BCE e USD em Foco

Na expectativa da decisão do Banco Central Europeu essa semana, assim como a espera de novas evidências de solidez da economia norte americana, continuam dando suporte as bolsas globais. Contudo, voltamos a observar um claro viés de fortalecimento do USD no mundo. O movimento que começou contra moedas consideradas low yields começa a se espalhar, consolidando-se em um movimento mais amplo de dólar forte no mundo (vide abaixo comentários de ontem sobre a busca por hedges). Finalmente, a manhã está sendo marcada por uma leve abertura de taxas de juros nos EUA, o que está dando suporte a abertura de taxas ao redor do mundo e ajudando a dar sustentação ao USD. Os movimentos de hoje me parecem clássicos do mercado se posicionando para uma eventual nova rodada de dados econômicos positivos provenientes da economia americana, começando com o ISM Manufacturing hoje e encerrando com os dados de emprego na sexta-feira.

A agenda do dia será agitada, com destaque para a PIM no Brasil e o ISM Manufacturing nos EUA. Na Europa e na Ásia a agenda foi esvaziada, sem destaques relevantes.

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Acredito que o cenário externo pode ser o principal driver dos mercados globais essa semana. Com uma agenda delicada de eventos, estou desconfortável com os níveis de várias classes de ativos vis-à-vis os potenciais riscos que a agenda da semana pode acabar trazendo. Assim, acredito que seja válida a busca por hedges para cada um dos eventos descritos abaixo, ou posições com risco/retorno capazes de envolver mais de um dos temas comentados a seguir.

Neste ambiente, olharia calls de USD contra moedas EM e high yields. As vols ainda estão extremamente baixas, e o mercado ainda é short USD contra esses pares de moedas. Moedas do leste europeu com fundamentos frágeis me parecem o caso mais óbvio, dado a proximidade com a Rússia, a desalavancagem necessária em um potencial ajuste de juros nos EUA ou devido a uma surpresa negativa do BCE. Puts de bolsas dos países desenvolvidos, especialmente na Europa, também se enquadram neste ambiente. Vale deixar claro que não vejo essas posições como direcionais, já que a probabilidade de ocorrência dos eventos abaixo ainda me parece baixa, mas como hedges par aqueles que vêm surfando o momento positivo de Brasil e EM em geral.

No Brasil, o mercado ainda me parece extremamente técnico, mas precisa urgente de uma saudável (e ate natural) acomodação/realização de lucros. Hoje foi o primeiro dia que o mercado mostrou sinais de fadiga, com alguns setores da bolsa mostrando fraqueza, o USD tendo dificuldades em se depreciar, mas a curva de juros ainda stopando posição de steepening, que imperavam até poucos dias atrás. Acredito que a consolidação de Marina na liderança ainda seja positiva para os ativos locais, mas acredito que o mercado dará oportunidades de alocação a preços melhores. Contudo, ainda não vejo motivos para grandes correções nos ativo locais. As realizações de lucro, na ausência de fatos novos, devem ser pontuais e pouco acentuadas. Assim, a busca por hedges externos parece fazer sentido.

Na Europa, o BCE criou elevadas expectativas para sua reunião de quinta-feira. Acredito que Draghi e Cia. estão dispostos a colocar em prática novas medidas de estímulo, mas tenho dúvidas de quanto isso já está precificado nos mercados. Acredito que, para surpreender o mercado, Draghi terá que anunciar, ou pelo menos se comprometer, com um programa de QE relativamente amplo e agressivo. Cortes de juros e a implementação do programa de compras de ABS já me parecem consenso e precificados nos ativos europeus.

Ainda na Europa, o problema na Ucrânia parece longe de uma solução. A despeito de uma forte pressão nos ativos russos, ainda não vimos sinais de contágio nos demais ativos de risco ao redor do mundo. Não descarto ruídos pontuais provenientes da região, que podem acabar gerando uma breve realização de lucros dos ativos de risco, com algum contágio para outras regiões que não somente Rússia e Ucrânia.


Nos EUA, todos os indicadores apontam para dados de emprego fortes em agosto, que serão divulgados na sexta-feira, e podem ser determinantes nos próximos passos de política monetária americana. Vale lembrar que os juros americanas só estão baixas devido a forte pressão nas taxas de juros da Europa, e devido aos ruídos geopolíticos na Ucrânia. Caso o Fed volte a pauta dos mercados, temos amplo espaço para reprecificações da curva de juros americana.

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