China, Brasil & Fed em Foco

As bolsas globais estão apresentando uma manhã de recuperação, puxadas pelos bons indicadores de crescimento da China (mais detalhes abaixo) mas, principalmente, pela indicação dada pelo Banco Central de Portugal que tem os recursos disponíveis caso seja necessário uma injeção de capital no BES. Assim, estamos observando uma alta nas bolsas globais, a despeito dos demais ativos de risco operarem sem movimentações relevantes ou tendências definidas, como é o caso dos mercados de moedas, commodities e bonds. A agenda do dia será carregada, com vendas no varejo, pesquisa Datafolha e decisão do Copom no Brasil, além de PPI, TIC Flow, Industrial Production, NAHB e Beige Book nos EUA, além de mais uma rodada de resultados corporativos.
China - Em junho, o FAI apresentou alta de 17,3% YoY, o Retail Sales subiu 12,4% YoY e a Industrial Production se elevou em 9,2% YoY. Além disso, no 2Q, o PIB apresentou alta de 7,5% YoY e 2,0% QoQ. Todos os indicadores ficaram levemente acima das expectativas do mercado, o que deve ser visto de maneira positiva. De qualquer maneira, após números de crédito extremamente fortes divulgados ontem, e após os últimos PMI´s do país, já era esperado que a economia apresentasse algum tipo de estabilização do crescimento. Continuo sendo da visão de que a economia irá se apresentar mais estável, com crescimento em torno de 7,5%, nos próximos meses, o que deve ser lido como positivo pelos mercados. Contudo, ainda existem elevadas pressões baixistas sobre o crescimento, que devem tornar os 7,5% de crescimento um teto, e não mais um piso para a economia. Novas medidas de estímulo podem ser necessárias no segundo semestre do ano. Em suma, o curto-prazo continua a ter um viés mais positivo, mas o longo-prazo ainda requer cautela.
Brasil – Os próximos eventos relevantes ficam por conta das vendas no varejo hoje cedo, da decisão do Copom a tarde, e para a pesquisa Datafolha, a princípio, a noite. O mercado parece estar se posicionando para um cenário de piora das intensões de voto em Dilma, especialmente após o vexame da Seleção na Copa. Em relação ao Copom, ninguém acredita em mudança na taxa Selic este mês, mas ganha força, a medida que os dados de atividade são divulgados, a visão de uma potencial alteração do comunicado, o que abriria espaço para uma maior flexibilidade do BC nas próximas reuniões, e interpretações mais dovish da decisão. Em relação as vendas no varejo, os modelos estatísticos tem baixo poder de previsão, o que torna as expectativas dispersas, aumentando a probabilidade de surpresas advindas do número.
EUA – No Congresso, Yellen manteve basicamente o mesmo tom de seus últimos pronunciamentos, e a mesma linha de análise das Minutas do FOMC, divulgadas na semana passada. Em suma, a economia está em processo de recuperação. O emprego e o crescimento parecem bem posicionados para dar continuidade a este processo, assim como a inflação já mostra sinais de migrar, gradualmente, para o cenário do Fed. Contudo, ainda existe muito “slack” na economia, o que permite que o Fed seja gradual em seu processo de normalização monetária. Finalmente, o cenário econômico demanda que as condições monetárias permanecem extremamente expansionistas, mesmo após o processo de alta de juros já ter se iniciado. O mercado se apegou a indicações dadas por Yellen de potenciais excessos no mercado de small capstech e biotech, além da indicação de que o Fed será dependente dos números, podendo acelerar, ou frear, o seu processo de normalização monetária. Nenhuma dessas mensagens é nova e já foram ditas, ampla e abertamente, por outros membros do Fed em outras ocasiões.
Europa – Os problemas no Grupo Espirito Santo continuam sem uma solução concreta. Como temos comentado ao longo dos últimos dias, o problema no Grupo Espirito Santo parece ser muito específico, dado a estrutura societária do Grupo, e do Banco Espirito Santo, em especial. Assim, me parece errado expandir o raciocínio para a conclusão que todo o sistema financeiro da Europa possa apresentar problema. Contudo, em um momento em que o crescimento já se mostra fragilizado, e o mercado bastante alocado em bonds equities da periferia da Europa, um problema como o que está ocorrendo pode afetar o humor, e acabar afetando os demais ativos da região. Acredito que o problema será resolvido de maneira fluida, mas os próximos dias podem trazer ainda incerteza. Assim, mantenho visão mais cautelosa no curto-prazo, até que uma solução seja sinalizada ou, os preços reflitam os riscos de maneira mais justa. Net/net, o problema parece ser mais um caso de ruído de curto-prazo, com solução administrável. Contudo, com o técnico do mercado ruim (já bastante alocado em Europa), e com pouco prêmio de risco nos ativo da região, esperaria um sinal de estabilização, ou uma solução concreta, antes de dar o problema por encerrado.
Mercados – No Brasil, continuo mais otimista com a possibilidade de avanço da oposição nas pesquisas eleitorais, mas o mercado migrou suas posições para este cenário desde a derrota do Brasil nas semifinais da Copa. De qualquer maneira, me parece um cenário positivo para os ativos locais, especialmente a bolsa (Petro, BB e afins). Na curva de juros, a decisão do BCB terá peso especial. Acredito que o cenário base seja de manutenção dos juros e do comunicado, mas o viés é de alterações maisdovish em sua comunicação. Além disso, as chances de uma mudança no ciclo de juros aumentaram substancialmente nas últimas semanas, com evidências terríveis ao crescimento. Este ambiente deveria continuar dando sustentação a curva curta de juros. Estou sem viés para o mercado de câmbio, já que os cenários local e externo se confundem, em um momento em que o BCB ainda mantem forte presença na venda diária de USD e na rolagem dos swaps cambiais. Nos EUA, acredito que o mercado deveria prestar mais atenção nas sinalizações do Fed, ou seja, a curva curta de juros deveria começar a responder de forma mais incisiva a melhora dos números de crescimento, emprego e inflação. Isto, contudo, não necessariamente irá afetar a parte longa da curva e a bolsa, contando que o movimento seja gradual e o Fed consiga passar a mensagem de que os juros continuarão baixos por um longo período de tempo.

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