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Ao contrário do que eu imaginava após os últimos eventos geopolíticos ao redor do mundo, os ativos de risco estão dando continuidade a um movimento positivo iniciado na manhã de ontem, e que perdura até o momento. A dinâmica dos mercados mostra um quadro técnico positiva, ou seja, com os investidores pouco alocados em risco, especialmente em um período (final de ano) sazonalmente positivo para algumas classes de ativos, como é o caso das bolsas.
A sexta-feira, feriado no Brasil, foi mais um dia de relativo otimismo nos mercados externos, marcado por um movimento de alta nas bolsas globais e enfraquecimento do dólar contra as moedas emergentes e dependentes de commodities, a despeito de mais uma rodada de pressão nas commodities metálicas e no petróleo. Os ativos do Brasil operados em NY seguiram o otimismo global, com o EWZ subindo mais de 1%, puxado pela Petrobras e pelos setor financeiro (Bancos), mesmo com as ações da Vale sobre pressão. Vale ressaltar, contudo, que os ativos de risco abriram a sexta-feira apresentando bastante força, mas perderam momento ao longo do dia. No mercado de moedas, inclusive, os alguns pares de LatAm chegaram a fechar com o dólar mais forte, como foi o caso do CLP (seguindo a queda superior a 2% do Cobre).
Brasil - Os rumores em torno de uma possível recapitalização da Petro foram de certa forma repudiados pelo Ministro da Fazenda, pelo menos no curto-prazo.
O CAGED apresentou uma queda em torno de 170 mil vagas de trabalho em outubro, reforçando o cenário extremamente delicado para o mercado de trabalho local. O BCB tem a sua frente um enorme desafio em relação a sua política monetária, já que terá que lidar com uma inflação galopante, em meio a uma recessão nunca antes vivenciada pelo país.
Alguns artigos no final de semana apontaram para a mudança de postura e no discurso do Ministro da Fazenda, que após algumas vitórias no congresso, sinaliza com concessões na direção de uma política econômica menos ortodoxa, com a liberação de limite para captação de recursos para os Estados e Municípios, algum alívio direcionado no crédito, entre outros. Ainda não vejo essas medidas como uma guinada à esquerda, mas certamente essas concessões parecem ter um "dedo" da presidente Dilma para fortalecer a posição de Levy dentro do governo. Ainda vejo riscos elevados para o cenário econômico local, e nenhuma mudança estrutural nos fundamentos econômicos do país.
Europa - Na Europa, Draghi reforçou o discurso em torno da necessidade de medidas adicionais de suporte ao crescimento, com o objetivo de levar a inflação e suas expectativas de volta a patamares condizentes com seu mandato. Sua sinalização manteve o EUR sobre pressão, e acabou dando algum suporte aos ativos de risco ao redor do mundo.
O mundo ainda está vivendo um período de elevada incerteza geopolítica. Os atentados em Paris, na minha visão, são totalmente diferentes daqueles verificados no passado, como os atentados em Madri e em Londres. Na minha visão, estamos no meio de uma guerra contra o EI, mas desta vez dentro do território Ocidental. Esta é uma guerra diferente de tudo que já vivemos, e poderá ser uma batalha longa é incerta. As ameaças de novos atentados estão mantendo o mundo em estado de alerta, com eventos sendo cancelados, voos sendo desviados e o transporte público, em muitos casos, sendo fechados temporariamente. Ainda é extremamente difícil prever os impactos econômicos deste ambiente. O mercado está lendo esta nova equação global como elevando a probabilidade de uma política monetária frouxa ao redor do mundo, por um período ainda mais prolongado. Contudo, não podemos descartar momentos de maior volatilidade e incerteza diante de um inimigo em nossas vizinhanças.
Mercados - Em um momento em que passamos por um período de maior otimismo em relação a alguns ativos de risco, surge um debate se os ativos emergentes já atingiram o "fundo de poço" e os atuais níveis de preço oferecem oportunidades de investimentos em algumas classes e países específicos. Acredito que o debate seja válido e será recorrente no que eu acredito ser um novo momento da economia mundial. Com o Fed se preparando para dar início a um novo passo no seu processo de normalização monetária, após quase 10 anos de juros zeros, em um pano de fundo de crescimento estruturalmente mais baixo na China, espero um ambiente mais hostil, em que as incertezas serão maiores e, consequentemente, a volatilidade dos mercados serão mais elevadas. Momentos como o atual, de recuperação dos ativos de risco, devem ocorrer ao longo deste processo, assim como rodadas adicionais de depreciação destes ativos. Apenas um cenário mais evidente de recuperação do crescimento, aliado à sinais concretos de que reformas estruturais estão sendo implementadas, serão capazes de reverter, definitivamente, este ambiente mais desafiador para esta classe de ativos. Por hora, acredito que ainda não chegamos a este ponto, mas certamente precisamos estar alertas para uma eventual mudança de cenário.
A posição técnica do mercado de moedas, até quinta-feira, mostrou um acúmulo adicional de posições compradas em dólar. Segundo o relatório da CFTC nas palavras da Goldman Sachs,
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Gostaria de finalizar com um comentário do JPM, do qual eu compartilho:
Our analysts have published widely on the second fear caused of a global slump – the rise in EM leverage. David Hensley et al. (Hazard ahead: The EM credit cycle has turned down, Nov 17) show that EM private non-financial debt to GDP ex China has risen by 20% over the past five years, and by 80% in China. The majority of countries that had such increases in the past had major economic slowdowns within three years. Here again, though, there is nothing automatic about leverage causing a recession. It simply heightens the risk of a miscalculation. When one tries to draw a precise scenario on how EM leverage bring world markets and economies down, one runs into the problem that EM and DM policy makers stand ready to counteract this, and world investors are preparing for this scenario, reducing their vulnerability.
We hear frequently that EM Asia, where much of the run-up in leverage is, is fully prepared against a repeat of a 90's external debt crisis as some 90% of this debt is domestic. That is right, but no great solace as the great debt crises of the past 35 years in Japan, US and the Euro area were not brought by external investors, either. When in doubt of credit quality, domestic investors are equally capable of bringing about a debt crisis.
Our message is that any consensus rendering of how Fed tightening and/or EM leverage could end the current cycle is quite unlikely to be the right one, as we would all take evasive action. All we can say is that these two simply create higher risks of something going wrong, and that such accidents do all happen eventually. It is to this analyst especially worrying that the defenses against such accident – monetary and fiscal stimulus – are running empty, thus reducing the chance that policy makers can absorb major shocks and extend the cycle.
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