EM: No Relief...


O “relief rally” dos mercados emergentes, do qual me referi pela manhã, durou apenas metade de um dia. Os mercados emergentes voltaram a apresentar forte pressão. Nem mesmo a percepção do mercado de um Fed e um ECB dovish – pelo menos pela reação dos ativos, não que eu concorde com essas intepretações – foi capaz de conter o movimento de desalavancagem dessa classe de ativos.

Vimos novamente forte pressão sobre Brasil, Argentina, Turquia, México e afins. Confesso que estamos em um ambiente o qual já não sei ao certo o que será capaz de estancar essa sangria. Pegando a Argentina como exemplo, o país elevou as taxas de juros para 40%, promoveu forte intervenção cambial, anunciou mais austeridade fiscal e fechou um pacote de ajuda junto ao FMI. Nada disso foi capaz, pelo menos por ora, de conter a depreciação do ARS e a depreciação dos ativos do país. Ao que tudo indica, outros países emergentes estão caminhando na mesma direção.

O que me resta é acreditar que após 10 anos de liquidez abundante, o processo de normalização monetária nas economias desenvolvidas, mas especificamente nos EUA e na Europa, está gerando uma pressão estrutural sobre essas classes de ativos e apenas a estabilização desse processo será capaz de reverter esses movimentos.

Na Europa, o ECB anunciou um “tapering” de seu QE e sinalizou para o seu encerramento no final deste ano. Este processo, obviamente, está condicionado aos dados econômicos. A sinalização de taxas de juros baixas até meados de 2019 foi percebida como dovish, levando a forte queda do EUR e fechamento de taxa de juros.

Minha conclusão é que as reuniões do Fed e do ECB pouco alteraram o cenário de médio-prazo, em que a normalização monetária continuará nesses países/regiões, trazendo enormes restrições para a apreciação dos ativos de risco.

Nos EUA, as vendas no varejo de maio ficaram muito acima do esperado, e apresentaram revisões altistas para o mês anterior. O Jobless Claims se manteve nos níveis mais baixos em várias décadas. O Import e Export Prices mostraram sinais de acumulo de pressões inflacionárias. Esses números confiram o cenário de uma economia no pleno emprego com o hiato do produto fechado, o que enseja a continuidade do processo de normalização monetária, talvez de forma mais rápida e acentuada do que o que está precificado no mercado neste momento.

No Brasil, a intervenção mais agressiva anunciada pelo BCB está chegando ao fim, com o dólar voltando ao patamar de 3,8. É muito provável que intervenções agressivas, porém mais erráticas e sem anúncios oficiais, continuem no curto-prazo.

O mercado de juros apresentou mais uma rodada de “stops”, com a curva apresentando um movimento quase que linear de abertura. Impressiona a precificação de alta de juros na parte curta, com um ciclo já bastante agressivo e começando na reunião do Copom da semana que vem.

Acredito que mantido este cenário, com a dificuldade que o BCB está tendo em manter o dólar bem comportado, o BCB será levado a promover um ajuste na Taxa Selic. Tenho pouco convicção no tamanho e no timing deste ajuste.

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