Commodities
A despeito de uma agenda econômica esvaziada, com indicadores
apenas de segunda ordem no Brasil e nos EUA, a dinâmica dos mercados continua
bastante interessante. O dólar parece estar se consolidando no mundo, após mais
uma rodada de alta da moeda norte americana após os dados de emprego. O EUR
continua sendo o destaque deste movimento, atingindo patamares abaixo de 1,07.
Continuo vendo a continuidade deste movimento de apreciação do dólar no mundo,
não apenas contra o EUR, mas como em relação aos demais moedas de G10 e EM.
O destaque do dia ficou por conta das commodities. O cobre, por
exemplo, atingiu o menor patamar em cerca de 6 anos. Um misto de demanda mais
baixa devido ao menor crescimento da China, um cenário de oferta ampla, e a
perspectiva de alta de juros nos EUA, continuam sendo vetores de pressão
estrutural sobre grande parte do complexo de commodities metálicas. Nas
commodities agrícolas, o relatório da USDA levou a mais uma rodada de queda no
preço deste complexo. Em alguns casos, a queda de preços verificada hoje levou
aos níveis mais baixos desde 2009. O cenário que se avizinha continua
favorecendo uma tendência prolongada de preços mais baixos para grande parte
das commodities. Momentos pontuais de consolidação, ou até mesmo short squeezes, contudo, podem e devem
ocorrer ao longo deste processo. Os países e ativos dos países dependentes da
“velha China” devem continuar sofrendo ao longo deste processo estrutural de
ajuste de demanda e de preços.
No Brasil, o BRL e a curva longa de juros continuam com
desempenho relativo surpreendentemente positivo. Não parece haver um fluxo
claro no mercado de câmbio spot, já
que o BCB vem promovendo leilões de linha de maneira recorrente nos últimos
dias, mas claramente parece estar ocorrendo algum fluxo para a parte longa da
curva de juros. Uma outra interpretação seria de um movimento de ajuste/stops de posições de steepening após declarações do BCB
consideradas mais hawkish por parte
do mercado. O JPM fez uma constatação interessante em relação a demanda por
títulos locais, mostrando que há pouco apetite por duration no país neste momento, o que me leva a conclusão que o
movimento do BRL e da curva longa devem ser por questões técnicas e não por fluxos
finais:
Meanwhile, auction data shows appetite for duration remains subdued. The
National Treasury has placed a hefty BRL 26 billion of short dated notes (LTNs)
in October, which is a solid figure compared to a historical average of BRL 20
billion (Exhibit 4). However, placements of NTNF bonds were of a feeble BRL 1.2
billion over this period, which is 3.5-times smaller than the average monthly
placements since 2007 of BRL 4 billion (Exhibit 5).
O governo continua com dificuldades imensas em aprovar o mínimo
necessário para algum ajuste das contas fiscais. A oposição disse hoje que irá
obstruir a votação do Projeto de “Repatriação” e a mídia afirma que o governo
ainda não tem os votos necessários para aprovar a medida. Enquanto isso, a
posição de Levy continua na linha de tiro, recebendo fogo amigo da própria base
de apoio do governo.
A bolsa vem sendo o ativo local mais reativo as incertezas
políticas e econômicas. Continuo vendo o país em um equilíbrio instável, com
risco de cauda não desprezíveis e crescentes.
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