Primeiras Impressões

Após uma semana e meia de férias, acho válido fazer uma breve análise dos acontecimentos dos últimos dias.

Eu vinha com uma visão mais cautelosa do cenário externo, vendo um acúmulo de riscos, em um ambiente de prêmios comprimidos, e posição técnica ruim. Minha visão passou de cautelosa para negativa. Se, por um lado, não há motivos específicos para um risk-off mais acentuado, vejo com imensa preocupação a baixa capacidade do mundo em crescer. Os níveis de preço de várias classes de ativos não se justificam diante deste cenário.
 
 
Os dados de importação e exportação de abril, na China, que foram divulgados neste final de semana mostram uma economia local ainda fraca, e uma demanda externa patinando (mais adiante).

Nos EUA, ainda não há evidências claras de recessão, mas o crescimento se mostra baixo, com o hiato do produto fechando, e a produtividade baixa. Parece-me um cenário negativo para o setor corporativo.

No Japão, o BoJ parece impotente em lidar com uma moeda forte, um crescimento baixo com inflação declinante. Na Europa, o ECB está em compasso de espera, mas o mix de crescimento e inflação baixos não deixa a desejar ao Japão. Além disso, problemas pontais e específicos de alguns países de região ainda podem trazer alguns traumas a Europa.

China me parece uma fonte de preocupação crescente. O crescimento mostra uma frágil estabilização, à custa de uma insustentável expansão de crédito. O esforço nessa frente foi tremendo nos últimos meses, com uma resultante pouco inspiradora (muito crédito para pouco crescimento). Neste ínterim, o governo precisa lidar com bolhas especulativas nos mercados locais de commodities. 

Um mundo com baixo crescimento, ainda alavancado (ou se alavancando) não me parece saudável para alguns (ou vários) mercados, como os emergentes e as commodities.


No 
Brasil, sai no auge do otimismo em relação a um eventual governo Temer. Desde então, vimos um bom desempenho do mercado de juros, um movimento mais volátil do BRL, capitaneado pelas intervenções do BCB, é uma pressão no Ibovespa.

O crescimento mostra sinais incipientes de estabilização, que pode ser acentuado por um choque de expectativas. A inflação dá sinais mais negativos no curto-prazo, mas concentrada em poucos itens e com altas pontuais. O BCB manteve os juros estáveis e ainda não vê janela para queda na taxa Selic. O resultado trimestral de algumas empresas e setores mostraram os enormes desafios que o país enfrenta.


Minha visão preliminar pós-ferias continua positiva para o mercado de juros real e nominal, na barriga da curva, em especial. Vejo pouco valor no BRL em torno de 3.5. No mercado de RV, ainda vejo espaço para uma reprecificacao de cenário, mas o externo me preocupa, e o curto-prazo local ainda será desafiador para grande parte dos setores da bolsa. No câmbio, fluxos pontuais ainda podem ajudar o bom desempenho do Real, mas uma postura tática me parece mais prudente.


O cenário político segue fluido. O afastamento de Cunha pelo STF ainda não trouxe grandes consequências para o cenário. Afinal, sua situação já era complicada e insustentável. Meirelles deverá mesmo ser o comandante da economia, o que trará credibilidade e tato político ao ministério da fazenda, mas não reduzirá os desafios. A montagem do BCB será gradual.


A curva curta de juros precifica cerca de 150-200bps de queda nos próximos meses. Não tenho convicção de quando o ciclo será iniciado. Contudo, se o BC optar por esperar mais um tempo, poderá colher um ciclo maior e mais agressivo de queda de taxas no futuro próximo.


Essas são impressões iniciais e resumidas da breve leitura que fiz do cenário. Devo voltar mais a fundo em alguns desses temas nos próximos dias.

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