A espera do Payroll.
A quinta-feira, véspera da divulgação dos dados de mercado de
trabalho nos EUA, talvez um dos
números mais importantes dos últimos tempos, tendo em vista a sinalização
emitida pela Fed nas últimas semanas, os ativos de risco tiveram um dia de
consolidação. O destaque negativo ficou por conta das commodities metálicas,
com o cobre, por exemplo, caindo cerca de 3%. As moedas emergentes (ex-BRL)
tiveram mais um dia de pressão, a despeito de um desempenho mais misto das
moedas de G10. O DXY sustentou-se acima de 98,0, enquanto a Treasury de 10 anos
voltou a testar o patamar de 2,25%.
Em relação aos dados de emprego nos EUA de amanhã, acredito que
um número moderado, com Payroll em torno de 140k-150k, e uma taxa de desemprego
estável ou cadente, já seria capaz de manter o Fed em seu plano de voo, que
seria dar início a um processo lento e gradual de alta de juros, começando em
dezembro. Contudo, como o mercado já precifica cerca de 60% de probabilidade de
uma alta de juros no FOMC de dezembro, talvez precisaremos de um número igual
ou superior a 175k para manter as tendências recentes, ou seja, fortalecimento
do dólar, abertura de taxas de juros das Treasuries e pressão sobre as
commodities e os ativos emergentes em geral. O Jobless Claims divulgado hoje
mostrou leve alta, de 260k para 276k, mas manteve-se nos níveis mais baixos
desde a crise de 2008, não alterando o cenário positivo para o mercado de
trabalho.
Eu continuo acreditando em um fortalecimento estrutural do dólar
no mundo. Vejo o cenário de curto-prazo (sinalização do Fed e do ECB,
crescimento ainda frágil na China e etc) como reforçando esta visão, e sendo um
propulsor para uma rodada adicional de fortalecimento da moeda norte americana.
Acredito que o cenário macro seja saudável para as bolsas dos países
desenvolvidos, mas vejo pouco valor nos atuais níveis, em especial nos EUA
(início de um processo de alta de juros, fim do “earnings growth” e etc). Acredito que as commodities e os ativos
emergentes em geral estão em um processo estrutural de ajuste, que ainda parece
ter chegado ao fim. No tocante aos juros norte americanos, o rompimento do
atual patamar de 2,25% da Treasury 10
anos pode ser a senha (ou trigger)
para mais uma rodada na direção dos eventos comentados acima.
Brasil – Os ativos locais continuam vivendo uma
dinâmica própria, no que eu venho classificando como um ajuste técnico de
posições. A performance dos fundos locais, assim como a posição de futuros na
BM&F, mostra um mercado local bastante posicionado no tema “Short Brasil” o
que parece estar dando algum suporte ao BRL e a bolsa nos últimos dias. Minha
visão continua negativa em torno dos fundamentos locais e do atual patamar dos
ativos locais. BRL abaixo de 3,8, CDS abaixo de 400bps e curva longa de juros
quase flat em relação aos vértices mais curtos. Só vejo estes níveis sendo
sustentados caso haja uma forte reversão do cenário político, com a aprovação
de medidas essenciais para o ajuste fiscal o que, por hora, não parece ser o
cenário central.
O governo ainda não conseguiu votar o projeto de legalização de
recursos, a Patrobras está em greve, com os funcionários demandando o
encerramento do programa de venda de ativos, o governo continua sofrendo
seguidas derrotas no congresso, a despeito da reforma ministerial e o conselho
de ética da câmara início as investigações por quebra de decoro de seu
presidente. Em suma, um cenário político ainda extremamente conturbado.
Em apresentação hoje, o BCB afirmou que fará o que for
necessário para levar a inflação para o centro da meta em 2017. A afirmação é
uma mudança em relação ao comunicado apresentando após o último Copom, onde não
havia uma data específica para a convergência da inflação. Esta sinalização
pode ser lida como levemente mais dura, mas não deveria alterar o cenário para
a política monetária local. Espero que o BCB mantenha os juros estáveis, exceto
por uma mudança substancial de cenário (forte depreciação adicional do BRL,
nova revisão do fiscal para 2016 e etc). A curva curta de juros, contudo,
deverá continuar precificando altas de juros, devido às incertezas do cenário
local. Este prêmio deverá ser consumido ao longo do tempo, conforme as reuniões
do Copom forem passando e a taxa Selic for sendo mantida estável.
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