Semana de agenda cheia

A manhã está sendo marcada por uma recuperação das bolsas globais, seguindo um bom desempenho das bolsas na Àsia. O USD, por sua vez, opera próximo a estabilidade, enquanto as commodities apresentam leve queda e os bonds dos países desenvolvidos apresentam pequena abertura de taxas. A agenda macro do dia será esvaziada, com destaque para o resultado do Citi, nos EUA, as 9h00.

Exceto pelo aumento dos ataques de Israel ao Hamas, o final de semana foi relativamente tranquilo. Contudo, a semana que se aproxima terá agenda cheia e relevante. Abaixo, segue um breve resumo do que nos espera:

Brasil - Dois eventos irão marcar a semana no Brasil. Primeiro, a reunião do Copom, na quarta-feira. Já é amplamente esperado que o BCB irá manter os juros estáveis. Contudo, podemos ter mudanças no comunicado oficial. Acredito que o cenário base, diria que com 90% de probabilidade, o Copom mantenha o comunicado da última reunião inalterado. Contudo, existe um cenário alternativo, com probabilidade baixa (10%), mas não desprezível, de optar por mudar o comunicado, indicando que, em algum momento do tempo, possa inverter  ciclo de juros, já que o cenário prospectivo mostrou piora evidente no que diz respeito ao crescimento, com um ambiente inflacionário, no curto-prazo, menos negativo. As atenções estarão voltadas para o termo "neste momento" utilizado no comunicado de maio. A retirada deste termo pode ser o sinal que o mercado precisa para embarcar na expectativa de que o próximo passo do BCB será um ciclo de queda de juros. Em segundo lugar, teremos novas pesquisas eleitorais pelo Datafolha, Sensus e, talvez, Ibope. Será interessante para termos uma noção de quanto a candidatura de Dilma foi afetada pelo fiasco da Seleção na Copa do Mundo. Tendo a acreditar que a última pesquisa Datafolha, mostrando Dilma com 38% das intensões de voto, foi seu pico, mas tenho dúvida se isso já será refletido nas pesquisas dessa semana.


EUA - A semana será agitada, com importantes dados de crescimento (Empire Manufacturing, Retail Sales, Industrial Production, Beige Book, Housing Starts, Philadelphia Fed e Jobless Claims), a presença de Yellen no Congresso, na terça e quarta-feira, e com a temporada de resultados corporativos começando de fato. O cenário base continua a ser de um ambiente relativamente positivo para os ativos de risco, com um crescimento razoável, uma inflação contida e um Fed ainda paciente. Contudo, vale lembrar que os ativos de risco estão em níveis de preço e volatilidade que, de certa forma, já precificam este ambiente. Assim, qualquer desvio deste cenário, pode acabar gerando reações adversas do mercado, especialmente com os baixos prêmios de risco existem, e com uma posição técnica já desfavorável. Em relação a Yellen, fica difícil vê-la alterando significativamente sua postura, especialmente após as Minutas do FOMC divulgadas na semana passada. Contudo, no atual estágio do ciclo econômico, as decisões se tornam menos óbvias, e as divergências dentro do Comitê maiores. Acredito que Yellen precisa, no mínimo, emplacar a mensagem que o Fed será cada vez mais "dependente dos dados", e irá reagir aos desvios do cenário em torno de suas expectativas. Yellen não precisa necessariamente passar uma mensagem hawkish, como fez Carney na Inglaterra, mas precisa levar alguma incerteza a um mercado que parece a cada dia mais confiante na continuidade do atual ambiente de liquidez. Vamos lembrar que, a poucos meses atrás, o mercado "embarcou" no "QEternity" ou "QE Infinity" para, alguns meses depois, serem pegos desprevenidos com a mensagem de que o "Tapering" estava mais próximo do que o imaginado. Meu ponto é, o quanto antes Yellen mostrar ao mercado que o Fed não está estático ao cenário prospectivo, menos ruptura no mercado ela encontrará. Minha dúvida é quanto tempo mais o Fed irá esperar para passar esta mensagem.

 Europa - O mercado estará atendo aos desdobramentos no Grupo Espírito Santo em Portugal e suas consequencias ao Banco Espírito Santo. O problema parece específico e localizado, o que não deveria trazer um contágio maior aos demais ativos de risco. Contudo, me preocupo com o baixo prêmio de risco nos mercados, assim como a posição técnica, especialmente nas bolsas europeias e nos bonds da periferia da região. Por mais que o problema seja pontual, certamente traz a tona os problemas que a região ainda enfrenta, o que poderia afetar o humor por algum tempo. Além disso, o problema surge em um momento em que a região apresenta dados de crescimento excessivamente negativos, mostrando um crescimento pífio. Além disso, o ECB parece ter usado sua "munição" mês passado, e parece satisfeito em esperar alguns meses antes de colocar em prática novas medidas de estímulo ao crescimento e a inflação. Meu receio é que a região seja contaminada por um "mau humor" generalizado, deixando o ECB "behind the curve" e, no limite, obrigando-o a agir antes do que o imaginado afim de estabilizar o sistema financeiro e o crescimento da região. De qualquer maneira, o cenário base continua sendo de problemas pontuais e localizados, sem contágios efetivos de fato (além do humor), com um crescimento e inflação baixos, mas um ECB disposto agir com o objetivo de estimular a economia.

 China - A semana trará os dados de atividade econômica no país. Após o HSBC PMI e do PMI Oficial, espera-se uma estabilização do crescimento chinês. Contudo, as pressões baixistas na economia ainda existem, e serão uma constante nos próximos meses e anos. Parece cada vez mais claro que a meta de 7%-7.5% de crescimento do PIB é hoje um teto e não mais um piso do crescimento. Poderemos ver um crescimento mais estável nos próximos 2-3 meses, mas as pressões baixistas na economia voltarão a pressionar o crescimento neste segundo semestre do ano, levando ao governo a adotar novas medidas de estímulo. Passado a estabilização de curto-prazo dos ativos que dependem da demanda da China, podemos ver uma nova rodada de pressão sobre todos aqueles ativos que dependem da demanda do país.

 EM - O cenário para os mercados emergentes será liderado pelos acontecimentos nos EUA e na China. O cenário base de baixa volatilidade continua sendo favorável ao carry-trade. Contudo, vejo a situação dos Emergentes como delicada. Um maior crescimento nos EUA pode levar uma rodada de abertura de taxas de juros e mudança de postura por parte do Fed. Por outro lado, novos sinais negativos para o crescimento global também não são bem vindos pelos ativos destes países, muitos deles exportadores de commodities. Assim, nos atuais níveis de preço, volatilidade e posição técnica, deixo uma mensagem de cautela. Não vejo muitos ganhos de capital no atual cenário, e os riscos talvez superem o carrego/carry.

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