Estabilização do humor global a risco. No Brasil, governo se fortalece.

Os ativos de risco estão apresentando recuperação em relação ao leve “risk-off” verificado ontem. A ausência de uma reação mais enérgica e beligerante do Ocidente em relação aos últimos eventos na Península da Coréia é um vetor de sustentação dos ativos de risco esta manhã. Vale lembrar que na semana passada tivemos a confirmaço de um cenário econômico global positivo. Os eventos geopolíticos na Ásia são os únicos pontos de preocupação/ruído no curto-prazo. Assim, a ausência de reações mais negativas em resposta aos testes balísticos militares por parte da Coréia do Norte acaba gerando um cenário menos negativo para os ativos de risco.


Sobre a Coréia do Norte, reforço que: Raramente situações como essa chegam ao ponto beligerante. Na maior parte das vezes, situações como essa chegam a um equilíbrio na base da diplomacia. Contudo, não estamos em tempos normais. Os líderes de EUA e Coreia do Norte são de difícil leitura. Acredito que ninguém tenha vantagem comparativa em prever este tipo de evento/situação. A sinalização de Trump, entretanto, coloca o mercado em alerta. Qualquer resposta verbal, ou novo teste balístico por parte da Coreia do Norte, poderá levar a uma reação desproporcional nos ativos de risco, especialmente nos atuais níveis de preço.

Continuo vendo um cenário econômico global relativamente positivo, e espaço para uma tendência de leve apreciação dos ativos de risco. Em especial, vejo espaço para a continuidade de rotação de ativos vistos como com valuations e posição técnica menos atrativos neste momento, em prol de ativos cujo valuation parece mais atraente e a posição técnica idem. Este é o caso, por exemplo, da migração das bolsas dos países desenvolvidos para as bolsas e os ativos emergentes em geral. Dados os riscos geopolíticos e os níveis de volatilidade implícita, gosto de buscar hedges em alguns índices de bolsa dos países desenvolvidos, ou executar as posições “compradas” através de estruturas de opção. As vols implícitas do Ibovespa, por exemplo, se mostram historicamente em níveis extremamente baixos, deixando o risco/retorna da operação bastante atrativa.

No Brasil, no final da tarde de ontem, o Procurador Geral da República anunciou que membros do Grupo da J&F, cujos acordos de delação premiada já foram homologados, e são de conhecimento público, entregaram a PGR novas gravações que não haviam sido disponibilizadas anteriormente. Segundo a PGR, as gravações trazem conversas gravíssimas, que colocam em dúvida a atuação e a postura de membros da própria PGR e do Judiciário como um todo, em todas as instancias. Segundo o Procurador Geral, já foi aberto uma investigação que pode vir a cassar os direitos concedidos aos delatores por terem omitido uma parte vista como relevante em suas delações premiadas.

O efeito prático deste evento é enfraquecer a delação do Grupo J&F e, consequentemente, enfraquecer todas as denuncias cuja base eram essas delações, mesmo que a PGR diga que as provas ainda são válidas. Neste caso, a situação do Presidente Michel Temer e de parte do seu núcleo político obtém uma vitória bastante importante politicamente. Uma eventual segunda denuncia já chegaria ao Congresso desgastada e enfraquecida. O evento de ontem deve ser lido pelo mercado como positivo por favorecer a continuidade do cenário político atual, reduzindo “riscos de cauda” de eventuais novas denuncias no curto-prazo.

Além disso, a mídia está reportando que Marcelo Odebrecht, em depoimento ao juiz Sergio Moro, confirmou que operava uma “conta propina” para membros dos governos do PT nos últimos 12 anos. Segundo a mídia, os depoimentos incriminariam os governos de Lula e Dilma. Sem tentar fazer juízo do caso, mas apenas em uma tentativa de entender a resposta do mercado a este evento, tendo a acreditar que o mercado irá ler este tipo de depoimento como elevando a probabilidade de uma nova condenação de Lula. Consequentemente, isso enfraqueceria o ex presidente em sua corrida presidencial de 2018. Assim, tende a ser lido como positivo pelos mercados financeiros locais.


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