Após uma semana, pouca coisa mudou.


Após uma semana de descanso, acompanhando as notícias de forma superficial, aqui vão alguns comentários preliminares de como vejo o cenário. Estarei mais preparado para entrar em detalhes de algum tema específico ao longo dos próximos dias.

De maneira geral, o cenário, local e externo, assim como o nível de preço dos ativos, está quase que rigorosamente igual há uma semana, ou seja, não vejo grandes mudanças fundamentais de cenário econômico ao longo dos últimos dias, que justifiquem qualquer mudança de postura ou posicionamento.
Vamos a alguns temas mais específicos:
Brasil – Continuamos a sentir os impactos negativos, porém pontuais, da greve dos caminhoneiros nos indicadores de atividade econômica. Na inflação, este efeito é altista, porém temporário.
O grande destaque da semana ficou por conta da reunião do Copom, em que o comitê manteve a Taxa Selic estável em 6,5%, indicando exatamente para estes efeitos pontuais nos números dos próximos meses. O comunicado procurou manter flexibilidade na atuação de política monetária, mas mostrou pouca propensão a utiliza-la (ou seja, promover altas de juros), pelos menos com o câmbio “controlado” em torno de 3,7-3,9 no curto-prazo.
Não houve mudança de cenário econômico e político. A corrida eleitoral continua aberta e não vi nenhum fato concreto que altere o cenário de incerteza e indefinição nesta frente.
O BCB continua atuando de forma relativamente agressiva no câmbio, com swaps cambiais e leilões de linha, porém de maneira mais errática. Por ora, esta postura tem sido bem sucedida em manter o BRL em torno de 3,7-3,8, especialmente com os últimos dias de dólar mais estável para fraco no mundo.
Da mesma forma, o Tesouro Nacional continua promovendo leilões de compra e recompra de títulos, o que ancorou o mercado, mesmo que muito próximo aos highs de taxa deste ciclo.
A grande mudança ficou por conta da posição técnica do mercado. Nosso acompanhamento de posições dos fundos mostra um mercado muito mais balanceado, com muitos gestores já menores em alocações em Brasil e muitos outros já com posições mais pessimistas. Este posicionamento também pode estar dando algum alívio de curto-prazo ao mercado. Vale lembrar que a posição técnica é importante para movimentos de curto-prazo, mas estudos comprovam que, na média, o consenso costuma estar correto.
Eu continuo pouco animado para carregar posições estruturais em Brasil, nestes níveis, com esta posição técnica e as incertezas do cenário, para qualquer um dos lados (positivo o negativo). Minha intenção é seguir com postura mais tática, posições relativas e a busca por assimetrias em mercados específicos.
EUA – O país continua mostrando crescimento robusto e acima do resto do mundo. Será importante monitorar os próximos dados de inflação. O Fed está, por ora, em piloto autoático em seu processo de normalização monetária. Vejo um risco maior de o Fed ter que ser mais agressivo no processo de normalização do que ter que desacelerar este ritmo.
O Governo Trump continua com postura agressiva no tocante as negocições com seus parceiros comerciais, mas o mercado, por ora, está ignorando este fato, acreditando que essa postura não passa de uma estratégia em busca de melhores termos. Eu vejo um risco crescente de um erro de política comercial, à medida que as medidas vão sendo implementadas. Não descarto a possibilidade próprio mercado fazer o papel de trazer mais racionalidade a esta discussão, caso observemos uma forte reação negativa em algum momento do tempo.
Me chamou a atenção, porém um tema para o longíssimo prazo, a aprovação pela Suprema Corte, autorizando os Estados a cobrarem impostos sobre as empresas de varejo na internet. Este é um tema que acho que ganhará corpo com o tempo, de maior regulamentação do setor de tecnologia como um todo. Este tema surgiu com o “escândalo da Cambridge Analytica e do Facebook” e deve ganhar corpo ao longo do tempo.
Europa – Alguns países continuam apresentando problemas políticos locais (Itália, Alemanha e etc). Vimos um sopro de esperança na estabilização do crescimento da região com os números preliminares dos PMIs divulgados no final da semana passada.
A região continua mostrando dinâmica confusa e problemas diversos.
China – A China foi foco de estabilização dos mercados  desde início de 2017. Nos últimos meses, começamos a ver sinais de arrefecimento do crescimento e alguns problemas um pouco mais agudos no mercado local de crédito. A recente piora na relação comercial com os EUA parece já está afetando o crescimento do país.
O PBoC anunciou mais um corte de compulsório neste domingo. O PBoC também vem mantendo a moeda um pouco mais depreciada do que o imaginado. O Governo continuará tentando administrar da maneira mais gradual possível o processo de desaceleração da economia e os problemas no mercado de crédito. Eles sempre foram capazes de conduzir este processo de maneira positiva. De qualquer maneira, é uma área que precisamos acompanhar de perto, pois pode trazer consequências mais problemáticas caso saia do controle.

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