FOMC & Oriente Médio

A semana será decisiva para a dinâmica de curto-prazo dos mercados globais, não somente pela divulgação de importantes indicadores de atividade e inflação nos EUA, mas, principalmente, pela importante reunião do FOMC na quarta-feira (vide seção EUA abaixo). A dinâmica do preço do petróleo, com a piora no clima político no Oriente Médio, também demanda atenção especial (vide seção Oriente Médio abaixo).

EUA – A reunião do FOMC na quarta-feira será uma das mais importantes, e menos consensuais, dos últimos tempos. Não pela decisão em si, onde a redução do QE em mais US$10B é quase que uma certeza, mas pela sinalização que será adotada pelo Comitê na atualização de suas previsões, assim como a postura que será tomada por Yellen em sua entrevista coletiva. Algumas questões parecem certas, como a atualização do crescimento de 2014 para baixo, uma trajetória mais rápida de aceleração da inflação, e uma trajetória mais rápida de queda na taxa de desemprego. Contudo, todas essas 3 atualização serão simplesmente um reconhecimento dos números recentes. As dúvidas que restam, no entanto, ficam por conta de quanto o menor crescimento do começo de 2014 irá afetar as previsões de crescimento para 2015 e 2016, em que medida os “dots” (previsão de taxa de juros de cada membro do FOMC) irão se mover (e se irão se mover), além de o quanto o debate em torno do menor nível estrutural de equilíbrio da taxa de juros irá fazer pressão baixistas nos “dots” de longo-prazo do Comitê. A reunião dessa semana tem potencial de determinar a dinâmica dos ativos de risco no curto-prazo, tanto no caso de um Fed mais dovish, como no caso de um Fed mais hawkish, já que não vejo um consenso em nenhuma direção por parte do mercado. Assim, a leitura dessas sinalizações será fundamental para se posicionar para os dias e semanas subsequentes a reunião. Tenho um viés em acreditar que a precificação do mercado ainda está muito leniente (leia-se dovish) vis-à-vis os números recentes. Não acho que seja do feitio deste Fed surpreender o mercado com uma comunicação que vá mudar substancialmente o status-quo de gradualismo em torno do processo de normalização monetária. Todavia, o mercado precisa “cair na real” que os juros não ficarão onde estão para sempre, e o Fed será cada vez mais “data dependent”. Assim, qualquer reconhecimento da melhora do mix crescimento+emprego+inflação pode acabar fazendo um movimento desproporcional de curto-prazo nos mercados.

Brasil – As pesquisas eleitorais devem continuar ditando o rumo dos ativos locais no curto-prazo. No mercado de juros, com a confirmação de um crescimento fragilizado, apenas uma mudança de comunicação por parte do BC irá reverter à tendência de fechamento das taxas locais de juros, ou uma mudança no cenário externo. A semana será de agenda vazia, deixando o mercado ainda mais reativo às pesquisas, a qualquer tipo de sinalização do BC ou a alterações no cenário externo.

Oriente Médio – A situação no Iraque é grave, e os problemas políticos são de difícil resolução. Podemos estar diante de uma nova Síria, ou uma nova Ucrânia. A diferença, neste caso, contudo, recai sobre a importância do país na produção de petróleo. Além disso, o sequestro de 3 adolescentes israelenses em um assentamento próximo a Jerusalém, provavelmente por milícias palestinas, está gerando um grade ruído em Israel. Não podemos descartar uma reação militar mais brusca na eventualidade do caso não ser resolvido de forma rápida. Assim, estamos diante de uma deterioração das condições no Oriente Médio. A chave para um eventual contágio para o resto do mundo, e os demais mercados globais, será o preço do petróleo. Uma alta mais rápida e acentuada da commodity tem o potencial de afetar o humor global a risco de forma mais negativa, especialmente com os mercados nos atuais níveis de preço e volatilidade.  


China – O mercado vive a dicotomia entre um crescimento que mostra sinais apenas incipientes de estabilização, com um mercado imobiliário dando sinais cada vez mais claros de enfraquecimento. Enquanto isso, o governo adota postura mais agressiva e proativa na tentativa de evitar mais uma rodada de pressão na economia. O mercado terá que conviver com este cenário ainda por um longo período de tempo, o que deve evitar melhoras sustentadas dos ativos que dependem da demanda do país, mas não necessariamente evitam melhoras pontuais de humor no tocante a economia chinesa.

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