Fed + China = Risk-off!?

A segunda-feira foi de agenda econômica esvaziada. Nos EUA, o Labor Market Condition Index, divulgado pelo Fed, apresentou alta de 1,6 pontos em outubro, após revisão altista de 0,0 para 1,3 pontos no mês anterior. O número reforça a mensagem de um mercado de trabalho robusto no país.

A despeito de uma agenda fraca, a dinâmica dos ativos de risco acabou sendo relevante, com uma forte queda das bolsas ao redor do mundo, até este momento. A perspectiva de alta de juros nos EUA, aliada a dados mais fracos da China no final de semana, podem estar afetando negativamente o humor dos ativos de risco. O mesmo pode ser dito em relação aos ativos dos países emergentes e as commodities, que mantiveram-se pressionadas ao longo de todo o dia.

Minha visão, descrita neste fórum ao longo dos últimos dias, permanece inalterada. Com o Fed, nos EUA, migrando para dar início a um processo, lento e gradual, de alta de juros, e os números de crescimento na China confirmando uma economia estruturalmente mais fraca, parece que estamos retornando ao cenário que predominou ao longo de grande parte do primeiro semestre deste ano. Tanto os números da China, quanto o cenário para a política monetária nos EUA e na Europa, reforçam um ambiente de dólar forte no mundo, pressão sobre as commodities e os ativos dos países emergentes (especialmente aqueles com problemas estruturais, econômicos e políticos), mas um ambiente mais ambíguo para as taxas globais de juros nos países desenvolvidos. Nos atuais níveis de preço, vejo pouco valor nas bolsas dos países desenvolvidos, especialmente nos EUA.

No Brasil, os ativos locais, especialmente o BRL e a curva longa de juros, continuam mostrando dinâmica mais positiva do que os seus pares globais. Ao que tudo indica, parece estar havendo algum fluxo pontual nestas classes de ativos. O mesmo não pode ser dito para o mercado de renda variável, que sofreu forte pressão desde a divulgação dos fortes dados de mercado de trabalho nos EUA na sexta-feira, revertendo grande parte da alta verificada nas últimas semanas.

Como comentei pela manhã, o fluxo de notícias locais continua negativo, mas alguns investidores parecem ver valor nos atuais níveis de preço. Em outras palavras, para alguns, os prêmios de risco dos ativos locais já embutem riscos suficientes, que justificam alguma alocação nestes ativos. Minha visão com relação ao país continua negativa e vejo estes movimentos/fluxos como pontuais. Apenas a equalização definitiva da crise política será capaz de reverter o quadro econômico negativo de maneira definitiva.


A curva curta de juros me parece “fair” nos atuais níveis, frente aos riscos inflacionários e fiscais, mas diante de uma recessão profunda pro que passa o país. Acredito que a curva longa apresenta prêmios baixo diante das surpresas fiscais negativas e riscos crescente a inflação de 2016. Ainda vejo amplo espaço para novas rodadas de depreciação do BRL.

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