"Profit Taking"?

Após mais uma noite de desempenho negativo das bolsas da Ásia, mais uma vez lideradas pelos índices na China, os ativos de risco operam sem tendência definida e sem grandes movimentações hoje pela manhã. Na agenda do dia, o destaque ficará por conta do Durable Goods Orders nos EUA e para os Dados de Crédito no Brasil.

Os ativos de risco mostram sinais de “cansaço” perante um cenário sem grandes triggers de curto-prazo. A volatilidade e liquidez dos mercados permanecem baixas, e sem tendência muito bem definidas. Não podemos descartar uma realização de lucros, que deveria ser vista como natural e, até mesmo saudável, nos atuais preços de várias classes de ativos. O panorama de longo-prazo ainda é positivo, com o crescimento global dando sinais claros de recuperação neste final de primeiro semestre, os bancos centrais das principais economias do mundo continuam extremamente expansionistas e a inflação no mundo desenvolvido é baixa. Contudo, existem alguns riscos de curto-prazo que, sozinhos, não são capazes de alterar a dinâmica dos mercados mas, em conjunto, podem ser usados como argumento para uma redução de posições. São eles: (1) os últimos eventos no Iraque, (2) a falta de uma solução na Ucrânia, (3) a sensação crescente de que o Fed pode estar ficando “behind the curve” e (4) a incapacidade das bolsas da China, e de todos os ativos que dependem da demanda chinesa, em mostrar uma recuperação mais consistente e permanente.

Com este pano de fundo, recomendo posições menores, voltadas para temas específicos, até que o cenário de curto-prazo se mostre menos nebuloso.

EUA – Todos os números econômicos divulgados nos últimos dias mostram uma inequívoca recuperação da economia. Ontem foi a vez do Consumer Confidence e New Home Sales, ambos superando as expectativas do mercado e atingindo os maiores níveis desde a crise de 2008. Continuo bastante otimista com a recuperação da economia americana. Vejo como principal consequência disto uma alta gradual da curva de juros curta no país. Em algum momento do tempo, isto deveria dar suporte ao USD no mundo. A velocidade deste ajuste na curva de juros que será determinante para o impacto nos demais ativos de risco ao redor do mundo. Um ajuste gradual não será necessariamente negativo para o humor global a risco. No entanto, caso o Fed perca o controle da curva de juros, o que não me parece o cenário base, podemos ter movimentos mais bruscos.

Brasil – O BC anunciou ontem a noite que irá continuar seu programa de swap cambial, pelo menos, até o final do ano, não alterando as vendas diárias de USD$200mm de dólares ao mercado. Em um ambiente de baixa volatilidade e busca por yields ao redor do mundo, a postura do BC se mostra uma tentativa quase que desesperada para evitar todo e qualquer tipo de depreciação cambial, com claro intuito de conter as pressões inflacionárias. A conta-corrente de maio apresentou déficit em linha com as expectativas, mantendo o déficit em 12 meses em torno de US$80bi e 3.5%-4% do PIB. Por hora, este “furo” está sendo amplamente financiado pela conta de capitais, mas especificamente pelos fluxos especulativos para renda fixa e ações. O grande risco nesta frente, assim, fica por conta de uma eventual reversão de humor externo, ou de uma potencial vitória de Dilma nas eleições, que pode tornar o ajuste do câmbio, em um futuro próximo, muito mais rápido e acentuado do que se imagina. O CAGED apresentou apenas modesta criação de vagas em maio, apontando para um cenário de gradual deterioração do emprego no país. Estamos diante de um pano de fundo onde o crescimento encontra-se baixo e nenhum vetor de sustentação apresentará recuperação capaz de reverter este quadro no curto-prazo. A Copa do Mundo pode ajudar, pontualmente, o consumo. Contudo, olhando para o longo-prazo, veremos uma piora no quadro de emprego, o consumidor já atingiu sua capacidade de endividamento, e os próprios bancos já estão mais cautelosos na concessão de empréstimos.


China – A despeito dos sinais de estabilização do crescimento do país, as bolsas locais, e os ativos que dependem da demanda da China continuam sobre forte pressão. O mercado parece claramente receoso em relação as perspectivas de crescimento chinês, assim como de eventuais problemas no mercado imobiliário e de crédito. A China é um vetor que devemos acompanhar de perto, dado sua relevância para os demais mercados e sua potencialidade de contágio.

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