Risk-Off!


Os ativos de risco estão apresentando forte movimento de “risk-off” essa manhã, após os EUA divulgarem uma lista de mais cerca de US$200bi em produtos chineses que podem ser passivos de novas taxações de importação. Continuo vendo um cenário extremamente desafiador à frente tanto no tocante ao panorama externo como interno, como podemos ver abaixo nas notícias do dia.
Confesso que não gosto de basear meus portfólios e meu cenário em cima de eventos de pouco poder de previsão, onde tenho pouca vantagem comparativa, como a política comercial dos EUA. Assim, eu mantenho o que já falei aqui outras vezes (https://mercadosglobais.blogspot.com/2018/07/update.html)
A mídia internacional está dando grande enfoque a “guerra comercial” iniciada pelos EUA contra a China e seus potenciais desdobramentos de agora em diante. Os mercados continuam mostrando baixa reação ou precificação a estes movimentos, vendo estes desenvolvimentos apenas como um meio de negociação, para que os EUA cheguem a termos, ou acordos, mais vantajosos ao país. Eu tendo a acreditar que o objetivo final seja esse, mas que talvez o caminho até lá não seja tão benigno como poderíamos imaginar anteriormente. Com a economia dos EUA robusta, um mundo que se mostra saudável e o preços dos ativos de risco, especialmente nos EUA, em níveis elevados, o pano de fundo para o Governo Trump insistir em sua postura de maior confronto nunca pareceu tão favorável. Além disso, as últimas pesquisas qualitativas em torno de seu governo mostram uma melhor na percepção da sociedade em relação a sua administração, o que é extremamente importante as vésperas das “Mid Term Elections” que irão se realizar em novembro. Assim, não podemos descartar a continuidade de uma postura de maior confronto, com uma possibilidade dos mercados financeiros, em algum momento, serem os responsáveis por disciplinar Trump e seu governo, com uma forte reação negativa a sua política.

No tocante ao pano de fundo econômico, que julgo mais importante a longo-prazo, continuo observando sinais de aperto do mercado de trabalho, o que ficou ainda mais evidente com a divulgação do JOLTs Job Openings de maio ontem, nos EUA. O Morgan Stanley trouxe uma avaliação qualitativa interessante do indicador:

Data releases in the US this morning confirmed the message of stronger economic growth in Q2 from recent PMI, auto sales and employment data. NFIB small business confidence beat the consensus estimate in June despite declining slightly relative to its May level. Underlying detail highlighted strength in employment components and the potential for an acceleration in wages due to a lack of skilled labor. Both the "% of firms with positions not able to fill right now" and "% of businesses with few or no qualified applicants for job openings" indices rose to their strongest reported levels in the history of the NFIB survey. Consistent with this message today’s JOLTS data for May, when including revisions, revealed that the number of job openings comfortably exceeded the number of unemployed for a third straight month. Despite concerns about the impact trade tensions may be having on the economy, there is little evidence in the data (yet) that activity levels have been impacted. The bigger concern in the near term may be how well the economy can perform given the lack of desired and available labor.

No Brasil, com o governo enfraquecido, o Congresso aprovou algumas medidas de impacto fiscal negativo, enquanto a pauta econômica de reformas ficou de lado. Segundo o Estado:

O Senado aprovou ontem proposta que revoga decreto do presidente Michel Temer e mantém benefícios tributários para a indústria de refrigerantes na Zona Franca de Manaus. Os incentivos foram cortados para bancar parte da fatura de R$ 13,5 bilhões do “bolsa caminhoneiro”, pacote de subsídios dado pelo governo para reduzir o valor do diesel e pôr fim à greve no setor de transporte de cargas. O texto ainda precisa passar pela Câmara, mas a equipe econômica entende que o ato é ilegal e vai trabalhar para derrubá-lo.
O benefício vai tirar R$ 740 milhões das contas públicas em 2018. Esse é um dos itens da pauta apelidada por fontes da área econômica de “farra fiscal”. Como o Estado mostrou em 23 de junho, às vésperas das eleições, o Congresso abriu a porteira para projetos que dão benefícios a alguns setores ou que resultam em perdas de receita, sem nenhum tipo de compensação.

Ontem, os senadores também aprovaram projeto que vai “resgatar” empresas que foram excluídas do Simples Nacional no início do ano. Essas 312,2 mil companhias perderam direito ao regime tributário mais benevolente porque deixaram de cumprir suas obrigações, inclusive de pagamento de tributos, mas podem ganhar nova chance graças à iniciativa do Congresso Nacional. O texto segue para sanção presidencial. O Comitê Gestor do Simples Nacional, presidido pelo secretário da Receita, Jorge Rachid, já emitiu parecer contrário à medida.

Segundo apurou a reportagem, há o temor no governo de que a medida seja considerada renúncia fiscal, já que as empresas excluídas deveriam passar a contribuir pelo regime de lucro real ou lucro presumido, pagando mais tributos. Pelo projeto, elas voltariam ao Simples no meio do exercício, com obrigações tributárias menores.

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