Brasil em Foco.

Michel Temer, em conjunto com sua equipe econômica, divulgou hoje medidas preliminares de ajuste fiscal (mais detalhes no decorrer deste fórum). As medidas, em grande parte, ficaram dentro do que já vinha sendo ventilado pela mídia nas últimas semanas. As medidas são positivas e vão de encontro a necessidade de um ajuste fiscal de longo-prazo para o país.

Contudo, vale ressaltar que, (1) Parte das medidas precisará passar pelo crivo do Congresso, cujo o apoio ainda não é garantido, (2) O governo está preferindo “empurrar” parte do peso do ajuste para o futuro, tornando a trajetória da dívida/PIB ainda preocupante no curto-prazo, especialmente caso tenhamos crescimento baixo nos próximos anos, (3) Não observamos medidas mais agressivas, talvez impopulares, mas necessárias para garantir um ajuste, no mínimo, necessário para evitar a escalada do endividamento do país (aumento de impostos, Previdência e etc).

Os pontos de interrogação descritos acima, somados a uma posição técnica ruim, e aos recentes ruídos trazidos pelo “Evento Jucá”, mantiveram a dinâmica dos ativos locais ruim, especialmente vis-à-vis o que observamos no resto do mundo ao longo do dia de hoje.

Em relação a posição técnica, minha impressão é que os fundos locais já estão bastante otimistas com o cenário, e posicionados via juros nominais, juros reais e BRL. Em contrapartida, os investidores estrangeiros continuam céticos. Os dados do BoP divulgados hoje, com mais um mês de vendas liquidas de ativos de renda fixa, apenas confirmam está tese. O fluxo cambial para o mês de maio é mais um indício nessa direção, assim como a consistente redução da exposição dos investidores estrangeiros na dívida local nos últimos meses.

Minha impressão é que este governo precisará aprovar alguma medida de impacto no Congresso, para provar que tem apoio político, para que a próxima rodada de apreciação dos ativos locais aconteça. A votação da meta fiscal é importante neste aspecto, assim como o número de votos favoráveis ao governo. Todavia, este é apenas um passo inicial nesta direção. Eu, particularmente, acredito que a aprovação é praticamente certa. Adiar a proposta, ou uma derrota do governo, irá apenas gerar um ruído grande e desnecessário.

Voltando ao ajuste fiscal, jogar parte do peso do ajuste para o futuro, naturalmente deixa o impulso fiscal para o curto-prazo maior do que em um cenário de ajuste fiscal mais agressivo o que, consequentemente, reduz o espaço para cortes de juros.

Enquanto isso, a Operação Lava-Jato segue a todo vapor, com riscos imensuráveis a todos os partidos, ao governo interino e a oposição. Este talvez seja um dos principais riscos ao Governo Temer.

Resumindo, acredito que as intenções do governo são boas. A equipe é competente. Mas precisam mostrar que estão bem amparados no Congresso para aprovar as medidas necessárias ao país. Estou com baixa exposição a risco, na espera de um cenário mais claro, ou de níveis de preço mais atrativos. Continuo com baixas convicções em relação ao BRL e ao Ibovespa, preferindo focar os esforços no mercado de juros.

Segue um breve comentário de nossa área econômica sobre o pacote de medidas anunciado hoje:

>> As medidas fiscais são medidas positivas, embora deixe o ajuste mais para frente (inclusive joga o esforço para os próximos governos). O teto de gastos (via PEC, o que não é tão fácil de passar) é função da inflação do ano anterior. No longo prazo isso funciona muito bem. Para o próximo ano, é uma regra relativamente frouxa para dada trajetória de inflação. Se a inflação ficar entre 7,04%em 2016 (como está no Focus) e desacelerar para algo como 5,5% (como está no Focus) em 2017 e caso a economia cresça 0,5%, o PIB nominal cresceria algo como 6% em 2017 (supondo deflator implícito igual ao IPCA), ou seja, as despesas em 2017 ainda cresceriam em percentagem do PIB. A medida de teto de gastos ainda necessita de maiores detalhes, tem que desvincular despesas em saúde e educação e precisa fazer algo para conter gastos sociais e previdenciários (que crescer mais rápido que o PIB, pelo crescimento vegetativo dos benefícios – os apesentados tendem a aumentar a uma taxa de 4% ao ano e com ajuste APENAS pelo INPC dos benefícios, superam o crescimento do PIB nominal). Não é uma tarefa fácil. O governo ainda anunciará medidas adicionais.
>> O governo tem sinalizado que não fará maiores esforços de contenção fiscal no curto prazo (anunciou um amplo déficit primário, de R$170,5bi para 2016). Ou seja, o governo tentará beneficiar de sua credibilidade para aprovar medidas com impactos de médio e longo prazo, entre elas reformas como: trabalhista, previdenciária e de limite de gastos.

>> A medida de devolução de R$100bi do BNDES para o Tesouro em alguns anos (R$40 bi esse ano e outras duas parcelas de R$30bi). É uma medida muito positiva, diminuirá o subsídio e também o tamanho da dívida bruta.

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