Risk-Off!


Os ativos de risco estão abrindo o dia novamente em tom negativo, com movimentos clássicos de “risk-off”. Destaque para mais uma forte queda das bolsas na China e depreciação do Yuan (CNY), a moeda do país (mais detalhes abaixo). Continuo com visão mais cautelosa e negativa no curto-prazo. As posições refletem este viés. Contudo, sigo com postura mais tática, ainda vendo os mercados em ranges.  Para mais detalhes das posições, vejam aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com/.
Alguns vetores justificam este pano de fundo mais nebuloso nos últimos dias. Vamos a eles:
1 – A normalização monetária nos países desenvolvidos, em especial nos EUA, continua a reduzir a liquidez dos mercados e a se colocar como uma grande restrição a apreciações adicionais aos ativos de risco. Vejo este vetor como estrutural, ou seja, de longo-prazo. Acredito que este processo irá continuar a criar uma espécie de barreira a apreciações mais acentuadas e prolongadas dos ativos de risco.
2 – A China passa por um momento mais delicado de desaceleração, o que não ocorria desde 2016. O país costuma, quase que anualmente (exceto em 2017) passar por períodos curtos de desaceleração que, normalmente, são administrados de maneira bem sucedida pelo Governo e pelo PBoC. A atuação desses agentes, nos últimos anos, sempre foi suficiente para estabilizar a economia e os mercados, mas não sem antes criar volatilidade e momentos negativos nos ativos de risco.
A cerca de 5 a 6 semanas, começamos a ver sinais de fragilidade na economia chinesa. Desta vez, contudo, com o agravante de um problema um pouco mais agudo no mercado de crédito, que sempre foi apontando como um enorme risco de longo-prazo à economia.
Neste caso, só nos resta acompanhar os próximos passos da economia e dos mercados na China, mas pela primeira vez em cerca de um ano e meio o país começa a se mostrar um vetor desestabilizador para os mercados financeiros globais, após um longo período de estabilidade e pouca atenção dada pelos investidores.
3 – O Governo dos EUA continua caminhando na direção de maior confronto nas negociações comerciais. Este tema é mais espinhoso e incerto, dado a imprevisibilidade desta administração liderada por Trump.
4 – A Europa passa por um momento de incerteza econômica, com sinais de desaceleração da economia, e problemas políticos diversos, como a situação do novo governo na Itália e a fragilidade de Merkel na Alemanha. A Europa está se mostrando que pode começar a ser vista como o novo Japão em termos de economia e política, ou seja, uma região com baixo crescimento estrutural, mudanças políticas constantes e poucas pressões inflacionárias. A comparação não é perfeita e nem totalmente “honesta”, mas é uma percepção que poderá se formar com o tepo.
No Brasil, o CMN reduziu a meta de inflação de 2021 para 3,75%. A mudança é um enorme avanço institucional para o país, pois irá tornar mais “caro” políticas heterodoxas em eventuais novos governos eleitos. Não vou entrar no mérito da discussão se a decisão foi, ou não, acertada.
Acredito que a decisão irá ajudar a ancorar as expectativas de inflação mais longas. Não vejo a decisão alterando a política monetária de curto-prazo. O mercado estava bastante comprado e inflação implícita na parte intermediária da curva e esta decisão poderá causar alguma pressão (baixistas de taxa) nestas posições e na parte intermediária da curva, no curto-prazo. Com o cenário externo ainda nebuloso e o político local indefinido, contudo, a decisão pouco deve alterar a dinâmica de médio-prazo (3 a 6 meses).
Ainda ontem o STF anunciou algumas decisões que podem favorecer o ex Presidente Lula, soltando alguns condenados em segunda instância que estavam presos. Os casos não são idênticos, mas as decisões serão vistas pelo mercado como um sopro de esperança para Lula ser solto em agosto.


 


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