Relatório Semanal de Asset Allocation:


No Brasil, o impacto da greve dos caminhoneiros começou a ser visto nos dados econômicos, com números de crescimento mais fracos e dados de inflação mais elevados. Acreditamos que a inflação tenha feito seu piso e deverá subir de agora em diante. Não  vemos ímpeto para uma recuperação mais acentuada do crescimento em um ambiente de maior incerteza política interna, ainda mais com um pano de fundo mais desafiador do ponto de vista externo.
A recuperação cíclica das contas públicas que prevaleceu neste começo de ano também deverá sentir os efeitos negativos da greve dos caminhoneiros, deixando mais evidente a necessidade de ajuste fiscal de longo-prazo no país. As contas externas continuam saudáveis, mas não foram capazes de evitar uma forte depreciação da moeda nas últimas semanas, puxada pela reversão do interregno benigno do cenário externo e pelas idiossincrasias políticas locais.
O Banco Central (BCB) anunciou uma agressiva intervenção cambial, com intuito de prover liquidez ao mercado. Sua postura agressiva, por ora, está ajudando a conter a depreciação da moeda, que chegou a testar o patamar acima de 3,9 na semana passada. Acreditamos que o BCB tem o dever fiduciário de manter a estabilidade financeira e prover liquidez ao mercado, mas entendemos que dificilmente será capaz de conter ou mudar a direção dos movimentos, caso o cenário externo e local sigam na atual direção.
No cenário externo, vimos números mais robustos nos EUA, apontando para um crescimento bastante sólido no segundo trimestre do ano. Continuamos a observar acúmulos de pressões inflacionárias na economia.
A Europa continua decepcionando em termos de atividade econômica, com dados mais fracos do que o esperado. A inflação na região apresentou forte elevação em maio, mas em parte explicada por questões pontuais. A situação política na Itália chegou a um desfecho “menos pior” do que o imaginado anteriormente, mas será essencial acompanhar a implementação de medidas pelo atual governo eleito a fim de ter um maior entendimento da situação fiscal do país.
Na China, os números mostram um crescimento relativamente estável e saudável. A inflação não preocupa. Contudo, vemos sinais de uma maior desalavancagem da economia. Por ora, este processo tem sido gradual e muito bem administrado. O “risco de cauda” fica por conta de um eventual processo mais desordenado de desalavancagem, que precisa ser acompanhado no detalhe nos próximos meses.
As economias emergentes, no geral, continuam sofrendo os impactos negativos de uma menor liquidez global. Existe, neste momento, uma grande dispersão de desempenho entre países mais fragilizados, como é o caso de Argentina e Turquia, e países com fundamentos mais robustos, como é o caso de parte da Ásia emergente.

Alocação/Estratégia:
Como temos reforçado neste fórum, as últimas semanas nos levaram a promover algumas revisões em nosso cenário base.

No cenário local, observamos números mais fracos de crescimento e emprego, o que sugere uma recuperação mais lenta e gradual do que a prevista anteriormente. O processo eleitoral começa a ganhar corpo, mas ainda com grande indefinição, o que dificulta desenvolver qualquer panorama para um prazo mais longo. Finalmente, no tocante ao cenário externo, vemos um acúmulo de pressões inflacionárias nos EUA e números de crescimento mais fracos na Europa e na China, o que faz com que ainda haja muita indefinição no curto-prazo.

Assim, com este pano de fundo, estamos reforçando nossas recomendações mais neutras e cautelosas para os ativos locais.

Juros - Preferimos estar neutros na parte curta das curvas nominais e reais de juros, pois vemos o risco/retorno como não atrativo. Já não temos mais a convicção de que os juros ficarão mais baixos por muito tempo, a despeito do cenário de inflação corrente bastante contida. Precisamos entender de maneira mais clara o impacto dos eventos recentes na inflação prospectiva, antes de termos alguma opinião mais firme em relação à curva local de juros reais e nominais.

Câmbio - Continuamos sem recomendações estruturais para o mercado de câmbio. O menor carrego da moeda, o cenário externo mais desafiador e o cenário eleitoral ainda indefinido deverão manter o câmbio com elevada volatilidade e em patamares mais depreciados por mais tempo.

Renda Variável/Bolsa - Assim como no mercado de juros, preferimos estar com posições neutras (ou em torno da média) no mercado de renda variável. Estamos optando por fundos com menor “beta” ao mercado e que priorizem ações de valor e/ou com boa previsibilidade de resultados, como alguns fundos de dividendos.

Fundos Estruturados - Continuamos com recomendações acima da média para fundos multimercados. Gostamos de gestores que historicamente conseguem gerar “alpha” em mercados externos, e/ou que mostrem menor dependência a temas específicos, como a queda de juros no Brasil.

Fundos de Investimento no Exterior - Finalmente, acreditamos que existe espaço para fundos de investimento no exterior com viés neutro ao “beta” do mercado, como fundos long-short neutros, fundos macro, CTA e etc, nos quais a escolha do gestor seja um gerador maior de retorno do que a direção do mercado em si.

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