BoE, Petróleo e China

Nos últimos dias, 3 eventos extremamente relevantes surgiram no cenário, e são capazes de alterar significativamente a dinâmica dos mercados globais. São eles (1) cenário de política monetária na Inglaterra, (2) alta no preço do petróleo e (3) dados de atividade econômica na China. Abaixo, segue uma visão geral de cada um desses vetores. Uma conclusão rápida me leva a crer que estes vetores tendem a ser um pouco mais negativos para os ativos de risco como um todo, em especial, ao mercado global de ações. Estes eventos também deveriam colocar alguma pressão sobre o bonds dos países desenvolvidos, estimulando mais uma rodada de abertura de taxas, em especial na Inglaterra e nos EUA.

Inglaterra – Ontem a noite, o presidente do banco central do país, o BoE, deu declarações preparando o mercado, e a economia real, para uma eventual alta de juros. Segundo ele, o processo de normalização monetária no país pode ocorrer muito antes do que é esperado pelo mercado. As taxas de juros de 2 anos abrem 15bps hoje e o GBP já subiu cerca de 1% desde suas declarações. O cenário de política monetária na Inglaterra, por si só, não deveria ser de extrema relevância para os demais mercados globais. Contudo, o processo de recuperação econômica do país, assim como todo processo de política monetária nos últimos anos, tem sido um bom antecedente do que está por vir nos EUA. Assim, a sinalização de que o mercado possa ter ficado leniente no tocante ao processo de alta de juros lembra aos investidores que os juros zero ao redor do mundo é cíclico e, em algum momento, mesmo que em um processo de gradual, precisará ser ajustado. Vejo duas consequências para este evento: (1) o mercado ficará ainda mais defensivo para a reunião do FOMC na semana que vem. Eu, particularmente, vejo o mercado de juros nos EUA mau precificado vis-a-vis os últimos números de crescimento, emprego e confiança e (2) a postura do BoE pode tornar o ambiente para ativos de risco um pouco menos favorável, já que a percepção em relação a políticas monetárias expansionistas nos países desenvolvidos pode ficar abalada, pelo menos no curto-prazo.

Petróleo - Vale a pena chamar a atenção para a alta no preço do petróleo nos últimos dias, principalmente após os acontecimentos recentes no Iraque. Caso se consolide uma tendência mais acentuada de alta nos preços, podemos ter consequências maiores para alguns ativos, especialmente para aqueles países importadores desta commodity, como é o caso de Turquia e África do Sul. A alta no preço do petróleo também pode mudar o cenário inflacionário de alguns países e regiões, como Europa e Canadá, reduzindo o espaço para novas medidas de expansão monetária. Com uma agenda macro mais esvaziada nos próximos dias, os acontecimentos no Iraque, e no preço do petróleo, podem acabar ganhando a atenção dos investidores. De maneira geral, altas no preço do petróleo, provenientes de choques de oferta, por sua vez derivadas de ruídos geopolíticos, costumam ser negativos para os ativos de risco.

China – Exceto pela recuperação nas vendas do varejo, que saiu de 11.9% YoY para 12.5% YoY, acima das expectativas do mercado (12.1% YoY), a produção industrial (8.8% YoY) e o Fixed Asset Investment (17.2% YoY) ficaram dentro das expectativas. Os números mostram uma incipiente estabilização do crescimento, mas ainda me parecem insuficiente para qualquer tipo de otimismo em relação ao crescimento. Acredito que os dados afastam, no curtíssimo-prazo, o risco de uma espiral mais negativa da economia, mas confirmam um ambiente de menor crescimento estrutural do país. Podemos esperar novas medidas de suporte ao crescimento por parte do PBoC e do Governo nos próximos meses, já que as medidas colocadas em pratica até o momento parem estar fazendo efeito apenas moderado sobre a economia.

Brasil – As vendas no varejo de abril, divulgadas ontem pela manhã, apresentaram queda de 0.4% MoM, abaixo das expectativas do mercado (queda de 0.1% MoM). Devido ao efeito estatístico de uma base fraca no ano passado, as vendas apresentaram alta de 6.7% em 12 meses. A abertura do número mostrou uma fraqueza generalizada das vendas, o que confirma um quadro de fragilidade da economia.

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