Choque de Volatilidade?
Os ativos de risco estão
ameaçando uma reação hoje pela manhã, mas o ambiente ainda me parece muito frágil.
Assim, as bolsas da Europa ainda operam em queda, apesar das bolsas norte
americanas estarem a cerca de 0,5% dos lows de ontem. As moedas EM
apresentam recuperação mais substancial, e os juros globais operam em
estabilidade. O news flows durante a noite foi esvaziado e a agenda
do dia será irrelevante, deixando o mercado a mercê de fluxos pontuais e
reagindo ao cenário geopolítico. Mantenho visão mais cautelosa no curto-prazo,
com o viés de que os ativos de risco possam estar diante de um processo de consolidação/realização
de lucros um pouco mais prolongado do que aqueles verificados
nosúltimos meses. A excessão, contudo, ficará por conta dos ativos
brasileiros, que devem seguir de perto a melhora no ambiente político (vide
seção Brasil abaixo). Na China, o preço dos imóveis em junho
apresentou queda de 0,48% MoM. O número confirma um cenário de desaceleração do
setor imobiliário do país, que se destaca como evidente risco para os próximos
meses. Além disso, o mercado interbancário continuou pressionado, com novas
altas nas taxas de mercado.
Após um longo de período
de estabilidade do cenário econômico e político global, onde os mercados se
acostumaram com a baixa volatilidade dos ativos, estamos diante de um período
de maior incerta. Ao contrário do que muitos esperavam, o risco que surge no
cenário não está concentrado na possibilidade de uma mudança de postura por
parte do Fed, mas em algumas situações, pontuais e localizadas, de
instabilidade política. Em primeiro lugar, a divulgação feita ontem de novas
medidas de restrição financeira a empresas russas, feita pelos EUA, foi o
primeiro evento de destaque para os mercados, já que levou a uma forte pressão
sobre os ativos da Rússia. Em segundo lugar, a ausência de uma solução pacífica
para o conflito entre Israel e o Hamas levou Israel a uma invasão efetiva da
Faixa de Gaza. Em terceiro lugar, a possibilidade de novosdefaults na
China voltaram ao radar. Finalmente, tivemos o trágico abatimento de um avião
cívil na fronteira entre Rússia e Ucrânia, matando quase 300 pessoas. Não
podemos esquecer ainda que cresce o debate em torno da política monetária
americana que, por hora, deve ficar em segundo plano mas, em um panorama mais
amplo, ajuda a piorar o humor dos investidores. Como tenho frisado desde a semana
passada, nenhum desses vetores, sozinhos, são capazes de alterar a dinâmica dos
mercados mas, em conjunto e, em um momento em que os prêmios de risco se
mostram baixos, com uma posição técnica menos favorável, podem levar a um
período de consolidação, ou realização de lucros, que é o que está ocorrendo
nos últimos dias. Assim, mantenho um viés mais cauteloso no curto-prazo.
Brasil - O
mercado de juros reagiu de forma agressiva a decisão do Copom, interpretando a
manutenção do termo "neste momento" do comunicado como uma indicação
de que possa vir a inverter o ciclo de juros, já que o crescimento se mostra
pífio e inflação dá sinais de arrefecimento. Hoje, o CAGED apresentou alta de
25 mil em maio, o pior mês de maio desde 1998 e uma queda de 80% em relação ao
ano passado. Em termos dessazonalizados, o mês foi de queda em torno de 20
mil postos de trabalho. Este é apenas mais um indicador de o quão trágico está
o cenário para o crescimento brasileiro. Neste ambiente, continuo acreditando
que a curva de juros, especialmente os vértices mais curtos, deveriam ficar
mais ofertados, retirando prêmios de alta de juros e adicionando probabilidade
de queda de taxas nos próximos meses. A pesquisa Datafolha mostrou um cenário
extremamente favorável a oposição. Além da avaliação ótimo/bom do governo Dilma
ter caído de 35% para 32%, as intensões de voto em Dilma caíram de
38% para 36%, com Aécio ficando praticamente estável em 20% e Campos em 8%. A
grande novidade foi a queda de Dilma de 46% para 44% no segundo turno, com
Aécio subindo de 39% para 40%, praticamente um empate técnico. Continuo vendo a
bolsa, e ações como Petro e BB, como os principais beneficiários de uma
potencial mudança política no país. O USDBRL pode performar melhor do que seus
pares, mas tende a ter um componente externo maior. A curva de juros deve
apresentar claro viés de "flattening". Contudo, no atual cenário de
crescimento, deveria ser um ambiente de toda a curva fechando taxas, mas com os
mais longos fechando em grau superior aos mais curtos, o famoso "bull
flattening".
EUA - A
despeito da decepção do Housing Starts de junho, em grande parte puxada por uma
queda expressiva no Sul, mas não espalhada pelo país, os
indicadores econômicos mostram-se bastante positivos, com o Philly
Fed atingindo o maior patamar desde 2011 em julho e o Jobless Claims se
mantendo no menor patamar desde a "grande exuberância" da economia em
2006/2007. Este tipo de cenário só irá aumentar o debate em torno da postura do
Fed. Acredito que o "núcleo duro" da instituição continua favorável
ao gradualismo, mas podem acabar sendo surpreendidos pelos números e sendo
obrigados a acelerar o processo de normalização monetária. Este tipo de debate
não ajuda o humor global a risco, especialmente no atual momento de incerteza geopolítica.
China - A
possibilidade de um novo default no país já está afetando o mercado
interbancários nos últimos dias. O montante do bond em questão é pequeno, mas o
retorno deste tipo de notícia pode acabar levando a uma nova onde de pessimismo
em relação ao país. Precisamos acompanhar atentamente os próximos
desdobramentos nesta frente, já que, se não administrado adequadamente pelo
governo, pode levar a uma espiral inimaginável. O cenário base ainda é de
problemas localizados e pontuais, mas devido as características da
economia do país, não podemos descartar problemas mais agudos.
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