EUA: Mais inflação, menos crescimento.
O grande destaque desta sexta-feira,
na minha opinião, ficou para os dados econômicos nos EUA. Como comentei hoje cedo, não irei comentar a fundo a dinâmica
dos ativos de risco hoje, pois os fluxos de final de trimestre/semestre podem
distorcer qualquer sinalização dos mercados.
Os números econômicos nos EUA mostraram um crescimento ainda
sólido e saudável, mas com sinais de que o seu pico possa já ter sido feito. No
tocante a inflação, acumula-se sinais de pressões altistas de preço. Existe uma
chance não desprezível de observarmos números de crescimento mais fracos e
inflação mais fortes nas próximas semanas, o que não costuma ser uma combinação
positiva para ativos de risco.
Reforço o que escrevi mais cedo, com
a contribuição do Morgan Stanley:
Os números na margem
mostram alguma desaceleração do crescimento: The Q2 spending profile now shows a
deceleration throughout the quarter: 0.6% in March, 0.5% in April and 0.2% in
May.
A inflação continua
dando sinais de firmeza e já se encontra na meta do Fed. Vale lembrar, contudo,
que o Fed está confortável com o Core PCE “em torno de” 2%, ou seja, se não
acentuar a alta de 2%-2,2%, na minha visão, não haverá mudança de política monetária: Headline PCE inflation,
meanwhile, rose 0.21% (in line with MS/consensus), boosting the year-over-year
rate of total PCE inflation to 2.25%—at or above the Fed's 2.0% goal for the
third consecutive month.
O Chicago PMI se manteve perto das
máximas deste ciclo econômico, com novos sinais de pressões inflacionárias. O Michigan
Confidence apresentou leve arrefecimento, mas ainda em patamar elevado. As
expectativas de inflação continuam a se mover para cima.
Continuo vendo a evolução de um
cenário que deverá se colocar como uma restrição para apreciações adicionais,
ou tendências mais prolongadas e positivas. Por ora, ainda não vejo nenhum “trigger”
para uma tendência mais negativa, mas a evolução de um cenário que pode
caminhar nesta direção. Enquanto isso, espero a manutenção de um ambiente de
maior volatilidade e tendências (ou movimentos) mais curtos. Os portfólios
devem estar adaptados a este ambiente.
No Brasil, a pesquisa mensal de emprego mostrou uma deterioração na
parte qualitativa do mercado de trabalho, o que apenas reforça a situação de uma
recuperação ainda mais lenta do que o esperado no crescimento do país. Os dados
fiscais apresentaram recuperação, o que deve garantir o atingimento da meta
fiscal deste ano com certa tranquilidade. Este vetor, contudo, é uma foto do
passado e os riscos prospectivos nessa frente, na ausência de reformar
adicionais, continuam extremamente elevados.
Neste momento, estamos presenciando
mais uma rodada de depreciação do Peso na Argentina
(ARS), o que apenas confirma a minha visão de um cenário global ainda
conturbado e longe de uma estabilização mais duradoura.
O final de semana trará
as eleições no México como destaque.
Já é amplamente esperado que AMLO, o candidato de esquerda, ganhe as eleições,
com potencial de conseguir uma maioria no congresso nunca antes atingida. Nos
últimos anos AMLO migrou para um discurso mais ao centro, o que está fazendo os
investidores acreditarem em um cenário parecido com o Lula no Brasil em 2002,
em que a despeito de ser de esquerda, o país acabou passando por um período de
bonança. Só vale lembrar, contudo, que o cenário internacional é totalmente
diferente atualmente. Assim, qualquer erro ou guinada mais à esquerda/populista
será punido de forma mais rigorosa pelo mercado. Dado a importância do México
para o mundo emergente, e as comparações que serão feitas com Brasil,
precisamos estar atentos ao que ocorrerá no país a partir de segunda-feira.
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