Mudança de cenário?
Os ativos de risco tiveram a noite para digerir as informação trazidas ontem pelo ADP Employment, PIB e FOMC nos EUA. Ratifico minha visão de que estamos migrando para um cenário de aceleração da economia americana, onde a solidez do crescimento irá levar o Fed a alterar, gradativamente, sua postura.
Hoje pela manhã, estamos vendo uma realização de lucros nas bolsas globais, com os juros nos EUA ainda sofrendo pressões altistas e o USD forte ao redor do mundo. Na agenda do dia, destaque para o Jobless Claims e Chicago PMI nos EUA. No Brasil, o foco ficará por conta dos dados fiscais.
Acredito que o comunicado do FOMC de ontem ratifica o pano de fundo de que o Fed pretende seguir o cenário econômico para determinar os seus próximos passos. Assim, números de emprego, crescimento e inflação mais fortes, como os verificados nos últimos meses, devem ser um guia mais preciso das próximas decisões do Fed e para a movimentação do mercado. O acumulo de dados econômicos positivos deve ser suficiente, de agora em diante, para levar o mercado a promover ajustes de preços na direção de uma economia americana mais sólida. Assim, espero que, caso os próximos números confirmem a solidez da economia americana, devemos ver uma sustentação do USD, além de um processo gradual de alta de juros nos EUA. Este cenário deve ser um pouco mais desafiador para o carry-trade e para os ativos EM em geral. Os ativos de risco deveriam ter uma pressão altista de volatilidade, dado um ambiente de maior incerteza do ponto de vista de política monetária nos EUA. Este processo não precisa ser um "evento de cauda" ou um processo de ruptura, mas o mercado me parece mau posicionado do ponto de vista de preço, vol e posição para este tipo de cenário.
Brasil – A pesquisa Ibope em 5 dos principais estados do país mostrou uma situação cada vez mais favorável a oposição. Recomendo a leitura do artigo de Merval Pereira no "O Globo" de hoje para uma análise mais detalhada do tema. O BCB, aparentemente, não anunciou a rolagem dos swaps cambiais para hoje, em um processo que vinha sendo feito diariamente. Se confirmando essa decisão, o BCB irá deixar vencer menos contratos neste final de mês, mais ainda sim terá um net de vendas de dólares ao final do mês no mercado. Os números fiscais divulgados ontem, e que serão elaborados hoje, mostraram um mês de junho terrivelmente ruim. Este cenário esta se transformando em uma tendência. Me parece cada vez mais difícil reverter este quadro até as eleições. Exceto por receitas extraordinárias pontuais, não vejo nenhum pilar de sustentação para o quadro fiscal no Brasil. Em suma, o quadro político ainda deve dominar a dinâmica dos mercados locais, mas o cenário externo e os fundamentos internos tem ganhado uma dinâmica própria que precisam ser acompanhados no detalhe. Continuo vendo a bolsa como o melhor ativo para se posicionar para uma eventual mudança política interna. O BRL acaba sendo mais afetado pelo humor global a risco, enquanto o mercado de juros atende a um componente de política monetária de curto-prazo mais determinante. AInda vejo a parte curta da curva como bem defendida neste ambiente.
China – As bolsa do país continuam mostrando performance positiva. Hoje, o PBoC reduziu os juros de papéis que vende ao mercado a cada duas semanas, em mais um sinal de que está disposto a continua dando suporte ao crescimento da economia. Além disso, a prisão de um importante líder do Partido Comunista foi muito bem recebida pelo mercado, já que mostra real disposição do governo em promover as reformas necessárias a economia. O país ainda passa por um momento ciclicamente positivo, a despeito de um quadro estrutural extremamente desafiador.
Europa – A primeira prévia do CPI de julho mostrou queda de 0,5% YoY para 0,4% YoY, com o Core CPI mantendo-se em 0,8% YoY. Ainda não há nenhum sinal consistente de estabilização da inflação, o que deve manter o ECB em estado de alerta. O diferecial de juros entre o USD e o EUR, neste ambiente, favorece a continuidade de um processo de pressão sobre o EUR.
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