Ruídos Geopolíticos
Os ativos de risco de risco estão abrindo a semana com desempenho interessante, já que as bolsas da Europa e EUA operam em baixa, mas o mercado de moedas apresenta relativa estabilidade, com as taxas de juros dos países desenvolvidos sem tendência clara. Destaque apenas para o movimento de flattening da curva americana, com a parte curta da curva apresentando abertura de taxas, mas os vértices mais longos contidos pelo movimento negativo das bolsas. A agenda do dia será esvaziada no campo macro, mas teremos uma agenda corporativa agitada. Destaque para o Core CPI nos EUA e para o IPCA-15 no Brasil na agenda de amanhã.
O final de semana teve as atenções voltadas para o campo geopolítico no cenário externo, e nas questões de política interna e juros, no Brasil. Os eventos na Rússia, em Israel e na China (vide mais detalhes abaixo) devem manter os mercados mais cautelosos nos próximos dias. Mantenho minha visão um pouco mais negativa no curto-prazo. Acredito que os prêmios de risco estão excessivamente baixos para absorver incertezas no campo geopolítico. Assim, podemos estar diante de um período, mesmo que pontual, de acomodação e realização de lucros. O Brasil, por sua vez, deve continuar vivendo um mundo a parte, liderado pelo ambiente político. Uma piora muito acentuada do mercado externo, contudo, pode afetar os ativos locais, mesmo que estes mantenho performance relativa mais positiva do que o resto do mundo. A semana será de agenda mais vazia do que na semana passada, mas não menos importante. Destaque para os números de inflação nos EUA e no Brasil, com CPI e IPCA-15, ambos na terça-feira. Nos EUA, a temporada de resultados corporativos continua a todo vapor.
Brasil - Tivemos dois desenvolvimentos relevantes ao longo do final de semana. O primeiro foi a pesquisa Sensus, confirmando o que o Datafolha havia mostrado na quinta-feira a noite, ou seja, um empate técnico entre Dilma e Aécio no segundo turno. Vale a pena lembrar que, devido a questões técnicas da pesquisa, por mostrar os candidatos em ordem alfabética, a Sensus tende a mostrar números mais favoráveis a Aécio em detrimento a Dilma. De qualquer maneira, a leitura dessa nova coleta deve ser vista como positiva pelos mercados, pois mostra uma situação cada vez mais delicada e desconfortável para o atual governo. Em segundo lugar, os jornais estão, desde a sexta-feira, ventilando um certo desconforto do BCB e do governo com a interpretação do comunicado do Copom. Segundo a mídia, a manutenção dos juros estáveis, e de um comunicado inalterado, não significa uma mudança de postura, ou o aumento da probabilidade do começo de um ciclo de queda de juros. Muito pelo contrário, o BCB ainda vê a inflação como principal problema da economia e acredita que necessita manter os juros estáveis para lidar com este problema. Ao longo da semana, teremos pesquisa Ibope e IPCA-15 como principais destaques.
Rússia vs Ocidente - Os rebeldes pro-Rússia que batalham no leste da Ucrânia estão sendo apontados pelos EUA como responsáveis pela ação que abateu um avião da Malásia na quinta-feira, deixando quase 300 civís mortos. Para piorar a situação, os EUA estão acusando a Rússia de fornecer armamentos militares de tecnologia avançada para os rebeldes, o que Putin e Cia. negam veementemente. Além disso, os rebeldes estão impedindo as investigações no local do "acidente". A piora no clima na região, apesar de parecer mais um ruído pontual e localizado, pode piorar ainda mais as relações entre a Rússia e o Ocidente. Os eventos ocorreram logo após os EUA divulgarem novas sanções econômicas contra a Rússia. Estes eventos devem ser acompanhados no detalhe, pois podem trazer um viés um pouco mais negativo aos ativos de risco nos próximos dias, especialmente com os baixos prêmios de risco que os mercados apresentam atualmente.
Israel vs Hamas - Israel aumentou sua ofensiva contra o Hamas na Faixa de Gaza, elevando as baixas em ambos os lados. A situação na região, assim como descrevemos acima, é pontual e localizada. Contudo, em um ambeinte de baixos prêmios de risco, onde começam a surgir diversos ruídos ao redor do mundo, podem manter os mercados mais cauteloso e apreensivos, proporcionando um período de consolidação/realização de lucros.
China - A despeito dos sinais de estabilização do crescimento em junho, volta ao mercado o receio em torno de problemas no mercado de crédito, com a possibilidade do segundo default corporativo este ano. A despeito do tamanho reduzido do bond em questão, mais um default, se não bem administrado, pode trazer volatilidade e incerteza aos ativos de risco. O governo parece bem preparado para administra este problema de maneira suave e gradual. Contudo, não podemos descartar período de maior incerteza provenientes de problemas neste setor da economia.
EUA - O cenário de crescimento parece cada vez mais consolidado, com uma economia mais robusta. Assim, cresce o debate dentro do Fed do melhor momento para uma possível aceleração do processo de normalização monetária, com o fim do QE e o começo de um processo de elevação de juros. A semana será relevante, pois o Core CPI, na terça-feira, pode ser um vetor determinante neste debate. Uma inflação ainda contida irá, de certa forma, conter este debate. Contudo, surpresas inflacionárias altistas podem intensificar este debate e trazer consequências reais aos ativos de risco.
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