Dinâmica do Câmbio no Brasil

Os ativos de risco tiveram uma noite de relativa tranquilidade na Ásia, mas hoje pela manhã vejo alguns vetores que me chamam a atenção. Primeiro, a despeito de um bom desempenho das bolsas da Ásia Emergente, os índices na China continuam dando sinais de fraqueza, mesmo frente a melhora do PMI divulgado no final de semana e após uma série de medidas de suporte ao crescimento colocadas em pratica pelo governo nas últimas semanas. A reação dos mercados locais parece cada vez mais tímida, fazendo “lower highs”, o que não costuma ser um sinal positivo. Em segundo lugar, este mesmo cenário está sendo espelhado pelas commodities metálicas. Após um rebound rápido e curto ontem, o cobre já opera em queda, enquanto o Minério continua perigosamente próximo aos níveis mais baixos deste ciclo. Em terceiro lugar, a tendência de abertura de taxa dos juros americanos continua essa manhã, o que pode se transformar em um ambiente mais desafiador para os ativos de EM, para os ativos de Carry e para os ativos de Risco em geral.

Brasil - Após dois dias de performance ruim do BRL, o BC optou por anunciar a rolagem de cerca de US$500mm de swaps cambiais para esta terça-feira, ao contrário dos US$250mm rolados na segunda-feira. A postura do BC mostra que eles continuam engajados em um processo de redução de volatilidade da moeda, assim como dispostos a impedir uma depreciação mais rápida e acentuada do BRL. Acredito que, no final das contas, o cenário externo, e o humor global em torno do USD, quem irão ditar o rumo do câmbio no Brasil. Contudo, está claro que o BC irá permanecer no mercado, "pilotando"  os vencimentos de swaps cambiais, como é de seu melhor interesse, neste caso, na direção de evitar movimentos bruscos mas, especialmente, uma depreciação mais acentuada. O mercado de juros teve um dia de realização de lucros e abertura generalizada de taxas, com a curva apresentando steepening da parte longa. Também no mercado de juros, o cenário externo terá um peso relevante e, em uma segunda-feira de abertura de taxa das Treasuries nos EUA, e após um movimento longo de fechamento de taxas nos países emergentes, acabou deixando o mercado mais frágil. Estou com o viés de que o cenário externo se tornará um pouco mais desafiador para os ativos de carry-trade e EM em geral, o que requer cautela quanto aos ativos de renda fixa locais. Essa semana, teremos a divulgação de uma nova pesquisa eleitoral do Datafolha, que também irá trazer volatilidade e novidades ao mercado. A parte curta da curva parece defendida pela manutenção da Selic na última reunião do Copom, pela inflação corrente mais baixa e pela atividade fraca. Contudo, nos atuais níveis, e com um técnico menos favorável, a curva longa ficará mais susceptível ao ambiente externo e a pesquisa eleitoral.

EUA - O ISM Manufacturing de maio, um dos principais indicadores de crescimento do país, apresentou leve alta, confirmando o que os demais indicadores regionais já haviam sinalizados, ou seja, que a economia americana mostra de forma cada vez mais clara um cenário de crescimento saudável e consistente. Este pano de fundo, aliado aos últimos indicadores de inflação, me fazem acreditar que o USD pode estar no começo de um movimento gradual de fortalecimento, e os US Yields podem se consolidar em níveis de taxas um pouco mais elevadas. O próximo evento da semana ficará por conta do ADP Employment, com o desfecho ficando por conta do Payroll na sexta-feira.

Europa - A divulgação dos dados de inflação de maio mostraram um CPI caindo de 0.7% YoY para 0.5% YoY, com o Core CPI saindo de 1.0% YoY para 0.7% YoY, ambos abaixo das expectativas de 0.6% YoY e 0.8% YoY respectivamente, colocando o BCE em situação ainda mais delicada. A divulgação de medidas amplas de expansão monetária, e a manutenção de um discurso agressivo nesta direção, serão essenciais para o BCE atender as expectativas do mercado e evitar uma espiral mais negativa da economia da região.

China – A reação tímida das bolsas chinesas a divulgação do PMI Manufacturing no final de semana, assim como a baixa propensão das commodities a reagirem a uma série de medidas visando estimular o crescimento do país, não só me chamam a atenção, como colocam um viés negativo para os ativos que dependem da demanda chinesa, e para o cenário econômico chinês como um todo. A despeito de eu ainda acreditar que exista espaço para uma estabilização do crescimento do país no curto-prazo, o mercado não parece ter disposição em esperar que este cenário se concretize e permanece, assim, focado nos desafios de longo-prazo que a economia chinesa terá que enfrentar, leia-se, uma menor crescimento estrutural e risco crescentes provenientes do mercado imobiliário e de crédito.

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