Brasil: Inflação, Crescimento e Câmbio / Risco Chinês
Brasil
– Na
sexta-feira, a divulgação do IPCA de maio mostrou uma inflação de 0,46% no mês,
acima das expectativas de 0,38%, mesmo após a implementação de uma nova metodologia
pelo IBGE a fim de computar os descontos na conta de água em São Paulo, o que
retirou quase 10bps do número. Em 12 meses, a variação saiu de 6,28% para
6,37%. Os núcleos, e o índice de difusão, permaneceram em patamar elevado,
tanto na comparação mês-a-mês quanto nas variações em 12 meses. No final da
tarde de sexta-feira, o Banco Central (BC) anunciou que irá estender o programa
de swaps cambiais. A duração e o
tamanho do novo programa serão divulgados em momento oportuno. O BC vende hoje
US$200mm por dia e vem “pilotando” as rolagens dos swaps vincendos de acordo com a dinâmica de mercado. Acredito que
seja prudente uma extensão entre 6 meses a 1 ano, mas com a redução das vendas diárias
de US$200mm para US$100mm. Não me surpreenderia se ele mantiver as vendas
diárias em US$200mm, mas optar por menores rolagens caso o cenário externo lhe
permita. Do ponto de vista econômico, o país vive um dos raros momentos, mas
infelizmente reais, de crescimento baixo e inflação elevada. No curto-prazo, o
mercado vem dando maior peso as surpresas negativas de crescimento que, aliadas
a manutenção dos juros estáveis na última reunião do Copom, acabou gerando um
forte fechamento de taxa da curva de juros. Eu entendo a postura do mercado em
acreditar que o próximo movimento na taxa de juros seja um movimento de queda
de taxas, já que este BC tem um histórico recente nesta direção. Contudo, mesmo com um
crescimento decepcionante, vejo que ainda existe uma rigidez grande na inflação
corrente, o que deveria dificultar, no ambiente atual, o BC a tomar atitude
nesta direção. Vejo os juros estáveis pelo menos até as eleições. Depois disso,
o mix de crescimento/inflação deverá
ser reavaliado. Para dificultar ainda mais o pano de fundo local, as pesquisas
eleitorais estão confirmando que a disputa presidencial será mais acirrada do
que o imaginado anteriormente, favorecendo um movimento clássico de alta na
bolsa, apreciação cambial e fechamento da parte longa da curva de juros.
Acredito que, no curto-prazo, este cenário eleitoral irá se sobrepor a qualquer
ambiente econômico externo ou interno.
China
– As
Exportações de maio subiram de 0,9% YoY para 7,0% YoY, levemente acima das
expectativas de 6,7% YoY. Contudo, as Importações passaram de 0,8% YoY para
-1,6% YoY, muito abaixo das expectativas de 6,0% YoY. Com estes resultados, a
Balança Comercial mostrou elevado superávit de US$35,9B. A despeito da
recuperação das exportações em maio, a fraqueza das importações deverá manter
um receio no mercado em relação à economia do país. Importações fracas indicam
um crescimento interno frágil, exatamente o que é temido pelo mercado e o que sendo
combatido pelo governo chinês. Continuo trabalhando com um cenário de que o
crescimento deverá mostrar algum tipo de estabilização nos próximos 2 a 3
meses, mas apenas suficiente para evitar uma nova espiral negativa da economia.
Não vejo razões para acreditar em uma aceleração mais rápida e acentuada da
economia. Para isso, o PBoC e o governo vem agindo de forma mais proativa e
agressiva nas últimas semanas e, na minha visão, novas medidas devem ser
colocadas em prática em breve. Infelizmente, o modelo econômico chinês parece
ter se esgotado e o mercado será obrigado a conviver com um crescimento estrutural
da economia chinesa menor do que no passado. Além disso, os riscos no mercado
imobiliário e de crédito são reais e crescentes. Vejo a China como o principal
risco para a economia e os mercados financeiros globais este ano. Os ativos que
dependem da demanda do país devem continuar sobre pressão e under-performando seus pares. Movimentos
pontuais de “bear-market-ralliy” nestes
ativos podem, e devem ocorrer, mas são cada vez mais tímidos e menos recorrentes.
EUA
– A
agenda da semana
será esvaziada, com destaque apenas para as Vendas no Varejo na quinta-feira. A
reunião do FOMC, na outra semana, deve ganhar atenção especial frente aos
últimos números de crescimento, emprego e confiança. Acredito que já existem evidências
suficientes para o Fed adotar um discurso mais otimista em relação aos avanços
atingidos no mercado de trabalho. Por mais que o gradualismo ainda seja a opção
a ser adotada no que diz respeito a normalização da política monetária, acredito
que os mercados estejam mal precificados para este ambiente. Os Dados de Emprego na sexta-feira foram o
destaque da semana passada. O Payroll apresentou uma criação de 217 mil vagas
de trabalho em maio, sem grandes revisões para os meses passados, deixando a
média móvel de 3 meses em torno de 235 mil vagas criadas, o quarto mês
consecutivo de uma alta superior a 200 mil. A Taxa de Desemprego, que havia
caído de 6.7% para 6.3% no mês passado, ficou estável em maio, contra
expectativas de alta para 6.4%. Os dados de earnings, e os detalhes da pesquisa da Taxa de
Desemprego, apontam para mais uma rodada de recuperação do emprego e dos
rendimentos, o que reduz, gradualmente, o “slack”
da economia. Classificaria o número como bastante positivo, principalmente
frente aos recentes dados de crescimento da economia.
Mercados
– Dentro do cenário que desenhamos neste fórum
na semana passada: “Payroll entre 150k e 220k = Risk On. Juros americanos permanecem
sem vol, com crescimento OK e inflação ainda baixa. Deveria favorecer os ativos
de risco, EM e Carry.”. Adicionaria algumas observações. Achei o número de emprego nos
EUA bastante positivo, mas entendo que vindo logo após uma decisão de política
monetária agressiva por parte BCE, podemos ter mais uma rodada de busca por
risco e yields,
favorecendo as bolsas globais, EM e Carry.
Contudo, acho que já existem evidências suficientes para acreditar que a
economia americana se encontra em bases sólidas para um crescimento robusto de
agora em diante. Assim, o processo de normalização monetária por parte do Fed,
mesmo que gradual, deve continuar, o que ainda me parece mal precificado no
mercado. Espero uma tendência gradual de abertura de taxa de juros nos EUA, que
deve dar suporte, em um primeiro momento, a USD contra G10. Os ativos EM podem
continuar “surfando” o ambiente positivo no curto-prazo, mas assim que o Fed
mudar seu discurso, ou a curva de juros americana apresentar abertura de taxa
mais contundente, esses fluxos para EM e Carry podem se reverter rapidamente. No
Brasil, a possibilidade de derrota de Dilma deve dar novo ímpeto aos ativos
locais, que podem apresentar desempenho relativo melhor do que seus pares no
curto-prazo. A bolsa, e papéis como Petrobras e Banco do Brasil, devem ser os
ativos mais reativos as pesquisas eleitorais.
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