Sinais de Estabilização do Crescimento Chinês

O final de semana foi agitado, com a divulgação do PMI Oficial na China, troca de acusações públicas entre EUA e China, e com a mídia digerindo o cenário de baixa crescimento no Brasil.

China - O PMI Manufacturing saiu de 50,4 para 50,8 pontos em maio, acima das expectativas de 50,7. A abertura do indicador mostra um saudável avanço do sub-índice de New Orders. O PMI confirma o que já tinha sido sinalizado pelo HSBC Flash PMI, ou seja, uma estabilização da economia, mas ainda em patamar preocupantemente frágil. Nas últimas semanas, o Governo e o PBoC optaram por adotar uma série de medidas mais proativas e agressivas, com o intuito de colocar um piso no crescimento e buscar a meta de PIB de 7,5% para este ano. Acredito que, nos próximos meses, devemos ver um processo gradual de estabilização da economia, suportada pelas últimas medidas do Governo. Acredito ainda que, no curto-prazo, o mercado pode ter ficado excessivamente negativo com o cenário para o país. Contudo, não há duvidas que o país vive um dos momentos mas críticos dos últimos anos e, estruturalmente, terá que conviver com um ambiente de crescimento mais baixo e riscos crescentes provenientes do mercado imobiliário e de crédito. Gosto de posições Long USDCNY, via opção longas, como hedge barato para uma eventual deterioração adicional da economia do país. Posições compradas em CDS de bancos chineses, que operam hoje em torno de 150bps, também me parecem fazer sentido.

Brasil - Duas divulgações na tarde de sexta-feira não devem passar despercebidas pelo mercado. Em primeiro lugar, o IBGE divulgou uma nota técnica em que afirma que irá levar em conta no cálculo do IPCA o desconto que a empresa de águas de São Paulo está oferecendo a seus clientes. Isto deve ter um impacto baixista entre 5 e 10bps no IPCA de maio. Esta postura não altera o cenário de inflação para o país, mas certamente ajuda na melhora do humor de curto-prazo em torno da inflação, especialmente em um momento em que as coletas rodam em patamar baixo. Em segundo lugar, o BC anunciou o começo da rolagem dos swaps cambiais que vencem este mês. Neste primeiro momento, ele irá ofertar cerca de US$250mm por dia na rolagem, o que irá manter a rolagem em torno de 50%, deixando vencer, novamente, cerca de US$5b ao final do mês. Vale lembrar, contudo, que sempre existe a opcionalidade do BC fazer rolagens maiores, caso o câmbio faça movimentos bruscos de depreciação. No tocante ao pano de fundo econômico, estamos claramente vivenciado um ambiente de menor crescimento, com perspectivas bastante negativas a frente. Isto vem sendo confirmado, inequivocamente, pelos dados de atividade e confiança. Assim, não é a toa que a bolsa e os yields locais vem operando sobre forte pressão baixista. Se este cenário for confirmando, tendo a acreditar que se desenvolve um panorama mais desafiador para o BRL, que ainda irá precisar lidar com um ambiente cada vez mais favorável ao USD no mundo, e um BC que já se mostra disposto a deixar o mercado de cambio mais livre. Assim, tenho o viés de acreditar que o 2,20 se caracterizou como um piso para o USDBRL. O mercado de juros, salvo uma mudança drástica de rumo dos juros americanos, deve ficar pressionados pelo cenário interno descrito acima. Posições compradas em USDBRL, combinadas com posição aplicadas em juros, podem fazer sentido. 

EUA vs China - Na noite de sexta-feira para sábado, uma troca de acusações públicas entre China e EUA parece ter estremecido as relações entre os dois países, e ganhou intensa cobertura da mídia. Em um fórum que está sendo realizado em Singapura, o Ministro do Departamento de Estado Americano criticou duramente a postura da China na Ásia, onde vem buscando um maior domínio militar na região. Em contrapartida, a China reagiu de maneira ainda mais dura, dizendo que se os EUA estão buscando inimigos ao redor do mundo, vão acabar tendo o que desejam.O problema me parece pontual e um risco totalmente de cauda. Eventualmente, pode afetar o humor dos mercados, mas dificilmente irá se desenvolver em algo maior. Dado o nível de preço dos ativos de risco e a baixa vol dos mercados financeiros globais, algum impacto pontual pode vir a ocorrer. Vamos ver se, em algum momento nos próximos dias, a situação retrocede, com ambos os países revendo suas declarações, o que me parece um cenário mais plausível.

EUA - Estou ainda longe de ter confiança em acreditar que o ciclo de fechamento de taxa de juros americano se encerrou, mas como o principal driver dos mercados globais tem sido esta classe de ativo, acho imperativo termos alguns cenários em mente. Acredito que existam 3 fatores, sozinhos ou em conjunto, que são capazes de alterar a dinâmica deste mercado. O primeiro, seria uma surpresa inflacionária altista, o que parece longe de ocorrer, especialmente após a divulgação do Core PCE essa semana. O segundo, seria uma mudança de postura ou discurso por parte do Fed, o que ainda não parece ter acontecido ou, em outras palavras, não parece ser consenso dentro do próprio Fed. Finalmente, seria o acúmulo de dados positivos, o que claramente vem ocorrendo nos últimos dias, e pode se intensificar ao longo da próxima semana. Neste caso, uma mudança de discurso por parte do Fed seria uma consequência natural. Dentro deste contexto, me chama a atenção a reversão do mercado de juros americanos na quinta-feira, onde um movimento claro de stops de posições tomadas em taxa foi revertido em um movimento, ainda tímido, de abertura de taxas de juros. Este movimento teve continuidade na sexta-feira, após dados extremamente fortes como o Jobless Claims e Chicago PMI. Nesta mesma linha, o dólar no mundo parece fazer uma tentativa de piso, e um movimento gradual de fortalecimento, especialmente contra as frágeis ZAR e TRY. Em suma, acho que para uma mudança de dinâmica do mercado, com aumento expressivo da volatilidade, precisamos nos surpreender com números de inflação mais altos, mas acho plenamente factível que o acúmulo de dados econômicos positivos seja capaz de colocar um piso no USD e nas taxas de juros americana, favorecendo uma tendência gradual de USD forte e abertura de taxas de juros. Este movimento, ainda incipiente, parece ter tido início no final da ultima semana, mas precisa ser confirmado/consolidado pelo ISM e Payroll na próxima semana. Com o técnico do mercado mais limpo, me atreveria a ter posições pequenas, com stops relativamente curtos, Long USD e Short US Bonds. Seria uma tentativa de "pegar a faca caindo", mas atualmente uma posição "contrarian" após a sangria que afetou o mercado nos últimos meses. Que fique claro que não estou prevendo um cenário nem de perto parecido com o que ocorreu no ano passado na véspera do "tapering", mas apenas uma mudança de dinâmica e tendência dos ativos, porém com movimentos mais ordenados e graduais.

Europa - Com crescimento surpreendendo para baixo e inflação perigosamente abaixo da meta do Banco Central Europeu, uma atuação do BCE essa semana é de extrema necessidade, mas também totalmente esperada pelo mercado. A agressividade das medidas, e a propensão de Draghi e Cia. em serem agressivos nas medidas e no discurso será fundamental para a efetividade das medidas. Acredito que não irão decepcionar. Este cenário tende a ser positivo para os ativos de risco globais, mas especialmente para as bolsas e bonds europeus, além de manter o EUR sobre pressão.

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