"Fato Novo" nas Eleições

O final de semana foi tumultuado, com ampla cobertura da mídia em torno de novas acusações sobre o governo Dilma e sua base aliada no âmbito local. No ambiente externo,  novas pesquisas, a pouco mais de uma semana de um referendo na Escócia, apontaram para uma vitória dos separatistas, o que poderia causar um grande problema econômico para a região em um primeiro momento.

A semana que se aproxima será de agenda relativamente esvaziada, mantendo o foco no cenário político local e nas expectativas para a reunião do Fed nos EUA na outra semana. Além disso, o mercado ainda precisa digerir de fato as últimas medidas anunciadas pelo Banco Central Europeu (BCE).

Brasil – O destaque absoluto da mídia no final de semana está por conta dos primeiros nomes de políticos e partidos políticos que foram vazados da delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor e agora preso e acusado na Operação Lava-Jato. Por hora, estamos vendo uma postura agressiva, e de ataque, por parte de Aécio Neves, mas uma posição defensiva por parte de Dilma e de Marina. Tentando ser conciso e pragmático em meu argumento, acredito que este “fato novo” é extremamente negativo para Dilma, levemente negativo para Marina, mas positivo para Aécio. Tenho dúvidas em acreditar que Aécio consiga uma alavancagem dos 15% de intenções de voto que tem hoje nas pesquisas, sendo capaz de se aproximar dos cerca de 30% das outras duas candidatas competitivas. Acredito que possa crescer nas pesquisas, mas seja incapaz de uma subida rápida para brigar novamente pelo segundo turno. Acredito que Marina esteja bem posicionada para refutar as acusações sobre Campos, já que “Marina não é PSB, mas está PSB”. Tem uma reputação inidônea e um discurso que rechaça a “velha política”. Não deve passar ilesa, especialmente devido à má explicada situação do jato que tirou a vida de Campos, mas tem capital político para se distanciar do problema sem causar danos maiores a sua candidatura. Já Dilma, por sua vez, se vê em situação extremamente delicada. Como ex Ministra de Minas e Energia, ex integrante do conselho da Petrobras, e presidente que manteve intacta uma diretoria acusada de roubo na maior empresa do país, dificilmente conseguirá dissociar seu nome ao “fato novo”. A situação está sendo colocada como a continuação do “Mensalão”, mas em proporções muito maiores. Uma indicação clara de que o PT e sua base aliada não se sentiram coibidos após a condenação, e posterior prisão, do núcleo do partido. Por mais que as acusações não sejam confirmadas até as eleições, o estrago está feito. A mídia e a oposição irão usar este tema como foco nos próximos dias. Diante deste cenário, as pesquisas eleitorais de curtíssimo-prazo ganham importância dobrada, mantendo o cenário macro em segundo plano. Tenho o viés de acreditar que o esboço de reação de Dilma nas últimas pesquisas Ibope e Datafolha se mostrará temporário e frágil, especialmente após os eventos do final de semana.

Inglaterra – Daqui a menos de 10 dias será feito um referendo na Escócia para a independência, ou não, do país em relação a Grã Bretanha. As últimos pesquisas divulgadas no final de semana mostraram, pela primeira vez, o voto pela independência superando o voto pela manutenção do status quo. A independência da Escócia será bastante negativa economicamente para o país e para a região em um primeiro momento, pelas inúmeras incertezas que irá gerar. Não se sabe a moeda que o país adotará, o tamanho do setor público local, qual real tamanho da dívida do país, como serão montadas as instituições e assim por diante. O problema é local e não deveria gerar contaminação para o resto do mundo, mas vem ganhando atenção dos investidores desde o final da semana passada.

EUA – Os dados de emprego de agosto, divulgados na sexta-feira, decepcionaram as expectativas do mercado. Contudo, vale a pena destacar que o Fed vem sinalizando que não está olhando para um indicador específico, mas para uma série de números de emprego e renda no país. Acredito que os números tiram a urgência de uma mudança de postura ou sinalização por parte do FOMC já na reunião de setembro, mas não alteram o plano de voo da instituição. Me chama a atenção o fato de vários economistas do Fed estarem divulgando estudos em torno do mercado de trabalho americano nos últimos dias e, em sua maioria, apontando para o menor slack do mercado de trabalho, já que o potencial de crescimento da economia seria menor hoje do que no passado, e a baixa participation rate ser estrutural e não cíclica. Acredito que estes estudos possam estar embasando as decisões do comitê e, até mesmo, alterando o viés de Yellen. Em sua coletiva de imprensa após a decisão do FOMC daqui a 10 dias, espero um discurso mais neutro, na linha do que vimos em Jackson Hole.


Europa – O BCE voltou a surpreender positivamente o mercado, com atuação proativa e agressiva. Acredito que as medidas anunciadas irão ajudar a dar algum suporte a economia e aos mercados da região. Assim como o Fed fez no passado, Draghi está colocando uma put do mercado, que deveria continuar dando suporte as bolsas e aos bonds da região, e mantendo o EUR sobre pressão. Correções pontuais podem, e devem ocorrer, mas devem ser breves e pouco acentuadas.

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