Inflação, Taxa de Juros e Crescimento Global

O destaque do dia ficou por conta do IPCA-15 de maio no Brasil. A inflação apresentou alta de 0,86% MoM e 9,62% YoY, muito acima das expectativas de 0,76% MoM e 9,51% YoY. A surpresa altista ficou concentrada em poucos itens, muito deles administrados, e alguns outros sazonais. É inegável que a inflação corrente continua elevada e incompatível com as metas de inflação e com o início de um processo de queda de juros no curto-prazo. Assim, reafirmo minha visão de que não tenho convicção de quando será iniciado um processo de distensão monetária no país. Na minha opinião, a melhor estratégia para o novo Banco Central seria adiar o início de um ciclo de queda de juros por cerca de 3 reuniões do Copom. Caso a inflação corrente arrefeça, as expectativas de inflação caiam, e o governo consiga implementar algum ajuste fiscal crível, o BCB terá melhores condições de iniciar um ciclo de queda da taxa Selic, talvez mais rápido e acentuado do que faria se antecipasse o ciclo. Além disso, ganharia credencias e respeito perante o mercado.

No que tange a dinâmica dos ativos locais, o dia foi de forte apreciação do BRL, em um dia de humor externo mais calmo, e na ausência do BCB nos swaps reversos. Continuo sem viés em relação a grandes tendências para a moeda local. Mesmo com a surpresa inflacionária, o mercado de juros teve uma sexta-feira de bom desempenho, favorecido pelo humor externo, e pela melhor performance do câmbio. Continuo otimista com relação a um processo estrutural de juros mais baixos no país, concentrando as alocações na parte intermediária da curva nominal e real de juros.

O Ibovespa, contudo, apresentou mais um dia de desempenho ruim. Acredito que o ajuste fiscal que está sendo aventado poderá trazer efeitos colaterais ao setor corporativo, especialmente para os setores que durante anos foram favorecidos por medidas de incentivo por parte do governo. Além disso, a recuperação do crescimento poderá lenta e gradual, e o desemprego deverá continuar a subir nos próximos meses. Finalmente, existe um risco de “crowding-out” de recursos, caso se abre uma janela de IPO´s, privatizações, PPP e etc. Todos esses vetores parecem estar afetando o humor para a bolsa local, pelo menos temporariamente.


No cenário externo, o dia foi de consolidação dos mercados. Gostaria de chamar a atenção apenas para a divulgação das exportações de Taiwan. Devido a seus estreitos laços comerciais com a China, e por ser uma economia bastante aberta, com uma corrente de comércio elevada, as exportações de Taiwan costumam ser vista como uma boa proxy para o crescimento global. O número divulgado hoje reforça os sinais de arrefecimento do crescimento da China. Segundo o HSBC: Taiwan's export orders were significantly worse than expected in April at -11.1% y-o-y. There were sharp falls in orders from the US and Europe, while demand from China and Japan remained weak. Gains in the electronic sector last month were completely wiped away in April, as orders for electronic goods and communication equipment such as smartphones fell back into a steep contraction. The weaker readings on the external front are likely to pose further headwinds to domestic demand, which is already showing signs of slowing.  

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