E agora? Um resumo do cenário.
Fiquei alguns poucos dias fora, e o mercado acabou não tendo trégua. Assim, o momento me parece propício para uma reflexão, resumida, dos principais eventos recentes:
Brasil:
Elevado ruído envolvendo pagamento de
Precatórios e o Teto dos Gastos, que levou a forte deterioração dos ativos
locais no final da semana. Por ora,
acredito que seja apenas ruído e mais uma tentativa de “ventilar” medidas para sentir
o humor da sociedade e do mercado. A reação fortemente negativa deve frear a
evolução do tema.
Obviamente, estamos vivendo em um
momento de fragilidade política e não podemos minimizar ou ignorar qualquer risco
nesta frente.
Continuo vendo, estruturalmente, um
bom risco versus retorno, em valuations atrativos, para a bolsa local, mas sabendo
que será um ativo de elevada volatilidade. Vejo o câmbio se mantendo dentro da
banda de 5,0 com 5,5 a maior parte do tempo. O mercado de juros deverá seguir os
próximos passos da política monetária, gosto das NTN-Bs intermediárias e
longas, mas ainda em tamanho reduzido dado as incertezas do cenário.
EUA:
O Fed trouxe poucas novidades ao
cenário e parece com pouca pressa para ajustar sua política monetária. A Variante
Delta está levando o país a uma nova onda da pandemia, mas ainda muita
concentrada nos não vacinados.
Os dados de crescimento mostram
sinais de arrefecimento, mas ainda em patamar alto.
Acredito que o cenário base ainda
seja construtivo, mas existe uma probabilidade, crescente, de o país ter que
lidar com mais inflação e menos crescimento, o que não seria um problema se os
ativos locais não estivessem “precificados a perfeição”, que é o que mais me
incomoda no momento. Sigo com alocações baixo da média em ativos americanos.
China:
Aqui é onde reside o maior risco de
curto-prazo, mas onde, na minha visão, as oportunidades de longo-prazo estão
sendo criadas. O país está lidando, no curto-prazo, com:
(1)
Desaceleração
econômica, confirmada pelo PMI este sábado;
(2)
Problemas
no mercado de crédito, por ora concentrado na Evergrande, um dos maiores conglomerados
empresariais do país;
(3)
Aumento
da intervenção regulatória em setores que vão de Tech, Financials à Educação;
Me parece pouco provável que estes
vetores irão se dissipar no curto-prazo. Assim, podemos esperar mais
volatilidade pela frente. Os riscos não são desprezíveis.
Nos últimos dias, o Governo já
sinalizou para uma postura mais flexível e expansionista, visando evitar uma desaceleração
adicional da economia. Isso deveria, na ausência de um erro de política
(fiscal, monetária e creditícia), evitar uma crise de maiores proporções.
Todavia, já vimos forte realização de
lucros em vários ativos da China e isso pode estar criando uma janela de
oportunidades para o aumento de alocação em ativos do país.
Como não saberemos até onde irá a
correção, devemos agir de maneira parcimoniosa e em fases na alocação em ativos
chineses.
Bolsas:
A temporada de resultados corporativos
nos EUA continua, no geral, positiva. Entretanto, em setores muito favorecidos,
como Tech, já há sinalizações menos positivas, como foi o caso da Netflix (https://www.linkedin.com/posts/dan-kawa-78361130_empresas-finance-netflix-activity-6823624341658365952-4Vjn).
Na quinta-feira, esta mesma tendência
ocorreu na divulgação do resultado da Amazon, levando a uma queda de 7,5% de suas
ações.
Mesmo vendo um cenário ainda construtivo,
o preço e valuation de alguns ativos me incomoda. Por isso, sigo preferindo gestão
ativa e fundos de “valor” nos mercados de ações internacionais.
No Brasil, a temporada de resultados
parece positiva e a queda recente do Ibovespa levou a um grande “de-rating” de
valuation. Nossa bolsa opera a níveis de valuation de 8,5x-9x P/E, o que é cerca
de dois desvios padrões abaixo da média histórica.
Devido aos riscos macro, contudo,
teremos que conviver com incerteza e volatilidade.
Crypto:
A última semana foi marcada por forte
recuperação dessa classe de ativo. Pegando o Bitcoin como parâmetro, após
testar níveis abaixo de 30k, voltou a operar acima de 40k neste final de
semana.
Não sou especialistas neste tema. Acredito
que a tese estrutural veio para ficar e estará conosco por muitos anos.
Contudo, é uma classe ainda muito
volátil e pouco entendida por muitos. Algumas das “moedas” e “tokens” não
sobreviverão aos ciclos, mas muitas delas terão funcionalidades importantes no
futuro.
Devemos esperar uma maior
regulamentação deste setor, o que vejo com bons olhos para reduzir a vol no
futuro e dar maior transparência e segurança ao ativo.
Dado o nível de volatilidade,
qualquer alocação deve ser com parcimônia e em tamanho pequeno diante do seu
patrimônio.
*As análises e
opiniões são pessoais e não representam, necessariamente, uma visão
institucional.
Dan
H. Kawa
CIO
TAG Investimentos
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