Decepção do G7 / Ruídos no Governo Temer

No cenário externo, o destaque do final de semana ficou por conta da reunião do G7, realizada no Japão. Não era esperado nenhum anuncio ou medida concreta da reunião, mas o mesmo comunicado, geralmente vago e de pouco comprometimento, que marcou as últimas reuniões do Grupo. Contudo, como na reunião ocorrida em Shangai no início do ano, houve uma teoria por parte do mercado, de que as principais potencias do mundo haviam se comprometido e evitar mais uma rodada de apreciação desenfreado do dólar, a reunião no Japão acabou ganhando alguma atenção por parte dos investidores.

A reunião do G7 trouxe mais dúvidas do que conclusões. O comunicado apresentando após o evento manteve as mesmas linhas gerais daquele apresentado na reunião anterior. O que ganhou mais destaque, contudo, foi a grande oposição entre Japão e EUA no que diz respeito a uma eventual intervenção no câmbio japonês. O país julga que a apreciação recente de sua moeda (JPY) tenha sido rápida, acentuada e fora dos padrões normais, tese que é refutada pelos EUA. Assim, não houve acordo entre os dois países para que o Japão tenha uma permissão para intervir no Iene.

Além disso, a despeito de haver uma visão comum de que o suporte fiscal seja necessário para retomar o baixo crescimento global, não houve um esforço de cooperação nesta frente. Neste quesito, a Alemanha mostra-se bastante cautelosa, apontando para o nível elevado do endividamento global.

Em linhas gerais, percebe-se que não há, como no passado, uma coesão entre as principais economias do mundo em temas polêmicos, porém importantes para o futuro crescimento mundial, como taxa de câmbio e incentivos fiscais. Diante de um mundo que cresce pouco, e um poder cada vez menos potente e limitado da política monetária, qualquer sinal mais consistente de desaceleração adicional do mundo poderá levar os investidores a preverem a próxima recessão global.

No Brasil, Temer voltou a trás de sua decisão, e recriou o Ministério da Cultura. Apesar de achar um tema pouco relevante para os mercados locais, tenho ouvido muitas opiniões fortes sobre o tema. Então, gostaria de deixar um breve comentário. Na política, assim como no meio corporativo, há espaço para erros e acertos. Não acho que necessariamente seja um erro Temer voltar atrás em sua decisão de extinguir  MinC. Talver o governo interino tenha chegado a conclusão de que uma coisa pequena estava gerando um ruído desproporcional. Temer, provavelmente tenha pesado este fato, e decidiu que vale a pena comprar brigas maiores, mas não esta.

Mantenho minha visão que o grande teste deste governo será no Congresso, nas primeiras votações de medidas que serão propostas pelo governo interino. Se vierem derrotas, só ai vou julgar o governo Temer como um fracasso. Por hora, Temer montou uma equipe econômica de ponta, e um Ministério político, menor que o anterior, mas satisfazendo os anseios de toda a sua base aliada. Agora, resta entregar resultados concretos. Sendo assim, julgo a questão do MinC como um ruído para os mercados, a despeito de poder ser um grande mote de debate para sociedade civil.

No final da tarde de sexta-feira, o governo anunciou um déficit fiscal primário de R$170bi para este ano, que deverá ser aprovado no Congresso no inicio da semana. O déficit é monumental, mas um grande esqueleto do governo Dilma. O mercado deverá se ater as medidas que serão adotadas para reverter este quadro fiscal ao longo dos próximos anos.

Nesta direção, os jornais de final de semana continuam ventilando medidas para reformar a previdência e as leis trabalhistas, setores essenciais para reverter o quadro fiscal e aumentar a produtividade do país.

Repito, a equipe montada é competente. O caminho a ser tomado já é amplamente conhecido. Agora, falta mostrar que existe competência política para aprovar o mínimo necessário para colocar o país de volta a rota do crescimento. Os investidores continuam céticos, mas a aprovação das primeiras medidas no congresso poderá ser o primeiro grande passo para convencer o mercado financeiro que Temer será capaz de tirar o país da atual conjuntura. 

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