Daily News – Aversão a Risco.
Na noite de ontem o Fed anunciou uma atuação
contundente, com medidas agressivas e em timing inesperado (positivo). Os
juros foram cortados a zero e anunciou um QE adicional da ordem de US$700bi além
do que já havia anunciado na semana passada.
Infelizmente, a despeito da proatividade, o anúncio
não foi suficiente para acalmar os ânimos dos mercados, que estão operando
sobre forte pressão neste momento. O S&P futuro opera no limite de baixa,
com queda de 5%. O SYP – ETF do S&P – opera em queda de 9% no premarket.
Todos os demais mercados operam com viés de forte
aversão a risco. Uma série de conclusões podem ser tiradas, e nenhuma delas é
positiva: O tamanho do problema parece ser muito maior economicamente; há
riscos crescentes de contágio econômico e financeiro; o mercado receia que o
Fed saiba de coisas que o investidor ainda não sabe, e assim por diante.
Reforço o que tenho escrito diariamente. Não existe
“bala de prata” para lidar com as crises. Crises são endereçadas e solucionadas
com um acúmulo de medidas. O desafio, neste momento, e acertar a mão no tamanho
e magnitude destas medidas. Enquanto isso, viveremos em um ambiente de elevada
incerteza e volatilidade. Quedas adicionais são possíveis e prováveis.
Na China, os dados de atividade econômica de
janeiro e fevereiro foram catastróficos – como era esperado – mas em magnitude
ainda maior do que o consenso de mercado:
No Brasil, recomendado a entrevista de Paulo Guedes
reproduzida abaixo. Antes disso, contudo, gostaria de alertar para a sociedade,
a população e as autoridades públicas a importância da prevenção e de dar o
exemplo aos demais de como se prevenir.
Não costumo dar palpites políticos, mas a postura
do Presidente ontem, indo ao encontro dos manifestantes, em nada ajuda o país
neste momento de caos social.
Entrevista de Paulo Guedes a Folha de São Paulo:
PAULO GUEDES: “
[...] Se todo mundo ficar trancado em casa continua vulnerável. Quando acabou
isso, o Roberto Campos falou sobre a iminência do choque. Foi essa
quantificação, feita pelo Banco Central, que me assustou. O Banco Central tem
modelos estatísticos calculando a velocidade de contágio.”
FOLHA: Contágio
humano ou da economia?
PG: “Humano.
Acompanham a economia, mas assim que surgiu a preocupação com o coronavírus, o
Mandetta pediu ajuda a quem pudesse dar. O BC tem modelos estatísticos,
altamente matemáticos, que permitem modelar qualquer coisa. Modelaram a
velocidade de contágio. Muita gente no governo achava que a coisa ia bater aqui
em maio, e não deveríamos ser tomados pela neurose antes da hora, para não
parar a economia antes da hora. Minha principal preocupação é garantir a
dinâmica de crescimento. Nos preparar para a pancada de uma onda para sair com
fôlego do outro lado.
FOLHA: Mas quais
dados do BC surpreenderam o sr.?
PG: “A inclinação
de contágio nos modelos do BC é mais rápida do que nos outros países. Estados
Unidos e Brasil estariam com a taxa de contágio mais rápida do que ocorreu na
própria China e na Itália. Foi alarmante.”
FOLHA: O sr.
lembra dos números?
PG: “Não me lembro
exatamente. Mas era algo assim: na Itália era previsão de 60% de contágio e
aqui, de 80%. Podemos atingir o pico em um mês. Mas tudo vai depender da
prevenção.”
Depois o PG fez
mais comentários interessantes sobre medidas já em andamento para conter o
Corona
PG: “O Tesouro já
comprou dívida. O BC tem oferecido dólar para o mercado. Na sexta-feira (13),
liberou R$ 135 bilhões de compulsório. Se as condições de liquidez forem se
estreitando, vai soltando. É a economia que vai dizer quanto precisa.
Naturalmente, isso vai ser para os bancos pegarem o redesconto e darem fôlego
financeiro para o fluxo de caixa das empresas.”
FOLHA: O sr.
prometeu mais medidas em 48 horas. Tem mais?
PG: “Tem uma arma
muito mais potente, mas não vou falar. Vamos trabalhar com diques de contenção.
Se uma parede cair, reforçamos a seguinte. Se a outra ceder, vamos à próxima.”
FOLHA: Vão rever a
meta de primário?
PG: “Se for o
caso, vamos, sim.”
FOLHA: Alguns
economistas já sugerem flexibilizar o teto de gasto. Com o sr. vê isso?
PG: “Essas pessoas
não estão ajudando. Estão atrapalhando. Se eu fizer esse movimento agora, eu
sinalizo alta de juros. Sinalizo que o Brasil vai abrir mão da disciplina
fiscal. Eu prefiro primeiro abrir mão do dinheiro do relator. Prefiro abrir mão
do dinheiro da Eletrobras. É uma questão de manter a serenidade na crise. Não
podemos entrar em pânico.”
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