China: Tudo que você precisa saber!
Vou tentar resumir minha visão sobre os últimos eventos na China.
Problema: Evergrande é a segunda maior empresa imobiliária
(Real Estate – RE) do país, com dívidas diretas e reconhecidas da ordem de
US$300bi. Aqui, não sabemos ao certo as dívidas “por fora do balanço”, nem o
quanto a empresa deve a fornecedores e prestadores de serviço.
Medidas recentes do governo chinês,
visando reduzir a alavancagem da economia e “enquadrar” empresas muita
alavancadas, levaram a uma situação de rápida deterioração das condições
financeiras da Evergrande (aqui estou evitando, intencionalmente, me aprofundar
nas especificidades e profundidade das medidas).
A empresa viu uma queda de cerca de
85% de suas ações e sua dívida, que era líquida no mercado internacional, opera
a 25% do valor de face. Estes níveis são considerados de “recovery value”,
quando uma empresa “quebra” e precisa passar por um processo de reestruturação
ou desmembramento. Na média, os credores recuperam cerca de 25% de seu capital
(com uma dispersão muito grande dependendo de cada empresa).
Nos últimos dias, começamos a ver um
contágio para outras empresas do setor de RE, com forte queda no preço de suas
ações e de sua dívida. Além disso, empresas do setor financeiro, como
seguradoras, sofreram fortes perdas em suas ações no final da semana.
Vale destacar que muitas empresas do
setor de RE pagavam seus fornecedores com “commercial papers”, uma dívida de
curto-prazo que era amplamente aceita na economia e tinha uma sensação
implícita de garantia governamental (lembram da Fannie Mae e Freddie Mac nos
EUA em 2008?).
Caso esses papeis deixem de ser
aceitos, os efeitos secundários na economia podem ser relevantes. Estima-se que
30% do PIB chinês depende direta ou indiretamente do setor imobiliário. Estima-se que a empresa tenha quase 1 mil
projetos ao redor do país, com quase 2mm de pessoas a espera de seus imóveis,
já tendo desembolsado recursos para pagãmente, em maior ou menor escala.
Riscos: Grande parte da dívida offshore da empresa está
em mãos de bancos e grandes fundos globais, porém de forma bastante distribuída.
Não vejo grandes riscos de contágio financeiro global, neste caso.
A dívida local é detida por bancos,
seguradoras, pessoas físicas (no que é chamado de Wealth Management Products),
fornecedores e prestadores de serviço.
Há riscos no mercado financeiros
chinês, mas acredito que, neste caso, seja fácil o governo “bailout” (salvar)
os bancos, muitos deles estatais.
Acredito que o grande risco seja o impacto
econômico que um contágio mais generalizado poderá gerar na demanda e no
crescimento do país, com reverberações não desprezíveis para o resto do mundo.
Cenários:
1 – Kick The Can
Down de Road: Isso tem
sido feito há anos. Acho pouco provável que consigam fazer de novo, ou seja,
empurrar o problema com a barriga.
2 – Point of No Return:
Já estamos em um
ponto em que o contágio está a pleno vapor e agora teremos que conviver com um
longo e tortuoso processo de ajuste, que passa por uma forte desaceleração do
país e problemas internos que precisarão ser equacionados.
3 – Deixa o “bond
holder” e “equity holders” perderem tudo, mas distribui os projetos inacabados
para outros agentes. Acho que
este é o cenário ideal, mas o governo pode perder as rédeas da situação. Isso
evitaria convulsão social e uma desaceleração mais acentuada da economia.
Neste momento, não consigo dizer com
convicção o que é mais provável, dado a baixa visibilidade da situação. Por isso,
espero mais incerteza e volatilidade nos próximos dias
Fasten Your Seatbelt
*As análises e
opiniões são pessoais e não representam, necessariamente, uma visão
institucional.
Dan
H. Kawa
CIO
TAG Investimentos
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