Desafios

Estamos passando por um dos períodos mais turbulentos para os mercados financeiros globais em cerca de dois anos (desde a última pernada da crise da Europa em 2012). No que diz respeito ao cenário interno, os desafios não são menores. Com o risco de fazer uma simplificação exagerada do cenário, seguem alguns comentários:

Brasil – O ambiente político continuará ditando a dinâmica dos mercados locais. Continuo vendo um bom momento para a candidatura de Aécio Neves. As pesquisas mostram que a força de Aécio no primeiro turno continua sendo refletida em reais intenções de voto no candidato do PSDB neste segundo turno. Além disso, o fluxo de notícias continua a seu favor. As alianças com o PSB em Pernambuco, e o apoio oficial de Marina Silva, serão importantes componentes na batalha pelos votos daqueles que optaram por Marina no primeiro turno e pelo voto dos indecisos. A mídia e a sociedade civil parecem estar a favor de uma alternância do poder executivo, dando amplo destaque ao escândalo da Petrobras, e aos depoimentos dos envolvidos (leia-se Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef). Finalmente, vejo uma postura firme, e uma campanha acertada de Aécio neste segundo turno. Todas as acusações e rumores feitos pelo PT vêm sendo prontamente respondidas, o que mostra firmeza e preparo para assumir um cargo como o de presidente, o que Marina Silva não demonstrou no primeiro turno. Acredito que este ambiente deveria dar algum suporte aos ativos locais. Vejo um mercado descrente na possibilidade real de uma mudança política no país. Assim, a posição técnica dos ativos locais me parece favorável, e o risco/retorno idem, para posições otimistas com o Brasil. Este cenário precisa ser avaliado diariamente, de acordo com os preços dos mercados e dos eventuais “fatos novos” nas eleições. Olhando de hoje, vejo os ativos locais mal precificados para este bom momento de Aécio Neves. Ainda vejo um segundo turno extremamente competitivo. As eleições serão vencidas nos detalhes. Por hora, vejo uma leve vantagem de Aécio nesta corrida, o que não me parece estar sendo devidamente precificado pelos ativos locais.

Externo – Acredito que temos que dividir o cenário externo entre aquilo que está ocorrendo no curto-prazo, e o ambiente que ainda deve prevalecer no longo-prazo.

Curto-prazo – No curto-prazo, estamos passando por um período natural, e até mesmo saudável, de realização de lucros e acomodação dos ativos de risco. Até algumas semanas atrás, eu chamava a atenção para um ambiente insustentável de volatilidades extremamente baixas, preços excessivos de algumas classes de ativos e posições técnicas ruins. Os sinais de menor crescimento global, aliados ao risco do Ebola, e a proximidade do fim do QE nos EUA, parecem estar sendo alguns dos argumentos utilizados para este movimento coordenado de “risk-off” global.
Longo-prazo – No longo-prazo, ainda vejo os bancos centrais das principais economias do mundo (leia-se Europa, Japão e China) com disposição em manter e, caso necessário, expandir, suas políticas monetárias de suporte ao crescimento. Até mesmo o Fed, que deve encerrar o QE ainda este mês, vem dando claros sinais de que pretende adotar postura extremamente gradual e cautelosa na condução do processo de normalização monetária no país. Ao longo do tempo, deveremos ter um ambiente menos expansionista nos EUA, e um menor crescimento estrutural da China, mas os bancos centrais ainda parecem preparados e dispostos a agir para que este processo seja feito da forma menos traumática possível aos mercados financeiros globais.


Em suma, os ativos de risco parecem ter ficado tecnicamente mal posicionados no curto-prazo. Contudo, parte do ajuste de volatilidade, preços e posições parece ter sido feito nas últimas duas semanas. Será sempre difícil saber até onde este processo de ajuste irá chegar, mas continuo vendo motivos para acreditar que esta seja mais uma realização de lucros clássica que os mercados costumam apresentar em ciclos econômicos. Acredito que precisamos de uma sequencia de dados de crescimento econômicos mais positivos, ou de declarações mais incisivas dos bancos centrais ao redor do mundo, para que este processo de correção chegue ao fim. Por hora, vejo essa desaceleração global como um “soft patch”. Mudarei minha visão, e adotarei um viés mais negativo, caso a economia global não mostre reação nos próximos meses e os bancos centrais das economias desenvolvidas se mostrem incapazes de conter a espiral negativa de crescimento.

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