Relatório Semanal de Asset Allocation:
Cenário
Econômico:
O grande destaque do mês de maio ficou por conta da
greve dos caminhoneiros no Brasil. A situação do país ainda está sendo normalizada
de forma relativamente lenta. Contudo, é natural esperar (e acreditar) que até
os próximos dias a greve tenha ficado totalmente para trás e o país volte ao
normal.
Com a atuação do Banco Central no mercado de
câmbio, e agora do Tesouro no mercado de títulos públicos não descartamos
alguma acomodação, normalização ou até mesmo “relief rally” dos ativos do
Brasil. Contudo, a situação que o país vivenciou nos últimos dias traz
consequências e permite que se tirem conclusões de longo-prazo muito mais importantes.
Não é o nosso intuito neste fórum fazer juízo de
valor, apoio ou críticas a qualquer tipo de movimento. A nossa intenção é
entender o impacto que as questões referentes ao país terão sobre os ativos
financeiros locais e aos investimentos de curto e longo-prazo.
Na nossa visão, a situação que o país viveu com
este episódio dos últimos dias mostra o total despreparo do país para lidar com
situações de crise, e uma sociedade que se mostra imatura, e/ou não preparada
para as mudanças e reformas tão necessárias para estabelecer a saúde econômica
do país. A falta de disposição de resolução e de posicionamento de várias
esferas da sociedade neste evento, assim como no debate da reforma da
previdência no ano passado, mostra que será extremamente complicado para que o
próximo governo, o próximo presidente e o próximo Congresso Nacional consigam
avançar de maneira efetiva nas reformas econômicas, imperativas para o bom
funcionamento econômico do país, ainda mais levando-se em consideração um
cenário externo bem mais desafiador.
Nas últimas semanas, vimos como a ausência de bases
econômicas sólidas podem levar rapidamente países a situações delicadas,
inclusive com forte depreciação de seus ativos. Argentina e Turquia foram ambas
levadas a promover forte elevação das taxas de juros, além de intervenções no
mercado de câmbio, com medidas adicionais de ajuste fiscal, com efeitos ainda
mais recessivos e negativos para a sociedade em geral.
Na atual conjuntura do ciclo eleitoral do Brasil,
não vemos nenhuma plataforma, de nenhum dos candidatos competitivos, realmente
capaz de alterar a situação do país. Além disso, a maior parte dos candidatos
competitivos não mostra real intenção, posicionamento firme e, mais importante
de tudo, convicção na necessidade das reformas. Finalmente, neste momento, fica
difícil vislumbrar que teremos de fato uma mudança substancial no Congresso
capaz de apoiar esta agenda liberal e reformista.
Assim, mesmo que momentos de acomodação e
recuperação dos ativos locais venham a ocorrer nos próximos dias ou semanas,
apenas uma maior visibilidade da próxima administração será capaz de alterar o
humor dos investidores acerca dos ativos do país. Por ora, este ambiente traz volatilidade
e incerteza aos portfólios e investimentos, e assim permanecerá. Mantemos nosso
viés de cautela, flexibilidade, agilidade e liquidez dos portfólios.
Alocação/Estratégia:
Como
temos reforçado neste fórum, as últimas semanas nos levaram a promover algumas
revisões em nosso cenário base.
No
cenário local, observamos números mais fracos de crescimento e emprego, o que
sugere uma recuperação mais lenta e gradual do que a prevista anteriormente. O
processo eleitoral começa a ganhar corpo, mas ainda com grande indefinição, o
que dificulta desenvolver qualquer panorama para um prazo mais longo.
Finalmente, no tocante ao cenário externo, vemos um acúmulo de pressões
inflacionárias nos EUA e números de crescimento mais fracos na Europa e na
China, o que faz com que ainda haja muita indefinição no curto-prazo.
Assim,
com este pano de fundo, estamos reforçando nossas recomendações mais neutras e
cautelosas para os ativos locais.
Juros -
Preferimos estar neutros na parte curta das curvas nominais e reais de juros,
pois vemos o risco/retorno como não atrativo. Já não temos mais a convicção de
que os juros ficarão mais baixos por muito tempo, a despeito do cenário de
inflação corrente bastante contida. Precisamos entender de maneira mais clara o
impacto dos eventos recentes na inflação prospectiva, antes de termos alguma
opinião mais firme em relação à curva local de juros reais e nominais.
Câmbio -
Continuamos sem recomendações estruturais para o mercado de câmbio. O menor
carrego da moeda, o cenário externo mais desafiador e o cenário eleitoral ainda
indefinido deverão manter o câmbio com elevada volatilidade e em patamares mais
depreciados por mais tempo.
Renda
Variável/Bolsa - Assim como no mercado de juros, preferimos estar com posições
neutras (ou em torno da média) no mercado de renda variável. Estamos optando
por fundos com menor “beta” ao mercado e que priorizem ações de valor e/ou com
boa previsibilidade de resultados, como alguns fundos de dividendos.
Fundos
Estruturados - Continuamos com recomendações acima da média para fundos
multimercados. Gostamos de gestores que historicamente conseguem gerar “alpha”
em mercados externos, e/ou que mostrem menor dependência a temas específicos,
como a queda de juros no Brasil.
Fundos
de Investimento no Exterior - Finalmente, acreditamos
que existe espaço para fundos de investimento no exterior com viés neutro ao
“beta” do mercado, como fundos long-short neutros, fundos macro, CTA e etc, nos
quais a escolha do gestor seja um gerador maior de retorno do que a direção do
mercado em si.
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