Portfólio Strategy Update

By Dan Kawa

 

O momento é oportuno para uma breve atualização de cenário.

 

O cenário internacional recente se mostra um tanto quando nebuloso, na minha visão, a despeito da evidente recuperação de preços no mercado de ações globais.

 

Nos EUA, há sinais preliminares de arrefecimento do crescimento, em indicadores de confiança como Michigan Confidence e Consumer Confidence. Estes costumam ser indicadores antecedentes de atividade econômica.

 

A abertura desses indicadores mostra que o consumidor está cada vez mais pressionado pela inflação mais alta e persistente. Este ambiente inflacionário já começa a afetar os gastos discricionários da população americana, ainda de maneira incipiente.

 

Com este pano de fundo, vemos uma forte inversão da curva de juros nos EUA, que costuma ser um sinal de mercado com elevado poder preditivo de futuras recessões. Ainda estamos na fase do ciclo econômico em que a inflação é a principal tese do mercado.

 

Imagino que nos próximos meses, a discussão e a tese de desaceleração econômica (e eventual recessão) pode crescer. Desta vez, contudo, em um ambiente de inflação mais elevada, em que o poder da política monetária será mais limitado (ou totalmente limitado).

 

Os últimos meses foram marcados por abertura de taxa de juros e spreads de ativos de renda fixa nos EUA. Começam a surgir algumas oportunidades no mercado de crédito privado, mas ainda vejo espaço para deterioração adicional. Não gosto do risco/retorno da bolsa dos EUA nos atuais níveis.

 

Me parece que houve um ajuste técnico importante de sentimento e posição em março, após um começo de ano bastante conturbado. Acredito que os primeiros dias de abril serão fundamentais para “sentir” a dinâmica e o humor do mercado, passado este ajuste.

 

A despeito dos rumores na Ucrânia, não há nenhum evento concreto que me confirme que estamos próximos do final do conflito. A volatilidade do mercado de commodities ao longo do mês foi extremamente elevada. No geral, o nível de preços desses ativos continua elevado. Gosto do Ouro para composição dos portfólios.

 

Na China, a pandemia ainda é um desafio de curto-prazo, enquanto o país ainda lida com os problemas estruturais no mercado imobiliário. Há uma disposição do governo em dar alguma sustentação e sinalização mais positiva para alguns setores da economia. Isso vem dando suporte, por exemplo, as ações de tecnologia chinesas na segunda metade do mês de março. Gosto estruturalmente da tese (China Tech), mas entendo que será um longa a tortuosa jornada.

 

No Brasil, o grande destaque das últimas semanas ficou por conta da sinalização de que estamos muito mais próximos do final do ciclo de alta da Taxa Selic. Isso ajudou a curva de juros, em especial a parte intermediária da curva, dando ímpeto as ações mais dependentes da economia doméstica e sensíveis aos juros, especialmente na segunda metade do mês de março.

 

Confirmado o pico da inflação (ainda um grande ponto de interrogação), estes movimentos ainda me parecem ter espaço para continuar. Sigo gostando, por preços, valuations e posição técnica, da bolsa do Brasil e no mercado local de juros.

 

No mercado de câmbio; os juros mais elevados, o fluxo para bolsa e para renda fixa; e o pagamento de alguns deals de Investimento Estrangeiro Diretos (IED) estão dando forte impulso a valorização da moeda.

 

“Contra fluxo, não há argumentos”. Difícil, neste momento, prever até onde este movimento poderá ir. Modelos econométricos apontam para mais espaço de apreciação do Real. Com nossos juros chegando ao seu pico, e os juros americanos começando a subir, parte deste ímpeto pode ser perdido, ao longo do tempo. Não tenho opinião sobre o câmbio no curto-prazo e prefiro uma postura mais neutra.

 

Não fizemos mudanças relevantes de alocação nas últimas semanas. Aproveitamos a recuperação de alguns ativos de risco ao longo do mês (Câmbio, Ibovespa e S&P) para começar a estruturar, novamente, algumas proteções de médio-prazo (2 a 4 meses) nos portfólios.

 

Ainda espero um ano onde irá imperar a volatilidade dos ativos internacionais, sem grandes movimentos direcionais. O Brasil ficará suceptível a essa volatilidade, mas os valuations e posição técnica devem trazer uma defesa importante para nossos ativos.

 

*As análises e opiniões são pessoais e não representam, necessariamente, uma visão institucional.

 

Dan H. Kawa

CIO TAG Investimentos

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