Brasil: Reação dos mercados é condizente com cenário atual.


Brasil – Forte deterioração dos ativos locais, seguindo a tendência das últimas semanas. Alta do dólar, alta das taxas de juros, com “bear steepening” e queda da bolsa. As últimas pesquisas eleitorais, o quadro político e econômico do país não ajudam o humor local (vide mais detalhes aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com/). Além disso, o cenário externo permanece mais desafiador para os países emergentes em geral. Não vejo estes vetores melhorando no curto-prazo e sigo com visão mais cautelosa e negativa.

A produção industrial de abril apresentou alta de 0,8% MoM e 8,9% YoY, acima das expectativas do mercado (0,4% MoM e 7,8% YoY). Contudo, este número é uma fotografia do passado. As perspectivas de crescimento apresentaram forte deterioração nos últimos dias.

O grande destaque do dia, na minha visão, visão por conta de intervenção do BCB no câmbio. Após o Real atingir a marca de 3,8, o BCB anunciou que irá promover um leilão de swap cambial de US$1,5bi amanhã, o dobro dos US$750mm que vinha fazendo até aqui.

Eu entendo que o papel da autoridade monetária seja de suavizar os movimentos no câmbio, prezar pela estabilidade financeira e manter a inflação no centro da meta (ou em torno dela). Contudo, acredito que, neste caso, a atuação do BCB possa estar equivocada. O movimento de dólar forte é global e não local, ainda faltam alguns meses para uma eleição bastante aberta e disputada. Assim, pode eventualmente “faltar munição” para o BCB nos dias vindouros.

Não vejo a atuação do BCB, por si só, como capaz de conter a escalada do dólar. Pelo contrário, a antecipação de uma postura mais agressiva pode, até mesmo, acelerar o movimento. Naturalmente, o próximo passo seria (ou está sendo) o mercado começar a questionar os próximos passos de política monetária, começando a acreditar em uma potencial alta de juros para conter o movimento do dólar.

Reforço que não estou fazendo juízo de valor ou crítica, mas tentando entender, ou antever, a leitura do mercado sobre os eventos recentes e os impactos sobre os mercados financeiros locais, os investimentos e portfólios.

Externo – Os números fechados dos PMI/ISM confirmaram um cenário de solidez da economia dos EUA em detrimento ao resto do mundo que, a despeito de algum arrefecimento, apresenta taxas de crescimento relativamente saudáveis.

Nos EUA, o JOLTs Job Openings fizeram um novo pico histórico, mostrando um  mercado de trabalho extremamente apertado. A pesquisa do ISM Non-Manufacturing e demais evidência anedóticas mostram uma economia no pleno emprego com o acumulo de pressões inflacionárias. O Fed deverá manter sua postura de normalização monetária, com 3 a 4 altas de juros por ano, o que ainda não está contemplado nos preços de mercado.

Este cenário de fortalecimento dos EUA em detrimento ao resto do mundo, com perspectivas de aperto adicional da política monetária dos EUA não costuma ser visto como um cenário positivo para os ativos de risco, especialmente os ativos Emergentes.

Nesta frente, voltamos a ver problemas idiossincráticos, como a indefinição em torno do NAFTA, um quadro eleitoral ainda nebuloso no México e a ausência de avanços nas negociações comerciais dos EUA com seus parceiros comerciais.

A despeito da melhora do quadro técnico e de preços/valuations mais atrativos, não vejo o cenário como propício para alocações relevantes e ativos de risco. Precisaria observar uma mudança substancial de cenário para mudar minha opinião. No Brasil, apenas a perspectiva crescimento de um candidato de centro, liberal e reformista, neste momento, será capaz de acalmar a espiral negativa dos mercados.

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