Busca por assimetrias e cautela

O final de semana foi sem dúvida alguma marcado pela divulgação dos dados de atividade econômica de agosto na China (mais comentários no post anterior). Os números mostraram uma economia fragilizada, sem nenhum sinal de que as medidas colocadas em prática nos últimos meses foram suficientes para estabilizar o crescimento em torno de 7%-7,5% ao ano.

A semana que se aproxima será extremamente relevante para a dinâmica dos mercados financeiros globais, com destaque para a reunião do FOMC nos EUA, e para o referendo de independência da Escócia na Grã Bretanha. No Brasil, uma nova rodada de pesquisas eleitorais irá determinar a real diferença de intenções de voto em um eventual segundo turno entre Marina e Dilma.

Acredito que o momento seja de ter postura mais cautelosa, buscando posições em temas específicos, posições com assimetrias positivas e hedges para eventuais eventos de cauda. Acredito que a parte curta da curva de juros local, já oferece prêmio razoável para se ter posições. Como é sempre difícil saber até onde a correção irá, sugiro montar a posição em fases. Uma outra maneira seria trabalhar com alguns hedges. Vejo posições Long USD, posições tomadas em taxa de juros nos EUA, e posições Long Volatilidade (puts de bolsas globais, calls de USD e afins), como hedges razoáveis neste cenário. A despeito da alta recente das volatilidades implícitas desses ativos, elas ainda encontram-se nos níveis mais baixos em vários anos. Além disso, muitos índices de bolsa atingiram os maiores níveis deste ciclo econômico, e a probabilidade de queda mais acentuada não me parece bem precificada.

Brasil – O final de semana não trouxe grandes novidades do ponto de vista eleitoral, que continuará sendo o principal driver dos mercados no curto-prazo, deixando os fundamentos econômicos em segundo plano. As revistas semanas trazem novas acusações contra membros do atual governo Dilma e do antigo governo Lula. Especula-se, inclusive, o envolvimento de Lula em questões referentes a Petrobras e a antigos escândalos protagonizados pelo PT. Contudo, por hora, a oposição tem tido imensas dificuldades em capitalizar em cima dessas acusações. Em termos de campanha, Dilma continua adotando uma postura agressiva e de enfrentamento, desconstruindo a imagem de Marina. Esta estratégia tem se mostrado vencedora e deve continuar ditando o rumo da campanha de Dilma. Marina, por sua vez, parece encurralada, e sem uma estratégia digna de uma candidata lutando de igual para igual pela presidência do país. Eu, particularmente, achei extremamente fraca a tentativa de Marina de se fazer de vítima durante o final de semana. Na minha visão, precisará, urgentemente, alterar sua postura para continuar brigando pela presidência do país. As pesquisas dessa semana irão balizar, de fato, o patamar das eleições. Ao que tudo indica, Marina e Dilma devem manter um empate técnico até o segundo turno, onde a corrida eleitoral irá se tornar mais igualitária em termos de tempo de TV, e novas alianças políticas podem ser efetivadas.

EUA - No cenário externo, não há dúvidas de que o principal evento da próxima semana será a decisão do FOMC. Acredito que Yellen fez um excelente trabalho, via seus Governors, e através da mídia, preparando o mercado para uma mudança no comunicado que será divulgado após a reunião. Na minha visão, a probabilidade de uma mudança no comunicado do FOMC na semana que vem é real e crescente. Como tenho insistido, estamos em um importante ponto de inflexão de política monetária no país, com o fim do QE cada vez mais próximo, e o debate em torno do timing para a alta de juros se tornando mais intenso. Acredito que seja natural esperar um maior prêmio de risco (vols mais elevadas) no mercado. Contudo, parte disso já parece ter sido precificado pelo mercado na última semana. Finalmente, qualquer movimento mais brusco do mercado será contido por Yellen em sua press conference após a reunião.


Europa - Os ativos da Inglaterra apresentaram forte volatilidade nos últimos dias, com as pesquisas para a independência da Escócia mostrando empate técnico. Uma eventual independência da Escócia será bastante negativa economicamente para o país, podendo gerar um clima mais negativo para os mercados globais no curto-prazo, pelas inúmeras incertezas que irá gerar. Não se sabe a moeda que o país irá adotar, o tamanho do setor público local, qual real tamanho da dívida do país, como serão montadas as instituições, e assim por diante. 

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