações. Eu ainda vejo um eventual governo Temer como positivo, mas sabendo que o processo de mudança política tende a ser traumático. A resolução dos problemas do país não será feita de maneira linear. Precisamos nos preparar para um longo e tortuoso processo.
 
De acordo com o Estado, A revista Época que circula neste fim de semana traz reportagem sobre proposta de delação premiada feita pelo engenheiro José Antunes Sobrinho, um dos donos da empreiteira Engevix, que comprometeria o vice-presidente Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os ex-ministros Erenice Guerra e José Dirceu...Sobre Temer, o empreiteiro teria afirmado, de acordo com a reportagem, que pagou propina a operadores que falavam em nome do vice-presidente. O mesmo teria ocorrido em relação a Renan.

Segundo o Valor, Mônica Moura, casada com o marqueteiro do PT, João Santana, disse em proposta de delação na Operação Lava-Jato que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega intermediou pagamento de caixa 2 para a campanha à reeleição de Dilma Rousseff em 2014, informou ontem o jornal "O Globo". Segundo a reportagem, Mônica disse ter recebido pelo menos R$ 10 milhões fora da contabilidade oficial. A defesa de Mantega e o coordenador jurídico da campanha de Dilma em 2014 negaram as acusações. Caso a delatora consiga comprovar as acusações, ela vai complicar a situação da chapa presidencial Dilma Rousseff - Michel Temer na ação que pede a cassação dos mandatos e que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um investigador disse ao Valor que Mônica tem oferecido uma série de informações das quais ainda faltam documentos para embasar - e, portanto, dificultam fechar as tratativas para o acordo de colaboração premiada.

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O dia trouxe poucas informações novas ao cenário (ou inesperadas), mas a reação dos ativos de risco continua mostrando como a posição técnica tem tido um papel fundamental ao longo deste ano.
 
Na Europa, Draghi não ofereceu novas medidas de expansão monetária, como era amplamente esperado. Da mesma forma, não seu nenhuma indicação de incomodo em relação ao EUR. Finalmente, demandou paciência ao mercado neste momento. Tudo indica que apenas um choque adicional e relevante a economia da Europa (ou a economia global) levará o ECB a adotar medidas adicionais de suporte ao crescimento. Após operar em alta de quase 1% após a decisão, o EUR já apresenta leve queda neste momento.
 
Nos EUA, o Jobless Claims apresentou mais uma semana de queda, mostrando um mercado de trabalho extremamente robusto. Até quando o Fed será capaz de adiar a continuidade de seu processo de alta de juros frente a um mercado de trabalho em franca recuperação?
 
Nos últimos dias, quase todos os sell-sides divulgaram relatórios em relação a recente recuperação dos ativos emergentes. O consenso mostra que o bom ambiente de curto-prazo poderá perdurar, mas que ainda existem enormes desafios e ajustes que precisam ser feitos nesses países, o que torna questionável a sustentabilidade desse movimento no longo-prazo. Eu tendo a concordar com esta visão, mas dado que se tornou consensual e a posição técnica indica isso, tenho receio que a durabilidade deste otimismo possa estar próxima do fim.
 
A situação do mercado de crédito na China ainda mostra deterioração, o que demanda atenção redobrada, dado que este é um vetor fundamental de suporte aos ativos de risco nas últimas semanas. De acordo com a Merrill Lynch: The dramatic move in China rates continues today, in particular 5yr NDIRS up another 5bps to 2.93. As a result, bearish sentiment is gathering momentum with locals citing a more cautious tone from PBoC, the moral hazard connect with Debt-Equity swaps and new VAT rate leading to higher funding costs. Against this backdrop, FX remains stable (vs another higher fix of 6.4803) and SH comp is positive on the day (+0.5%). BofAML’s Head of Asia trading, Patrick Law, believes that the current situation is not sustainable – if a larger period of risk-off is triggered, security companies will get hurt even more as swaps will rally on the back of further selloff in credit.  It is reminiscent of the summer of 2014 when concerns of credit risks caused repo swaps to sell off 70 bps from June to July.

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